NOTÍCIAS 2002
Desculpe. Foi e-Engano
Mário Persona (*)
Colaborador
Todos cometemos gafes, até chefes de estado. Alguns pelo
simples fato de se candidatarem. No funeral de Charles De Gaulle, Richard Nixon declarou ser aquele um grande dia para a França.
Jacques Chirac disse estar contente por receber o presidente do México, Fernando Henrique Cardoso. E Dan Quayle, ex-vice dos EUA,
deu tantos foras, que só podia mesmo dizer: "Mereço respeito pelas coisas que não fiz".
Mas não é só falando que cometemos gafes. Meu tio, fazendeiro, se arrependeu de ter levado
um peão para jantar num restaurante de luxo. Primeiro, o homem atacou de garfo e faca aquele rolinho de guardanapo fumegante.
Depois, tomou duas colheradas da lavanda. Se tivesse um velório por perto, um tipo assim teria entrado, assoprado as velas, cantado
parabéns e cortado o morto.
Também já cometi outras gafes, além de escrever crônicas. Das férias de infância em Águas da
Prata, me recordo do almoço na casa do filho de um rico empresário de São Paulo. Fiz tudo direitinho, imitando o que os outros
faziam, até chegar a sobremesa: mangas descascadas. Ainda imitando, deixei de lado os talheres de prata e segurei a lisa com ambas
as mãos.
Segurei não, apertei. Com força para disfarçar as mãos trêmulas. Vupt! Depois de bater em
meu pescoço, como bola na trave, a manga fez gol na gola da camisa. O século seguinte eu passei caçando uma manga que fugia sob
minha roupa. Ao som nada aristocrático das gargalhadas dos comensais.
Com a tecnologia, o dano causado por nossas gafes ganhou um palco. No filme, o palestrante
vai ao banheiro com o microfone de lapela ainda ligado, para o delírio da platéia. Como a vida imita a arte, também já fiz isso no
intervalo de uma palestra. Felizmente desliguei a tempo, e meu público pôde continuar dormindo sossegado.
Correio eletrônico - O e-mail foi inventado para cometermos gafes a nível
global. Não é difícil esse garoto eletrônico de recados levar a mensagem para a pessoa errada. Ou para a multidão errada. Nos EUA,
um relatório reservado sobre problemas mentais e de disciplina, de quarenta cadetes de uma academia da força aérea, foi parar na
caixa postal dos outros 4.400 cadetes.
Enviar um e-mail é como espirrar. Você nunca sabe quem irá contaminar. Qualquer um
pode, por engano ou má fé, remeter um e-mail seu para todos os habitantes deste planeta. Ou de outro, se a pessoa que você
criticou morar lá.
Mas gafes de e-mail são cometidas também por pessoas bem-educadas que desconhecem
regras de etiqueta na Internet. Costumo receber e-mails de pessoas que GRITAM COMIGO porque não sabem que escrever com
maiúsculas é GRITAR. Outras são rudes em suas brincadeiras, porque desconhecem que a palavra escrita não vai acompanhada da
expressão facial que está dizendo: "É brincadeira".
E os boatos! Quanta gente cai e passa adiante! Dinheiro grátis, celular de brinde, vírus
letais, roubos de órgãos, crianças doentes. Confira antes de replicar. Cada vez que você passa adiante uma informação falsa, sua
reputação vai junto. Se o boato envolver pessoas ou empresas, você ainda corre o risco de sofrer um processo. Algumas empresas já
adotam medidas preventivas para evitar o mau uso de seus endereços corporativos. Uma é a adição, no rodapé da mensagem, de uma nota
eximindo a empresa de qualquer responsabilidade, caso o funcionário utilize mal o e-mail.
Outras procuram instruir seus funcionários para os riscos de se enviar mensagens para a
pessoa errada. Quando isso acontece, usam uma mensagem padrão, que é enviada ao funcionário que cometeu a gafe. Uma espécie de puxão
de orelha eletrônico. Guardei uma que diz:
"Considerando que o endereço 'todos@......' é distribuído a todos os funcionários da
empresa, inclusive diretoria e gerentes, da próxima vez TOME MUITO CUIDADO quando enviar uma mensagem. Envie seu e-mail
apenas à pessoa interessada e só envie a outros quando REALMENTE existir interesse coletivo".
Essa bronca chegou à minha caixa postal e a princípio não entendi a razão. Escrevi ao
remetente, perguntando de que se tratava e, no dia seguinte, recebi um e-mail com um pedido de desculpas. Explicava que a
mensagem era para ter sido enviada a outro Mario.
(*)
Mário Persona é consultor, escritor e
palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio
na Web, onde seus textos estão disponíveis.
N.E.: No dia seguinte à distribuição desta crônica, o próprio autor
teve que repetir, para uma lista de debates sobre negócios, com 700 participantes, a frase que dá título ao artigo: por engano,
enviou a essa lista um texto em inglês com passagens bíblicas, destinado a outra lista de debates de que ele também participa:
Assunto: [widebiz] #997 - Nehemiah 3 - February 8, 2002
Data: Fri, 08 Feb 2002 11:25:30 -0200
De: Mario Persona
<mpersona@widesoft.com.br>
Para: widebiz@yahoogrupos.com.br
Assunto: [widebiz] OOPS!!! Casa de ferreiro....
Data: Fri, 08 Feb 2002 11:33:38 -0200
De: Mario Persona
<mpersona@widesoft.com.br>
Para: widebiz@yahoogrupos.com.br
pessoALL,
Mil perdões! Estou vermelho!!! Depois de escrever a crônica de
ontem sobre cuidados na hora de enviar e-mail, acabo de levar um baita de um míssil em meu orgulho.
Sem querer, enviei meu boletim diário Chapter-a-Day para
widebiz@yahoogroups.com quando era para enviar para
chapter-a-day@yahoogroups.com (:(
Vou acrescentar essa gafe à minha lista.
Mario Persona |
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