NOTÍCIAS 2002
Celulares do futuro: onde está o mercado?
A chegada da nova geração de aparelhos celulares, os chamados
2.5G, com múltiplos recursos de comunicação como WAP, SMS e bate-papo, tem sido celebrada pela mídia e pelo mercado como sinais da
definitiva modernização tecnológica do consumidor brasileiro. O fato de existir um número de telefones celulares maior do que fixos,
por exemplo, entusiasma os protagonistas do setor, muitos dos quais costumam projetar linearmente essa tendência. Anunciam, assim,
um futuro de plena democratização da comunicação móvel, segundo pesquisa produzida pela
Market Analysis Brasil e divulgada em seu boletim eletrônico trimestral
Feedback - edição Verão 2002.
O otimismo é tal que hipotetiza-se o fim da brecha digital entre cidadãos conectados e
desconectados, não pelo aumento no número de computadores nas casas e escolas dos excluídos, nem pela ação governamental de tornar
os correios locais com acesso à rede, mas a partir da massificação dos novos aparelhos celulares.
O futuro pode até vir a ser tudo isso no longo prazo, porém, antes, é preciso entender parte
da dinâmica que condiciona a compra dos novos modelos, assim como a substituição do aparelho por pessoas que já possuem celular. A
atitude do consumidor perante a novidade da geração 2.5G é, sem dúvida, central para entender o potencial e as limitações
existentes. E os estudos destas atitudes revelam um grau não desprezível de gradualismo, produto tanto de limitações financeiras
como de uma empolgação tênue com as novas tecnologias.
Mesmo no rico Brasil urbano das grandes metrópoles como São Paulo, nem todos os que já
possuem telefone celular detêm os recursos financeiros para a aquisição do mais sofisticado dos modelos. E mesmo o usuário que tem a
capacidade monetária, nem sempre está disposto a abraçar uma novidade logo de cara. É por isso que devemos pensar que as novidades
tecnológicas se deparam perante 4 grupos de consumidores-usuários:
Os conservadores sem
recursos, que por atitude e renda insuficiente se auto-marginalizam do mercado - como tal constituem a periferia do setor,
irrelevante financeiramente e hostil aos novos produtos como consumidores. Eles são minoria, apenas 17%;
Os retardatários,
isto é, aqueles com recursos para adotar o novo celular, porém sem interesse por novidades tecnológicas. É sua visão como
consumidor, e não sua posição financeira, que os exclui do mercado. Poderiam pagar por um aparelho da nova geração, mas não têm
interesse naquilo que é apresentado como "vantagem" do novo aparelho. Eles são maioria, 51%, e são a verdadeira pedra no caminho da
modernização do sistema telefônico móvel;
Os ansiosos,
consumidores que abraçam a novidade tecnológica mas carecem dos fundos para adquiri-la. São ideologicamente consumidores potenciais,
e poderão cruzar a fronteira se as condições materiais assim o permitirem. Eles somam só 6% do mercado;
Os pioneiros,
aqueles a favor das novas tecnologias e com capacidade de compra - condições que os tornam o grupo mais receptivo à modernização
celular - são pouco mais de 1 em cada 4 consumidores, ou cerca de 26% do total.
Cada um destes segmentos tem um peso relativamente diferente e, à medida que este balanço
não mudar para uma pluralidade maior de pioneiros - ora tornando os produtos mais acessíveis para o grupo de "ansiosos", ora
entendendo melhor o que faz um "retardatário" ser assim e quem, nesse grupo específico, é menos intransigente à possibilidade de
conversão a certas inovações próprias do novo modelo - as perspectivas de uso massivo dos aparelhos 2.5G permanecerão limitadas.
A exuberância tecnológica da nova proposta de telefonia móvel encontra, portanto, um mercado
real que é apenas um terço do que poderia ser. Precisamente, quase a mesma proporção de usuários que revelam uma probabilidade de
substituição do seu telefone atual.
Concluindo, a nova geração de telefonia celular tem um mercado certo pela frente entre os
usuários de hoje, mas este é apenas um terço do total. A verdadeira expansão deverá vir através de uma maior persuasão entre aqueles
ainda "sem celular", ou de uma compreensão mais efetiva da percepção de tecnologia entre os atuais consumidores de telefonia móvel. |