Por um perfil de utility
para a videoconferência
Mauro Koraicho (*)
Colaborador
O inexorável
crescimento do mercado de videoconferência é uma realidade
que se vem reafirmando, há cerca de cinco anos. E agora, mais do
que nunca, não apenas em conseqüência dos atentados de
Nova Iorque, mas por um movimento, que já existia,
de progressivo amadurecimento da tecnologia, oferta de links adequados
e o aumento da economia de escala.
Afinal, assim como o surgimento do
telefone permitiu forte redução de contatos físicos
e a recente explosão do e-mail impactou a movimentação
de envelopes e reduziu até o contato telefônico, é
mais do que natural a previsão de um uso massivo de videoconferência,
à medida em que ela vai se tornando um utility (N.E.: produto
utilitário) corriqueiro como água, luz e telefone. Esta é
a tendência mais compatível com a boa lógica dos negócios
que se beneficiarão das facilidades práticas, da economia
e do conforto que são inerentes ao sistema.
É bem verdade que a recente
banalização de devices (N.E.: periféricos de computador)
de baixíssimo custo, como estas toscas "soluções"
de webcams com webfones ajudam mais a afugentar o público
da videoconferência (devido à sua qualidade decepcionante)
do que efetivamente a promover a popularização do sistema.
Expectativa - Mas, o avanço
das plataformas profissionais baseadas em IP (N.E.: Protocolo Internet)
também já vai se tornando visível, sendo cada vez
mais sustentável a expectativa de que, nos próximos anos,
a videoconferência venha a substituir milhões de horas de
vôo e funcionar como duto captador de grande parte dos investimentos
que fugirão dos setores de aviação civil e hotelaria
de negócios.
Com efeito, quatro semanas após
aos episódios do WTC e do Pentágono, a demanda de videoconferência
no Brasil saltou do patamar histórico de 300 sessões mensais
(com taxa de crescimento anual da ordem de 200%); para cerca de 900 sessões,
segundo estimativas do mercado. Para as operadoras de longa distância,
esta migração de recursos poderá representar receitas
da ordem de US$ 30 milhões ao ano já no exercício
de 2001, considerando um movimento total do setor da ordem de US$ 200 milhões
- incluindo-se aí um percentual de 5%, que fica dividido entre o
setor de equipamentos e o setor de serviços.
O nicho específico de serviços,
aliás, vem superando significativamente as recentes altas do setor,
uma vez que a locação de salas públicas de videoconferência
(ambientes dotados de infra-estrutura e links para a conexões nacionais
e internacionais) registrou crescimento da ordem de 200% nas sete principais
capitais brasileiras, desde o incidente de 11/9/2001 até a segunda
quinzena de 10/2001.
Crescimento - Nos Estados
Unidos, por seu turno, os institutos de pesquisa dão conta de uma
alta da ordem de 375% para o nicho de locação de salas. De
modo que toda esta movimentação conduz o Wainhouse Research
a apontar para o setor de videoconferência uma escalada que vai dos
atuais US$ 600 milhões ao ano, para cerca de US$ 1,4 bilhões
em quatro anos, o que, segundo a nossa ótica, ainda parece uma estimativa
bem modesta.
Modesta ou realista, vale o prognóstico
de que a videoconferência nunca mais irá abandonar o ritmo
de avanço, ainda que as circunstâncias do medo e da guerra
contra o invisível venham a arrefecer nos próximos anos.
Aos prestadores de serviços,
como nós, e aos fabricantes de infraestrutura, cabe agora a tarefa
de transformar a economia de escala em benefício adicional para
um consumidor já propenso à compra do produto.
Às operadoras de telecomunicações,
por sua vez, cabe a responsabilidade de ampliar rapidamente suas capacidades
de conexão e gerenciamento de conteúdos ricos, de modo a
reforçar cada vez mais o perfil da videoconferência como utility.
(*) Mauro Koraicho
é presidente da HQ Global Workplaces Brasil, da capital paulista. |