Como dar nó em gravata e
abotoar o paletó
Mário Persona (*)
Colaborador
Era difícil
não chamar atenção. Num calor de quase quarenta graus,
eu era o único a circular de paletó, gravata e maleta James
Bond naquele subúrbio do Rio. Vindo de São Paulo, minha missão
era descobrir o proprietário de um imóvel que a empresa queria
adquirir. Evitando ao máximo chamar atenção.
O que sobrava em pose, faltava em experiência.
Eu e o emprego éramos novos. Mas estava motivado a desempenhar bem
meu papel naquela "Missão Imobiliária". Sentia-me o próprio
Bond. James Bond.
Mas não havia armas na maleta.
Nem documentos secretos. Ela mais parecia uma matrioska, aquelas
bonecas russas ocas que trazem dentro outras bonecas russas ocas. Dentro
da maleta havia outra maleta. Pequena, de plástico descartável.
A lancheirinha do vôo da ponte-aérea. Que a criança
em mim guardara de lembrança.
Minha investigação
acertou na mosca. Ou no bicheiro, que descobri ser o dono do imóvel.
Alguém sussurrou que ele freqüentava uma oficina, no fim da
rua. Um salão escuro, meio abandonado. Cheio de carros velhos e
sem conserto. Tomei coragem e entrei. Acompanhado só dos olhares
de quem ficou na rua. Porque meu terno e gravata continuavam a chamar atenção.
AIDA - Quem compra não
deve chamar tanta atenção quanto quem vende. Aí sim,
vale invocar todas as técnicas de promoção. Inclusive
a velha receita AIDA. As iniciais de Atenção, Interesse,
Desejo e Ação. Algo que Robert Collier sabia aplicar muito
bem em seus textos publicitários.
Autor de um clássico, "The
Robert Collier Letter Book", dominava como ninguém a arte de escrever
cartas comerciais e mensagens publicitárias. Que atraíam
atenção, despertavam interesse, estimulavam desejo e levavam
à ação. Na contracapa de sua revista, publicada na
década de vinte, vinha algo mais ou menos assim:
"Como saber se estou trabalhando
direito? - é a dúvida de muitos. Há uma regra simples
para descobrir. Até uma criança consegue. É só
fazer a si mesmo uma pergunta. Se a resposta for 'Sim', você está
no caminho errado. Nunca irá progredir, enquanto não passar
para o caminho certo. Se a sua resposta for 'Não', então
está na direção certa. É só permanecer
nela até alcançar o que deseja. Esta pergunta é o
fundamento do que será publicado no próximo número
da revista. Se quiser um mapa seguro, encomende já o seu exemplar".
O texto atrai, desperta o interesse,
estimula o desejo e... pára! Não diz qual é a pergunta
mágica. A mensagem habilmente passa a bola para você, que
deve fazer algo com ela. Após criar o ambiente e as condições
propícias, exige de você uma ação. O clímax
de qualquer esforço de venda.
Outra característica da mensagem
é que trata de um assunto de interesse comum. Quem não trabalha?
Quem não tem dúvidas da direção que tomou?
Quem não quer uma fórmula mágica para ter certeza?
É quase impossível não apertar o gatilho da ação.
A mensagem também deixa o
leitor intrigado pelo suspense. Como a técnica que utilizei aqui.
Minha aventura em um subúrbio carioca arrastou você por uma
excursão pelo reino da publicidade. Talvez só pela curiosidade
de saber o que havia naquela oficina escura. Fique tranqüilo. Não
é preciso esperar pelo próximo exemplar. Vou contar.
Lá na oficina - No
fundo havia uma porta. Abri e entrei com a velocidade e a adrenalina de
um jovem que acabara de aprender a dar nó em gravata. Mas que ainda
não tinha levado muitos nós da vida. Só tinha eu em
pé naquela sala ampla e iluminada, com uma mesa quase do tamanho
da sala. E trinta pessoas sentadas, contando pilhas de dinheiro.
Meu terno, gravata, maleta James
Bond e pose de investigador atraíam a atenção de todos
ali. Geravam interesse e despertavam desejo. A atenção pareceu
crescer quando desabotoei o paletó para parecer mais informal. Estava
vivendo na prática o conceito AIDA. Mas foi um AIDA incompleto.
Havia atenção, interesse e desejo. Mas ninguém entrou
em ação. Para abotoar meu paletó.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |