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NOTÍCIAS 2002

Líder até o limite

Quando o fim se aproxima, como se comporta o seu time?

Sérgio Buaiz (*)
Colaborador

Velocidade é uma palavra de ordem. A concorrência tem mais recursos, mais capital e está alguns passos na dianteira. O barco começa a virar e a tripulação discute sobre as opções que restam, para salvar a viagem e, principalmente, suas peles.

Nesse momento, um marujo salta ao mar levando um bote que salvaria outros três, e começa uma discussão entre os "ainda" sobreviventes do provável desastre, cada vez mais amedrontados com a experiência.

De repente, outro marujo se lança ao mar, levando mais um bote e mantimentos. Os traidores não pensam em ninguém e a situação para os que ficam é cada vez mais crítica. Tubarões famintos começam a rondar o barco e as ondas são cada vez maiores. Pelo rádio, são alertados que uma grande tempestade se aproxima. Não há qualquer possibilidade de socorro nas próximas 24 horas.

O que fazer? Como controlar o medo? Como manter a tripulação restante unida e comprometida com seu melhor desempenho coletivo? Como evitar que novas tentativas desesperadas e isoladas desperdicem os últimos recursos que têm, comprometendo ainda mais esse quadro? Como superar as condições adversas e celebrar um novo amanhecer em segurança, em companhia daqueles que confiam em você?!

Não desperdice a sua última chance - Quem nunca atravessou uma situação tensa como essa, não sabe o que é viver no ambiente corporativo. Quem nunca se preparou para controlar emoções até o limite, cairá bem antes que este limite se aproxime. O ser humano médio costuma sofrer por antecipação e entregar os pontos antes da hora, desperdiçando as últimas chances que efetivamente tem, para reverter um quadro negativo.

Infelizmente, é o que acontece na maioria das vezes, quando as companhias são comandadas por pessoas que nunca atravessaram uma tormenta. São pessoas que se acostumaram com a fartura e o cenário favorável, que não conseguem manter o mesmo nível de energia, entusiasmo e excelência diante de um cenário adverso.

Entretanto, muitas tragédias poderiam ser evitadas se essas pessoas aprendessem que o “final” quase sempre é relativo. Quando um ponto final é colocado, normalmente existe ar e recursos extras para mais alguns passos, porém a maioria das equipes se deteriora antes que esses recursos adicionais sejam empregados.

O desespero de situações limítrofes costuma minar crenças e capacidades da maioria das pessoas, reduzindo uma equipe extremamente vitoriosa a um punhado de pessimistas, amedrontados e impotentes que jogam a toalha antes do fim, porém tudo isso pode ser contornado com uma verdadeira liderança.

Os resultados podem ser bem diferentes se o líder do grupo tiver preparo, coragem, respeito e credibilidade junto aos seus comandados, para promover uma mudança total de foco e estimular a superação individual de todos em prol de uma causa coletiva.

Se a equipe for de qualidade e estiver realmente comprometida com a superação dos desafios, controlando suas emoções e trabalhando arduamente para vencer cada obstáculo, é praticamente impossível que o barco vire. Se todos acreditarem na capacidade do grupo e confiarem uns nos outros, apoiando-se mutuamente para manter uma atmosfera de entusiasmo até o limite, eu repito: é praticamente impossível que o barco vire!

Confiança é fundamental - Alcançar esse grau de excelência individualmente não é fácil, mas bastam alguns cursos de motivação, uma boa dose de auto-estima e consciência de suas habilidades para evitar que o desespero tome conta das emoções antes da hora.

Entretanto, quando a sua excelência isolada é insuficiente para salvar o chão em que você pisa e o teto que te protege, as coisas mudam completamente de figura. Surgem pensamentos do tipo: "E se eu fizer tudo certo e o João falhar com o prazo?", "E se a Maria resolver implicar com minhas idéias justamente agora?", "E se o Carlos não der tudo de si, como disse que vai dar?", "E se eu acabar carregando o grupo nas costas?", "E o meu reconhecimento, como vai ficar?"

É por isso que o líder precisa contar com uma boa dose de respeito e, sobretudo, credibilidade diante dos seus comandados. É preciso confiar e inspirar confiança nos outros jogadores, pois se houver qualquer preocupação nesse sentido, a equipe não terá o foco necessário para concentrar todos os esforços na mesma direção.

As interrogações e os "ses", que surgem naturalmente em situações críticas como essa, precisam ser derrubados por uma crença fortalecedora de que tudo sairá conforme o combinado.

Todos devem ter certeza de que vão cooperar e serão recompensados com uma nova chance, créditos e reconhecimento quando a crise for superada. Caso contrário, a equipe não estará suficientemente confiante, empenhada e comprometida com os resultados coletivos.

Aqueles que não estiverem seguros do resultado coletivo tendem a dedicar parte do seu tempo e potencial para buscar soluções que salvem individualmente suas peles, antes que o limite chegue de verdade. Isso acaba reduzindo em muito as chances da vitória coletiva.

Por isso, o grande desafio de qualquer executivo de sucesso é garantir que sua equipe irá permanecer unida, motivada e confiante, se empenhando ao máximo, até o limite.

(*) Sergio Buaiz é publicitário e escritor, autor do livro "Marketing de Rede - A Fórmula da Liderança", diretor de Projetos da Comunidade BeFriends, membro do conselho editorial da revista Vencer! e embaixador da Universidade do Sucesso.