Você lembra de mim?
Resgatar velhas amizades pela
Internet pode ser um passatempo útil e divertido
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
Ultimamente,
um dos assuntos mais comentados por todos os brasileiros é a péssima
campanha do Brasil nas eliminatórias da Copa do Mundo. Felipão
é o terceiro técnico a assumir o comando da seleção,
depois que Luxemburgo e Leão fracassaram. E o Brasil, que manteve
a liderança no ranking da Fifa por quase 10 anos, recentemente
foi superado pela França, atual campeã do mundo, campeã
da Europa e campeã da Copa das Confederações.
Quem diria? França jogando o
melhor futebol do mundo. Que absurdo! Agora, nas peladas de várzea
e nas escolinhas de futebol, os garotos não querem mais ser Zico,
camisa 10 da amarelinha. Preferem o 10 da camisa azul francesa, de Zidane.
Mas há 15 anos era diferente: o Brasil, comandado por Telê
Santana, tinha Zico, Falcão, Sócrates e Careca. A seleção
brasileira jogava bonito e era respeitada. Tudo era... tudo era... bem,
nem tudo era... deixa pra lá. Brasil e França... nem é
bom lembrar, né?
Já lembrou?! Putz! Eu também...
que chato. Voltamos a 1986, dia 21 de junho. Estádio Jalisco em
Guadalajara, México. Brasil e França disputam uma partida
emocionante para decidir quem continua
vivo na Copa do Mundo. O jogo está empatado em 1 a 1. Zico, ainda
recuperando-se de uma contusão, é poupado e só entra
no segundo tempo... nossa maior esperança! Nem aqueceu direito e
já foi bater um pênalti... uma chance de ouro. Bats! Bah!
O goleiro da França, em tarde inspirada, pega o pênalti. Disputa
de pênaltis: Júlio César perde, Sócrates perde...
e o Brasil é eliminado da Copa. A quarta Copa do Mundo seguida.
A minha segunda grande decepção... marcante e inesquecível.
Aos 11 anos de idade, eu morava no
Rio de Janeiro, Rua 18 de Outubro, Tijuca. Estávamos no playground
do prédio, assistindo ao jogo. A criançada na maior expectativa...
festa preparada. Se vencesse, o Brasil estaria nas semifinais, em busca
do tão falado tetra. Na época, eu nem sabia direito o significado
daquilo, mas tinha álbum de figurinhas dos jogadores e passeava
com meus pais para ver a decoração das ruas. Ruas pintadas,
bandeiras penduradas... tudo verde e amarelo!
Lembranças como essa são
muito fortes. Apesar da derrota, guardo com carinho aquela época...
O engraçado é que não
tenho a mesma lembrança de 1990, quando perdemos para a Argentina.
Em 1994, quando a seleção de Parreira conquistou o tetra,
lembro, mas não me toca. Em 1998, nem pude ver o jogo direito (acho
que fui o único brasileiro do mundo que não soube dos problemas
do Ronaldinho). Eu estava em Bellevue, nos Estados Unidos, participando
de um curso. Só vi o segundo tempo do jogo, no bar do hotel... cercado
de franceses! Humpft...
O que isso tem a ver? Eu explico.
Foi de propósito! Eu queria reavivar um pouco a sua memória
antes de começar “realmente” este artigo. Afinal, o tema de hoje
tem a ver com nostalgia.
Resgatando o passado - Pare
um pouco de ler esse artigo e tente se lembrar um pouco dos momentos que
descrevi. Se preferir, lembre de outras Copas do Mundo que acompanhou.
As últimas foram: 1978-Argentina, 1982-Espanha, 1986-México,
1990-Itália, 1994-Estados Unidos e 1998-França.
Se não gosta de futebol, faça
o teste usando as Olimpíadas como referência: Moscou-1980,
Los Angeles-1984, Seul-1988, Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sidney-2000.
Você também pode lembrar
das Diretas Já, Rock in Rio, Impeachment ou Plano Cruzado. Lembre
de qualquer data marcante em que houve mobilização popular
e você acompanhou de perto. Essas datas facilitam o trabalho da memória.
Lembrou? Escolha algumas datas mais
marcantes para você e comece a lembrar o que fazia. Onde você
morava? Onde trabalhava? Estudava? O quê? Aonde? Namorava? Era casado?
Quais pessoas faziam parte da sua vida naquela época? Quem era seu
melhor amigo? Em muitos casos, só é possível lembrar
de datas do passado quando associamos a algum “evento” marcante.
As Copas do Mundo e Olimpíadas
são boas para refazer a linha do tempo porque acontecem periodicamente,
de quatro em quatro anos. Tempo suficiente para mudar bastante as nossas
vidas...
Repare que, em cada fase dessas,
você se viu cercado por pessoas diferentes. Alguns familiares e amigos
muito próximos aparecem várias vezes, mas eu tenho certeza
que alguma pessoa “especial” foi lembrada sem querer. E é sobre
isso que vamos falar.
Amigos de verdade - É
curioso refletir sobre o passado. Ao longo dos meus 26 anos, tive vários
“amigos de verdade”, que foram muito importantes em alguma fase da vida
e depois seguiram seus caminhos.
Hoje, é possível olhar
pra trás e perceber com carinho quem fez parte da nossa história.
Ao fazer esse exercício, é comum se surpreender com a quantidade
de nomes que vêm à mente.
Quer um exemplo? Vou escrever agora,
de bate-pronto, todos que eu lembrar, que foram realmente importantes em
alguma fase da minha vida. Outros lembrarei com mais calma depois:
Fábio, Leonardo, Frederico
e Rafael do Colégio Cinco; Alessandro, Eduardo, Ronaldo, Patricia
e Mariana do Marista São José; Cláudio, Luiggi, Maurício,
Alan, André, Douglas, Daniel, Ricardo, Affonso, Marcos e Ney dos
tempos de banda; Rodrigo, Cacau, Íris, Adriana, Cláudio,
Alessandra, Alexandre, Leandro, Mauro e Sergio do Colégio Van Gogh;
Mário, André e Rodrigo de Marketing de Rede; Luciano, Raphael,
Humberto e Ednaldo dos jornais; Luciana, Marcos, Flávia, João
Marcelo, Daniela, Daniele e Andréa da 18 de Outubro; Felipe, Leonardo,
Aline e George da Conde de Bonfim; Zé Maurício, Nágela,
Letícia, Carla, Patricia, Ana Paula, Andinho, Flávia e Christian
da Tijuca; Fabrício, Nick, Claudinha, Thaís, Carla, Adriana,
Renata e Denise da faculdade... a lista não tem fim!
Certamente, não lembrei de
todos que mereciam foto em minha “galeria de honra pessoal”, nem classifiquei
corretamente todos (alguns me acompanharam em mais de uma fase), mas serve
como exemplo.
Vale ressaltar que só inclui
nessa lista as pessoas que foram realmente próximos. Na maioria
confidentes ou íntimos o suficiente para contar piada, fazer careta,
viajar junto etc. Além desses, ainda lembrei de outros 200 ou 300
conhecidos que gostaria de reencontrar para um chope!
Se investir nessas recordações,
posso chegar facilmente a 500 conhecidos diretos e talvez uns 1.000 indiretos,
que poderia reencontrar para uma sessão nostalgia. Sem contar nos
outros 2.000 que lembro as feições e trocaria um sorriso,
por serem parentes ou amigos de um amigo do amigo...
Parece exagero, mas não é!
Esta é a quantidade de pessoas que passaram por mim em salas de
aula, salas de cursos, colegas de trabalho, clube, eventos sociais, viagens
etc. Pessoas que conversaram comigo, com certa freqüência e
intimidade, por uma semana ou mais. Acompanharam minhas atitudes em situações
pessoais, sem o escudo profissional que colocamos quando precisamos colocar
a cara a tapa no mercado.
Sei que este talvez seja um exemplo
um pouco distorcido, pois, apesar de ter sido muito tímido até
os 15 anos de idade, acabei fazendo várias atividades públicas.
Entretanto, sei que ainda poderia ser bem mais sociável e busco
diariamente exercitar minhas relações.
O fato é que qualquer um de
nós, internautas em pleno século XXI, poderíamos listar
uns 500 nomes de pessoas que passaram por nossas vidas com alguma importância
e se afastaram por qualquer motivo. Pessoas que também nos conhecem
em maior ou menor grau...
Faça uma lista de todas essas
pessoas. Mantenha uma lista delas e sempre acrescente nomes quando lembrar.
Tente saber o que elas estão fazendo, onde estão morando...
busque os contatos através de amigos comuns e vá desfiando
todas as relações que puder. Estas pessoas são preciosas.
São contatos positivos que perderam efeito pela distância,
mas que rapidamente podem ser resgatados e transformados em amizades sólidas!
A Era dos Relacionamentos
- Ainda se fala muito em Era da Informação e Era do Conhecimento
para classificar o que estamos passando agora, mas eu considero essas referências
ultrapassadas. Afinal, informações e conhecimentos isolados
não fazem mais sentido e não têm qualquer valor.
Estamos na Era dos Relacionamentos,
onde o bem mais precioso que temos são os contatos, as amizades
e o networking positivo, cultivado ao longo de toda a nossa vida...
Amizades são elos importantes
de ligação. Amizades abrem portas e divulgam necessidades!
Amizades mobilizam! Amizades nos dão credibilidade. Não estou
falando de amizade comprada, nem amizade por interesse... por favor! Estou
falando de amizade real, sincera, construída sobre os alicerces
sólidos da ética, da solidariedade e da atitude positiva.
Portanto, não adianta ter
contato com um milhão de conhecidos, que vêem você como
um parasita ou oportunista. Se você conseguir isso, estará
em maus lençóis.
O que vale é a imagem positiva
que as pessoas têm de você e de suas atitudes. Por isso os
amigos do passado são tão importantes. Eles acompanharam
a sua formação quando você não tinha qualquer
noção desse jogo de interesses que é a vida. Você
gostava deles porque gostava e pronto! Não tinha motivos para manter
uma amizade que não valia a pena.
Quando somos crianças e adolescentes,
fazemos nossas escolhas em função de valores mais subjetivos.
Somos mais sensíveis e sabemos escolher melhor quem merece o rótulo
“amigo”.
Tudo o que fazemos entre os 8 e 18
anos de idade é muito poderoso. São lembranças muito
fortes e vívidas, pois até a maioridade as nossas prioridades
são sócio-culturais. É quando desenvolvemos melhor
o nosso networking e fazemos o que realmente nos dá prazer.
Depois disso, costumamos entrar na maratona de ganhar dinheiro e nos esquecemos
um pouco desse lado pitoresco da vida, das amizades, das brincadeiras...
Por serem agradáveis, as lembranças
dessa fase são mais claras. Depois, deixamos a vida perder um pouco
o brilho e os anos correm mais rápido. É um erro que todos
cometemos...
Sendo assim, da mesma forma que lembramos
dos nossos amigos de infância com carinho, é natural que eles
sintam o mesmo em relação a gente. Por isso, perder esses
elos é perder grandes tesouros!
A Internet pode trazê-los
de volta - Esse artigo deveria ser sobre Internet, mas eu não
resisti. Afinal, insisto que ela não é técnica, e
sim humana. A Internet é apenas um instrumento poderoso que temos
ao nosso alcance, para melhorar nossas vidas. Para organizar essa rede
de relações humanas invisíveis que todos sempre tiveram,
mas que nunca foi tão compreensível e poderosa.
O e-commerce é interessante?
As informações da Internet são boas? Os serviços
são úteis? Facilita a vida? Agiliza o trabalho? Sim! Mas
a minha paixão pela Internet tem mais a ver com os relacionamentos.
E agora ficará muito fácil entender a importância da
Internet em mais essa necessidade: resgatar velhas amizades.
Aos poucos, os brasileiros vão
entrando na rede. Alguns são iniciantes e ainda estão se
adaptando, mas as últimas pesquisas afirmam que 10 milhões
de brasileiros já estão conectados. E a maioria tem e-mail...
Existem vários sistemas de
busca de pessoas na Internet, onde você pode pesquisar seus velhos
amigos por sobrenome, data de nascimento, cidade... indico a Lista Pública
de E-mails do UOL (http://cf5.uol.com.br/listapub/index.cfm),
o CadêVocê (http://www.cadevoce.com.br)
e o Quem (http://www.quem.com.br).
Além disso, é possível
achar pessoas também pelo ICQ, um software de comunicação
instantânea que permite às pessoas trocarem mensagens através
da Internet. Esse sistema virou uma febre em todo o mundo e tem milhões
de cadastros. Através do seu sistema de busca, você pode encontrar
alguém (http://www.icq.com/search/email.html).
Outro sistema muito útil é
o Alunos (http://www.alunos.com.br/),
onde você pode pesquisar alunos de uma determinada escola, no mesmo
ano e série em que você estudou. E você também
pode deixar registrado o seu e-mail, de modo que outros alunos possam
encontrá-lo depois!
Os sites de genealogia também
são interessantes e viraram mania entre os americanos. No Brasil,
ainda estão um pouco tímidos, mas vale a pena se inscrever
(http://www.genealogia.com.br
e http://www.genealogy.com). Através
desses sistemas, você pode organizar sua árvore genealógica,
ajudando a resgatar a história da sua família. Além
de deixar um registro para as gerações futuras, isso permite
a descoberta de outras ramificações de primos distantes através
de antepassados comuns.
Em último caso, tente os serviços
de busca mais conhecidos: Yahoo,
Google,
Cadê ou qualquer outro da sua
preferência. Seus amigos podem ter sites pessoais divulgados ali
também.
Não tenha pressa e nem desanime.
Talvez você entre nesses serviços hoje e não encontre
ninguém. Afinal, ainda somos poucos na Internet e a maioria nem
sabe da existência desses serviços de busca pessoal.
Vale dizer que não adianta
procurar por João da Silva. Existem muitos homônimos e provavelmente
você vai encontrar no mínimo uns 20 por aí. Portanto,
dê preferência aos nomes diferentes e sobrenomes marcantes.
Se encontrar algum resultado, a probabilidade é maior de estar certo!
Vá garimpando em busca do
tesouro e deixe suas marcas no caminho. Cadastre seu nome e e-mail
em todos os sistemas. Se possível, crie um site pessoal com seu
nome completo e e-mail de contato. Existem vários portais
que oferecem espaço gratuito por aí (o HPG é uma boa
dica - http://www.hpg.com.br). Lance
sua garrafa ao mar...
Quando encontrar alguma pista, envie
um e-mail se apresentando. Conte como você o encontrou através
da Internet e confirme se é a mesma pessoa... se ele confirmar,
compartilhe suas lembranças e pergunte o que está fazendo
da vida, quais contatos ainda mantém etc. Cada pessoa encontrada
será uma pista importante para as descobertas seguintes.
Daquela lista acima, já reencontrei
mais de 10 pessoas pela Web... e isso é muito bom! A partir delas,
consegui outros 30 contatos e estou sempre garimpando quando posso.
Uma vez encontrados seus amigos,
procure manter uma lista de endereços atualizada em seu programa
de e-mail e uma cópia impressa, para o caso de dar pane em
seu computador. Além disso, mantenha contatos periódicos
para fixar, aos poucos, os laços de amizade.
Não seja chato nem ausente.
Cultive um bom relacionamento com mensagens úteis e positivas!
Esses reencontros podem trazer ótimas
lembranças e... ah! Antes que eu me esqueça. Se você
me conheceu um dia, se é primo do vizinho do meu cunhado, ou se
me viu, de relance, passando em frente àquela padaria... escreva:
meu e-mail é sbuaiz@yahoo.com.
(*) Sérgio
Buaiz é publicitário
e escritor. |