NOTÍCIAS 2002
Revitalização profissional
Mário Persona (*)
Colaborador
Magaly fechou os olhos e apertou o botão "play" de seu
DVD mental. Na tela 3D que se formou atrás da testa, viu passar o filme que registrava seus vinte anos de experiência como
decoradora de renome, entrecortados por comerciais de revistas como Casa Vogue, Casa Cláudia, D&D ou Casa e
Jardim. As mesmas que tantas vezes estamparam seu nome em matérias sobre os sofisticados ambientes que ajudara a criar.
A projeção terminou numa reconfortante penumbra mental que convidava à reflexão. Era hora de
parar. Realizada profissionalmente, tinha uma vida tranqüila e boas recordações das conquistas profissionais do passado.
"Não!" - ecoou uma voz vinda de algum canto da sala de projeções de sua mente. Surpresa,
seus olhos perscrutavam as órbitas tentando descobrir de onde vinha o som. "Vai jogar fora a experiência que acumulou?", insistiu a
voz. "Vai!", respondeu outra voz, entrando na discussão. "Não vai querer competir com a nova geração de decoradores que está
chegando aí, vai?", insistiu em tom de desafio. "Vou e não vou!" - agora, era ela quem falava.
Naquele momento, Magaly decidia se reinventar. Fechou novamente os olhos para assistir
"Conhecimento Acumulado". Depois viu "Ambientes Sofisticados", só para recordar suas melhores criações. "Iluminação", "Formas e
Volumes", "Cores e Texturas", se sucederam. Por fim, um documentário das viagens e da experiência adquirida no exterior. Viu uma luz
acender na sala de projeções mentais. "Preciso revitalizar tudo isso", pensou consigo. "Revitalizar! Era a palavra que procurava!"
Parar ou reiniciar? - Cedo ou tarde, essa discussão ocorre na cabeça de todo
profissional. De um lado, a acomodação sugere que é hora de considerar o fim da carreira. Uma insinuação do tipo, "Saia agora, que
está no auge..." Do outro, o espírito empreendedor resiste, e acha possível uma nova produção. Quando o último vence, surge um novo
profissional. Uma inovação que não está fundamentada no ímpeto de uma juventude apenas informada, mas na calma segurança de uma
experiência consolidada.
É longo o caminho que vai da mera informação ao conhecimento. Qualquer um é capaz de se
informar e repetir o que nunca aprendeu. Porém, é preciso mais do que isso para criar uma ponte sináptica que vença a fenda que
separa os neurônios e inicie um namoro entre a informação visitante e a residente. Para dar à luz um novo saber, o conhecimento, que
só o tempo e a experiência de vida podem transformar em sabedoria. É claro, se o profissional estiver disposto a imitar a natureza e
se revitalizar.
Foi pensando em cérebro e natureza que Magaly Opice descobriu um nicho a ser explorado.
Revitalização de showroom e ambientes corporativos. Não é na revitalização constante que estão as surpresas da natureza? E acaso não
são essas surpresas causadas pelo inesperado, que não dá trégua ao cérebro e o impede de recorrer às percepções armazenadas como
forma de economizar sinapses?
Novo negócio - Da observação das
pessoas, com seus sentidos aguçados em ambientes revitalizados, nasceu sua técnica. Que virou paixão e negócio, e a levou a
revitalizar-se a si mesma. Comprou um micro, dominou a máquina, iniciou seu novo negócio e lançou seu nome e marca na Internet:
www.magalyopice.com.br. A partir de então, passou a surpreender os cérebros que circulam
pelos show-rooms e ambientes corporativos que levam sua grife.
Peter Drucker conta que seus antepassados foram gráficos em Amsterdã, de 1510 a 1750, e que
durante todo esse tempo não precisaram aprender nada de novo, pois nada mudava. Hoje, mudança é o estado permanente. Mais do que
reciclar, como fazemos com o lixo e a sucata, é preciso se revitalizar, como fazemos com o ouro polido ou o diamante lapidado. Usar
recursos atuais para tornar a mente brilhante com seu tesouro de conhecimento acumulado.
O próprio Drucker faz isso até quando prefere ser chamado de "insultor", ao invés de
"consultor", tão instigantes são suas indagações a quem o consulta. Até hoje atrai milhares de ouvintes ao expor suas idéias de
gestão de negócios. Se tivesse parado de se revitalizar na década de vinte, quando estudava Direito na Alemanha, ou na década de
trinta, quando os nazistas queimaram seus escritos, talvez estivesse hoje igualmente saudável e lúcido para falar. Mas ninguém iria
querer ouvir.
(*)
Mário Persona é consultor, escritor e
palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio
na Web, onde seus textos estão disponíveis. |