NOTÍCIAS 2002
Ativos e passivos na contabilidade pessoal
Marcos Antunes (*)
Colaborador
Era tão simples que demorei a aprender; e mais ainda: a entender!
Aos quatorze anos de idade, eu cursava o primeiro ano do Colégio e o curso técnico de
Contabilidade, na minha cidade. Depois de algumas provas, estava ansioso demais para saber a minha primeira nota na prova de
contabilidade. Mal sabia que seria a primeira nota mais baixa, até aquele momento, na minha vida: tirei 1,5.
O professor olhava para mim, inconformado, e dizia: "Como pode tirar uma nota tão baixa?
Você não aprendeu nada do que eu ensinei... Certamente não conseguirá terminar o curso!"
Depois desse "incentivo", só me restava o conforto de ouvir o meu amigo Ricardo, que dizia: "Você
tirou uma nota três vezes maior que minha! É isso mesmo! Eu tirei 0,5 na mesma prova!"
Depois de uma longa conversa com meu amigo, decidimos estudar, para valer, a matéria do
bimestre. Era somente sobre os Ativos e os Passivos. Não podia ser tão difícil assim, classificar as contas de uma empresa fictícia
e descrevê-las. Era isso que o professor queria; então ele iria obter de nós a resposta. Estudamos, decoramos, aprendemos. Tiramos
boas notas, passamos para o segundo e depois para o terceiro ano.
E no terceiro ano, conhecemos um professor muito "simplório". Vestia calça jeans desbotada,
camisa xadrez e calçava botinas; aquelas mesmas que você está imaginando. E nos dizia que Contabilidade era muito fácil e que iria
facilitar a nossa vida e a nossa compreensão do mundo. Sim, ele facilitou muito as nossas vidas; não precisávamos mais descrever as
contas, só classificá-las.
Eu gostaria de explicações mais fáceis para entender e classificar as Contas. Nossos
professores, porém, apenas liam o que estava nos livros e nos passavam os conteúdos, com os exemplos que lhes foram passados. E o
que eles nos transmitiam, nós aprendíamos.
Aprendemos e nos formamos em técnicos contábeis. Mais tarde, ingressei na Faculdade. Aprendi
mais sobre Contabilidade; aprendi mais Contas, classifiquei mais Contas. Algo, no entanto, parecia escapar-me na Contabilidade. Algo
que não me ensinavam...
Um passivo ativo - Pouco antes de
me formar em Economia, estudando por conta própria foi que eu entendi, realmente, o que escapava à minha percepção. Ensinaram-me que
os Ativos geram receita, ou seja, dinheiro; e o Passivo gera despesas, contas a pagar.
Mas o que não me ensinaram, e o que muitas pessoas não sabem, por falta de inteligência
financeira, é que devemos comprar ativos para não passarmos por apuros financeiros. Devemos identificar, na prática da nossa vida
cotidiana, o que são os ativos e o que são os passivos; e, é claro, comprar ativos e não passivos.
É simples: passivo é o que gera despesas. Por exemplo: se você junta um dinheiro ou toma
emprestado esse dinheiro (o que é pior, porque depois terá que pagá-lo com juros, o que é mais uma despesa), para comprar um passivo
que vai gerar mais despesas ainda. Olha que mal negócio você fez!
Se ao contrário, você compra ativos, por exemplo: conhecimentos em primeiro lugar, ações,
títulos, promissórias, imóveis, propriedade intelectual etc., gera uma renda. E isso sim, é um bom negócio! Aprenda a ser
inteligente financeiramente e compre ativos! Eu só percebi isso, quando olhei a contabilidade a serviço do indivíduo e não apenas
sob o prisma da empresa.
Tal noção conceitual, no entanto, coloca-se em ambos os sentidos. Empresas que investem em
passivos, julgando que sejam ativos, logo estarão pagando por sua falta de inteligência financeira. Com os países acontece a mesma
coisa: grandes investimentos, e quando se dão conta, investiram em passivos. E haja panelas para o povo bater...
É bom saber que o ser humano aprende com os erros. Meu amigo Ricardo errou mais do que eu na
nossa primeira prova de Contabilidade, mas aprendeu mais do que eu. Há mais de cinco anos trabalha no Escritório de Contabilidade,
numa cidade vizinha à nossa, com o mesmo professor, que nos dera notas baixíssimas no primeiro ano. Se não me engano, forma-se em
Ciências Contábeis, ainda esse ano.
Para quem tirou 0,5 na primeira prova de Contabilidade, nada mal... nada mal...
PARÁBOLA
Sons Inaudíveis
Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre, com o objetivo de prepará-lo
para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um
ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.
Retornando ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que
conseguira ouvir. Então disse o príncipe: "Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos
beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus..."
E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para ouvir
tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando: "Não entendo, eu já distingui
todos os sons da floresta..."
Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distinguir
nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre. Porém, certa manhã começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que
ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz.
Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse..."
E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria ter certeza de que estava
no caminho certo. Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.
Paciente e respeitosamente o príncipe disse: "Mestre, quando prestei atenção, pude ouvir o
inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite..."
O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse: "Ouvir o inaudível é
ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus
sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender
o que está errado e atender às reais necessidades de cada um.
"A morte de uma relação começa quando as pessoas ouvem apenas as palavras pronunciadas pela
boca, sem se atentarem no que vai no interior das pessoas para ouvir os seus sentimentos, desejos e opiniões reais. É preciso,
portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado do ser humano..."
(*) O economista
Marcos Antunes é palestrante, professor de Inteligência Financeira, consultor financeiro de empresas e
proprietário da Potencial.com, empresa que oferece serviços de design,
tecnologia, treinamento, mercadologia e consultoria para Internet. |