Os nós do marketing
alternativo
Mário Persona (*)
Colaborador
Há
um bom tempo não atualizo meus micros. Estou vacinado contra a pressão
da atualização. Já tive de tudo em casa. Meus primeiros
micros tinham tão pouca capacidade que faziam jus ao nome. Os arquivos
eram salvos em fita cassete e recuperados com sorte.
Antes dos atuais Pentiums, tive MSX,
Apple, PC XT, 386 e 486 desfilando em minha mesa. Sempre pedindo mais memória,
maior capacidade de disco, maior velocidade de modem e o mais recente software.
Que, por sua vez, pedia mais de tudo isso, em um círculo vicioso.
Minha última aquisição
foi a Internet a cabo. Um sistema tão inteligente que, ao perceber
que eu precisaria de isolamento para escrever esta crônica, interrompeu
minha comunicação com o mundo exterior. Está há
horas fora do ar.
Tem suas vantagens. Evita que eu
veja os banners oferecendo máquinas de última geração,
com trocentos megahertz e um quaquilhão de gigabytes. Que minha
memória volátil irá esquecer em um nanosegundo, se
não apelarem para fórmulas mais criativas de marketing.
Sim, há novas fórmulas.
Que são antiquíssimas, já que trabalham com os ancestrais
ingredientes do relacionamento humano. Existem antes de Charlton Heston
interpretar Moisés e são mais futuristas do que sua atuação
como astronauta no primeiro Planeta dos Macacos.
O marketing tradicional segue
a fórmula hollywodiana de propaganda maciça na TV antes do
lançamento do filme. Em seguida vêm os anúncios grandes,
médios e pequenos, nesta ordem e à medida que o tempo passa.
Enquanto isso artistas dão entrevistas, garantindo que o filme será
maravilhoso, está fantástico e foi incrível. Agora
jaz nas locadoras.
Uma campanha assim consome milhões
de dólares, deixando fora do mercado quem tem só uma idéia
na cabeça e uma câmera na mão. De vez em quando aparecem
os criadores de uma "Bruxa de Blair" para provar que existe mais de uma
maneira de se fazer marketing. E conseguem fazer um filme de cinqüenta
mil dólares faturar duzentos milhões usando a Internet e
pessoas como meio de divulgação.
Cineastas desaparecidos -
Nada de propaganda em TV, jornais ou entrevistas com estrelas. Mesmo porque
as estrelas do filme foram dadas como desaparecidas. Começaram contratando
uns cem estudantes para distribuir panfletos sobre outros três estudantes.
Os perdidos do filme.
Mais informações sobre
o desaparecimento? Era só acessar o site na Internet. Ali, no mais
puro estilo imprensa-marrom, anunciavam que três estudantes desapareceram
quando tentavam filmar uma bruxa. Só acharam a fita de vídeo.
Em breve nos cinemas.
Foi o suficiente para gerar o boca-a-boca.
E mais de 115 milhões de visitas ao site, levadas por e-mails
de amigos ou listas de discussão. Expectativa, impacto, inquietação,
boatos. Faltava gerar escassez para aumentar o valor e o desejo. O que
foi feito limitando a vinte e sete o número de cinemas na estréia.
O suficiente para criar filas e atrair a imprensa.
A fórmula funcionou por explorar
novas formas de relacionamento social. Hoje a Internet traz de volta ao
cinema mais gente que O Vento Levou. Isto quando se consegue explorar a
cadeia infinitamente maior de relacionamentos que as pessoas têm
nas salas onde buscam uma projeção virtual.
Neste recinto, o conselho pessoal
ganha em exibição, enquanto as mentes vão fechando
as portas à propaganda convencional. Esta semana recebi um e-mail
numa linguagem tão pessoal que quase acreditei que viesse de um
amigo. Falava das dificuldades que teve ao usar um serviço de Internet
que também utilizo, e decidiu fornecer o mesmo serviço para
os amigos. Apesar de artificial no conteúdo, a mensagem era eficiente
na forma. Apelava para o pessoal.
As mudanças atingem o trabalho.
Enquanto as empresas trocam seus quadros internos por colaboradores externos,
a cadeia de fornecedores de produtos e serviços fica tão
pulverizada que já não pode arcar com os custos de um marketing
convencional. São profissionais e empresas incapazes de divulgar
suas marcas nos moldes tradicionais.
Para estes cai como uma luva a fórmula
do relacionamento pessoal. O que em inglês se chama networking,
um sistema informal onde pessoas de interesses comuns se ajudam, trocam
informações e fomentam relações profissionais.
Como a velha e conhecida rede de pescar. Uma estrutura de aparência
frágil, cheia de furos, mas que pega peixões graças
aos seus pequenos nós. Nós criados por nós.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |