NOTÍCIAS 2002
O spam da consciência
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
Tema recorrente em praticamente todas as listas de discussão,
defendido por muitos e repreendido por outros tantos, o spam segue crescendo como uma praga na Internet, seja como forma de
divulgação, seja como assunto, seja como problema real.
A verdade é que não adianta reprimir somente com leis, punições ou o que for, pois a maioria
dos adeptos dessa prática tem pouco ou nada a perder. E mesmo que
o envio não-solicitado de e-mails a partir das empresas seja coibido, é praticamente
impossível impedir que um usuário anônimo o faça em nome de qualquer causa, inviabilizando a punição de quem possa ser o
beneficiado.
Ao mesmo tempo em que a repressão ao spam ainda é questionada juridicamente e os
defensores da "mala"-direta eletrônica seguem vitoriosos em suas queimadas, o mal cresce de maneira silenciosa e já começa a trazer
transtornos para um bom número de usuários.
Parece simples... - É muito comum ver pessoas de boa índole defendendo o uso de
spam por não enxergarem os transtornos que ele pode causar. Isso acontece porque, se analisado individualmente, o spam
realmente causa pouco ou nenhum dano ao destinatário. Teoricamente, uma mensagem publicitária bem recheada ocupa no máximo 30 kb, o
que não é nada se considerarmos as caixas postais de 2 Mb, 5 Mb ou um HD inteiro para arquivá-la. Além do mais, basta um clique no
botão "apagar" para se livrar de um e-mail considerado inútil.
Entretanto, aos desavisados, vale alertar que o comércio das listas de e-mails não
pára de crescer e o número de mensagens indesejáveis está crescendo assustadoramente. Se, hoje, você recebe 5 mensagens indesejáveis
por dia, é provável que o número cresça para 10, 20 ou 50 no período de um ano. Em poucos
anos, serão possivelmente centenas.
Que sejam 100 mensagens por dia. Ok! Então, teremos 3.000 Kb e 100 cliques para nos
livrarmos das tais mensagens. Hummm... mas como saber que uma mensagem é
indesejável sem abri-la? Pelo assunto? Sim, mas os praticantes de spam estão cada vez
mais espertos e bem-assessorados. É provável que você receba esses e-mails tão personalizados quanto aqueles que recebe dos
seus amigos mais próximos. Ou seja, só descobrirá que o conteúdo delas é inútil depois de abri-las uma por uma. Quantos segundos
você levará para avaliar cada mensagem? Faça você mesmo as contas que achar melhor.
Não estou querendo decidir por você, mas é importante que reflita sobre essas questões antes
de tomar partido nessa polêmica.
Estou convicto de que falar sobre o spam como problema técnico não é uma solução.
Afinal, já é sabido que o aumento no envio indiscriminado de e-mails gera mais custos para todos os provedores, além de
promover demoras na entrega das mensagens e a ocupação desnecessária de espaço, mas ninguém deixará de fazer
spam por "pena" dos provedores de acesso.
Aliás, falando em custos, é importante ressaltar que o e-mail difere das
malas-diretas impressas nos quesitos "custo de envio" e, conseqüentemente, "proporção". Quem envia mala-direta impressa, paga,
enquanto quem envia e-mail não-solicitado, não. Ou seja, todos podem enviar milhões de mensagens indesejáveis por e-mail,
amplificando o mal-estar causado por mensagens não-solicitadas.
... mas não é - Receber meia-dúzia de impressos pelo correio é considerado aceitável,
mas seria se fossem centenas por dia? Milhares? Qual seria a sua capacidade de avaliar 1.000 cartas promocionais por dia? Como você
encontraria aquela carta pessoal de um parente distante em meio a uma pilha de 1.000 cartas querendo lhe empurrar qualquer produto?
Se imprimir e enviar malas-diretas fosse grátis, quantas você enviaria?
Viu? O problema é o mesmo, mas as dimensões são outras. Por isso, comparar mala-direta
impressa com spam é ser, no mínimo, inocente demais.
Como você pode perceber, o problema não está na mensagem em si, mas na viabilidade do
recurso "e-mail". Todos gostam e querem usar seus e-mails, e o
spam é uma ameaça potencial a todas as caixas postais, podendo inviabilizar o seu uso em
poucos anos.
Veja pelo meu ponto de vista:
Você concorda que o seu e-mail é um bem muito precioso na nova economia? Que o
e-mail é a nossa referência dentro dessa imensa rede chamada Internet?
É através do nosso e-mail que amigos, contatos e parceiros de negócios nos reconhecem
e, principalmente, nos encontram. O e-mail é a porta de entrada da Internet, para o que há de mais importante no mundo
atualmente: os relacionamentos.
Para quem usa a Internet profissionalmente, ser obrigado a trocar de e-mail é a coisa
mais grave que pode acontecer. É sinônimo de muita dor de cabeça e, provavelmente, muitos prejuízos.
Não estou falando de um e-mail pessoal que você divulgou para uns 200 amigos, que
estão na sua lista de contatos. Estou falando de um e-mail que foi divulgado publicamente para todos os seus contatos,
leitores, empregadores ou que estava naquele velho cartão de visitas, entregue a centenas de clientes potenciais etc.
O e-mail é quase uma marca pessoal na Internet. Seu e-mail é a garantia de
comunicação que você precisa nos dias de hoje. Por isso, ele precisa ser preservado!
Para um escritor, como eu, não existe bem mais precioso que o e-mail, pois ele serve
como canal de comunicação direta com meus leitores. Através do e-mail, recebo críticas e sugestões que podem me auxiliar no
desenvolvimento profissional.
Estou na Internet há seis anos, ativamente. Participei de muitas listas e divulguei meus
trabalhos em muitos lugares, sempre acompanhado de um e-mail. Isso me abriu muitas portas e vem sendo um fator determinante
no desenvolvimento da minha carreira como escritor.
Entretanto, por ser tão ativo e ter meu e-mail publicado em muitos sites, o que
aconteceu? Fui incluído na maioria das listas de spam que circulam por aí, passando a receber pelo menos uns 50 spams
por dia, vendendo coisas que não me interessam.
Junto com essas mensagens não-solicitadas, recebo contatos de pessoas que leram meus textos
em algum lugar, algum dia, e querem se relacionar comigo. Ou seja, não posso desativar esse e-mail. É meu patrimônio! É a
referência que os meus leitores têm!
O que eu faço agora?!
Gostaria que aqueles que defendem a "liberdade" de enviar e-mails me ajudassem a
resolver esse problema, que cresce a cada dia.
Percebo que o problema vem aumentando muito rápido nos últimos meses e que logo transformará
minha caixa postal em um inferno, me obrigando a abandoná-la. Só que, abandonando minha caixa postal de 5 anos, estarei abandonando
um passado de 5 anos, uma referência preciosa, que construí com muito sacrifício.
Para minimizar ou adiar esse transtorno, trabalho atualmente com 8 caixas postais para
assuntos variados, mas há um limite físico para isso também.
Pense nos sites em que me cadastrei ao longo desse tempo. Para aqueles que eu uso
freqüentemente, eu lembrarei de informar a mudança, mas e aqueles sites
que não uso sempre? Como saber todos os sites que devo atualizar? Vou perder essas contas????
Meu histórico?
Que eu me lembre, sou cadastrado no Yahoo, Terra, Invent, BeFriends, ViaGlobal, Egroups,
Dotz, emotioncard, Starmedia, Vencer, Wwwork, Submarino... e os outros? Devem ser mais uns 30, pelo menos, que eu não me lembro
agora. Ah! Registro.br, Banco Real, Bradesco, Itaú...
Faltou organização? Talvez. Eu devia ter uma lista de todos os sites que têm meus e-mails
cadastrados e todas as senhas, mas não tenho.
Sinceramente, não imaginava que isso fosse crescer tanto e eu seria obrigado a trocar de
e-mail.
Abandonando esse e-mail, considerando a média de 50 spams por dia, e mais as
mensagens úteis, se eu ficar algumas semanas sem limpar, a caixa postal será lotada
e eu perderei, pra sempre, esses contatos. Além de muitos e-mails úteis e interessantes
pra mim, particulares e desejados.
Moral da estória: perderei os e-mails que eu quero e preciso receber, por causa de
todos esses e-mails que eu jamais pedi para receber, de remetentes que não me
reconhecem e apenas sabem que sou um número, um cliente potencial para qualquer coisa, que não
tem cara nem história.
Isso me faz concluir que receber e-mails não solicitados é perder o seu direito de
escolha.
Hoje, estou ciente de que sou uma exceção. A maioria ainda não sente na pele esse problema,
pois as dimensões são menores. Entretanto, se a Internet continuar crescendo economicamente, e se todos se tornarem profissionais
mais atuantes na Internet, certamente irão deparar com esse problema um dia. E talvez seja tarde demais também. Talvez precisem
abandonar seu e-mail de 5 anos, perdendo com ele toda a sua história na Web.
Pense nisso!
(*)
Sergio Buaiz é
publicitário e escritor, autor do livro "Marketing de Rede - A Fórmula da Liderança", diretor de Projetos da
Comunidade BeFriends e membro do Conselho Editorial da Revista Vencer! |