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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/28/13 10:17:15

TERROR NOS EUA
Antraz: o que é a arma da nova bioguerra

Bacilus anthracis é o nome científico da bactéria por trás da mais nova guerra O antraz, ao microscópio (imagem: captura de tela - TV CNN/EUA)biológica, tendo sido constatados vários casos de contaminação propositada de vítimas humanas nos Estados Unidos. Com o nome inglês anthrax ou nas formas latinas antraz e carbúnculo, a bactéria está sendo enviada por terroristas a meios de comunicação e autoridades norte-americanas, na forma de cartas com um pó contendo esse agente de guerra biológica.

Os primeiros casos - incluindo uma morte - foram constatados em 10/2001 em Boca Raton (Florida/EUA), em uma editora de tabloides que criticavam fortemente o principal suspeito dos ataques que destruíram as torres do World Trade Center de New York e atingiram o Pentágono, além de casos suspeitos ocorridos na Europa. No dia 12/10/2001, foi reportado o primeiro caso de antraz em New York, com uma funcionária da rede de televisão NBC. As autoridades já investigavam episódios no Departamento de Estado em Washington/DC e no estado do Colorado e já um mês antes haviam sido colocadas em alerta máximo, proibindo até mesmo o uso de aviões de fumigação agrícola, com receio de um ataque de terrorismo biológico.
Casos de antraz no mundo: raros no Brasil e na América do Norte, mas comuns nos demais países latinos
Na verdade, o antraz em si é até bastante comum em todo o mundo, principalmente nos rebanhos bovino e ovino, registrando-se raros casos de contaminação humana. O receio - até o momento não justificado - é de que a bactéria possa passar por modificação genética em laboratórios especializados, criando-se uma cepa resistente a antibióticos - o que em tese permitiria seu uso como arma mortal. Grupos terroristas e mesmo alguns países chegaram a fazer experimentos com diversos organismos (além do antraz, também as bactérias da peste bubônica, da brucelose e da febre tifoide, a toxina do botulismo e os vírus de varíola e ebola).

Durante a Guerra do Golfo, descobriu-se que cientistas iraquianos tinham produzido Secretário de Justiça dos EUA, John Ashcroft, diz em 12/10/2001 que FBI investigará os casos de antraz (imagem: captura de tela: TV CNN/EUA)oito mil litros de antraz, e em 1995 o governo de Saddam Hussein confirmou a existência de planos para a produção de armas biológicas. Em 1979, ocorreu uma epidemia de carbúnculo com 100 mortes na cidade russa de Sverdlovsk (atual Yekaterinburg), então atribuída à ingestão de carne contaminada, mas em 1992 o presidente Boris Ieltsin reconheceu ter ocorrido a dispersão involuntária da bactéria nas proximidades de uma instalação militar de aperfeiçoamento de armas com agentes patogênicos. Acredita-se que Líbia, Irã e Coréia do Norte também os tenham, numa lista que se supõe que poderia incluir ainda China, Taiwan, Síria, Israel, Índia e Paquistão. Também foi divulgado em 2001 que o grupo terrorista ligado ao milionário Osama Bin Laden manteria laboratórios biológicos no Afeganistão.

Desde 1995 existe o Grupo Ad Hoc, reunindo 50 dos 144 países signatários da Convenção das Armas Biológicas (BWC) de 1972, para tratar das violações a esses acordos. Rússia e Iraque, por exemplo, haviam ratificado o acordo, mas não o cumpriam. A maior dificuldade para o controle dessas pesquisas é a facilidade de camuflar os laboratórios como produtores de remédios e vacinas comuns, implicando em que vários países e grupos podem ter continuado com as pesquisas proibidas.

Por outro lado, a humanidade ainda pode respirar aliviada: espalhar uma peste com mortandade em massa é algo extremamente difícil: requer laboratórios de alta sofisticação para o desenvolvimento de organismos modificados para esse propósito e sua cultura/produção; ainda não há um sistema prático para dispersão desses organismos na atmosfera (na forma de aerossóis). Tanto que a seita japonesa Verdade Suprema, que em 1995 atacou no metrô de Tóquio usando gás sarin (que ataca o sistema nervoso) - causando 13 mortes e 5.000 hospitalizações -, pretendia na verdade usar uma arma biológica, e teve de abandonar as pesquisas pela extrema dificuldade para o desenvolvimento de uma arma eficaz.

Os ataques biológicos nos EUA em 10/2001 demonstram que as organizações terroristas não dispõem de vírus modificados, tanto que os casos diagnosticados a tempo estão sendo tratados com os antibióticos normais para o caso. Explicaram as autoridades sanitárias que no estado atual das pesquisas, as armas biológicas podem causar contaminações de poucas pessoas ou pequenos grupos, com alguns casos de morte isolados, não havendo o risco de mortandade em massa.

Prevenção - Embora os norte-americanos apavorados estejam esgotando os estoques de antibióticos nas farmácias, informam as autoridades que não há tratamento preventivo contra o antraz. As atuais vacinas humanas - aplicadas apenas às pessoas com maior risco de contato com a doença - são eficazes em cerca de 93% dos casos. Se tratado a tempo - antes da observação de sintomas mais agudos -, o paciente pode se recuperar totalmente. A vacina para antraz é Vacina contra antraz (imagem: captura de tela - TV CNN/EUA)produzida e distribuída pela BioPort Corporation, sediada em Lansing (Michigan/EUA), e as vacinas para uso animal não podem ser usadas em seres humanos. Mulheres grávidas só devem ser vacinadas se absolutamente necessário.

A imunização consiste de três injeções subcutâneas aplicadas com duas semanas de intervalo, seguidas por três injeções subcutâneas aplicadas seis, 12 e 18 meses depois. Um reforço anual da vacina é recomendado depois disso.

Diante do quadro criminoso detectado, a recomendação é a mesma para qualquer carta ou pacote suspeito (inclusive as cartas-bomba): não chacoalhar, não abrir ou golpear fortemente, e comunicar o fato a uma autoridade policial. São suspeitos imediatos os pacotes e as cartas sem endereço de remetente e/ou que contenham fios saindo da embalagem, por exemplo. Um motivo de maior tranquilidade para os brasileiros é o bom relacionamento que o Brasil mantém com os países árabes e/ou islâmicos e a imagem favorável de que desfruta nesses países. Porém, não deve ser descartada a ocorrência de atentados terroristas contra instalações dos EUA e de Israel em território brasileiro, por exemplo.
Banda Anthrax anuncia em 12/10/2001 que vai mudar de nome depois de 20 anos...
Na Internet - Existem diversos endereços na Web com informações sobre o antraz. O mais curioso é o site Anthrax, de uma banda de música estadunidense que, em comunicado de 12/10/2001, informa estar mudando de nome (após 20 anos de existência) para algo mais amigável, em razão dos atentados biológicos que estão surgindo nos EUA.

O Departamento de Saúde do Estado de New York possui uma página resumida sobre a doença. Melhor consultar o Center for Disease Control (CDC - centro de controle de doenças dos EUA), que mantém página (N.E.: http://www.cdc.gov/ncidod/dbmd/ diseaseinfo/anthrax_g.htm, indisponível em 2013, vide nota de rodapé)  com explicações mais completas. Explica que é uma doença infecciosa aguda causada pela formação de esporos bacteriológicos do Bacillus anthracis, ocorrendo mais comumente em animais vertebrados domésticos e selvagens (gado bovino, bodes, cabras, carneiros, camelos, antílopes e outros herbívoros), mas também pode ocorrer em humanos expostos a animais infectados ou tecidos (pele, carne) deles originados. Por ser potencialmente usado como arma biológica, o Departamento de Defesa dos EUA ordena que todos os militares envolvidos em conflitos sejam vacinados contra o antraz.

O antraz é comum em animais em regiões agrícolas da América do Sul e Central, partes Sudeste e Leste da Europa, Ásia, África, Caribe e Oriente Médio. Quando afeta humanos, é geralmente devido a uma exposição de trabalhadores a animais infectados ou seus produtos. Trabalhadores expostos a animais mortos e produtos animais de outros países onde o antraz é mais comum podem ser infectados com a forma industrial, mas a forma selvagem já ocorreu nos EUA. A infecção pode ocorrer de três formas: cutânea (pela pele), por inalação e por via gastrointestinal. Os esporos do Bacilus anthracis podem viver no solo por muitos anos e seres humanos podem ser infectados pelo manuseio de produtos de animais infectados ou pela inalação de esporos de antraz de produtos animais contaminados. A doença pode ainda ser contraída pela ingestão de carne contaminada mal cozida.

Sintomas - Ainda segundo o CDC, os sintomas da doença dependem de como ela for contraída, mas normalmente aparecem dentro de sete dias. São extremamente raros os casos de contaminação pessoa-a-pessoa, embora nos casos de doença por inalação seja aconselhável um cuidado maior no contato com os pacientes.

Na infecção cutânea, mais de 95% dos casos ocorrem quando a bactéria entra em um corte ou arranhão na pele, através do contato com produtos contaminados. A infecção começa com um inchaço crescente e prurido, como se fosse uma picada de inseto, mas em um a dois dias cresce como uma úlcera não dolorosa, usualmente com diâmetro de 1 a 3 cm, com uma característica área central negra (necrosada). As glândulas linfáticas próximas tendem a ficar intumescidas. Cerca de 20% dos casos não tratados de antraz cutâneo resultam em morte, mas as mortes são raras quando aplicada terapia antimicrobiana apropriada.

Nos casos de inalação, os sintomas iniciais lembram um resfriado comum, que todavia evolui rapidamente, em alguns dias, para problemas pulmonares agudos e estado de choque. Pode ocorrer uma aparente melhoria por pequeno período. Tais casos são normalmente fatais, principalmente pelo diagnóstico difícil, já que os sintomas são os mesmos de diversas outras doenças comuns. Cultura e coloração de escarro não ajudam no diagnóstico, por ser uma doença mediastinal e não uma pneumonia. Culturas de sangue só dão resultado positivo tardiamente.

A forma intestinal de antraz ocorre após o consumo de carne contaminada e se caracteriza por uma inflamação aguda do trato intestinal. Os primeiros sinais são náuseas, perda de apetite, vômitos, febre, seguida por dores abdominais, vômito de sangue e forte diarreia. Em 25% a 60% dos casos, o antraz intestinal resulta em morte.

O antraz é diagnosticado pelo isolamento do bacilo do sangue, de lesões da pele ou de secreções respiratórias, ou pela aplicação de anticorpos específicos ao sangue de pessoas sob suspeita de contaminação. O tratamento é feito com antibióticos (penicilina e tetraciclina) e tem mais chances de sucesso quanto mais rapidamente for iniciado. São raros os casos de recontaminação de indivíduos que sobreviveram à doença.

Em português - A pesquisa por palavras-chave como [carbúnculo] e [antraz] revela algumas páginas produzidas em países de língua portuguesa. Em Cabo Verde, a Cabonet (N.E.: http://cabonet.cv/Taca/antraz.htm, indisponível em 2013) noticia em 7/8/2001 que seis pessoas na ilha tiveram diagnóstico confirmado dessa doença.

Em Portugal, uma página específica de uma série sobre microbiologia é uma boa fonte de consulta. Explica que "o tratamento deve ser começado com antibióticos e deve-se ter cuidado intensivo ao primeiro sinal da doença. Historicamente, penicilina era o tratamento de escolha para antraz. Porém, na ausência de informação relativa a sensibilidade antibiótica, o tratamento recomendado atualmente é ciprofloxacin 400 mg IV a cada 8-12 horas ou doxycycline 200 mg IV seguido de 100 mg IV a Logo da página portuguesa sobre o antrazcada 12 horas, junto com tratamento de suporte em unidade de terapia intensiva. Antibióticos também são usados como tratamento de pós-exposição dentro de 24 horas e antes de iniciar os sintomas e proteger as pessoas assintomáticas depois de exposição de esporos de antraz de aerossóis. Se uma exposição de antraz é descoberta, e tratamento antibiótico é confirmado, tratamento com antibiótico oral deve ser iniciado imediatamente, utilizando-se ciprofloxacin 500 mg ou doxycycline 100 mg duas vezes por dia durante pelo menos 30 dias. Uma vez expostos, os indivíduos assintomáticos também têm que receber pelo menos as primeiras 3 doses de vacina de antracis".

As mesmas informações (inclusive com a mesma redação) também estão disponíveis na página brasileira EstudMed (N.E.: http://www.estudmed.com/microbiologia/ bacillus_antracis.htm, indisponível em 2013). Já a análise dos casos de antraz em animais pode ser vista na página Carbúnculo Hemático, no site Saúde Animal.

No Brasil - A situação do antraz no Brasil é apresentada neste quadro divulgado pela World Health Organization Collaborating Center for Remote Sensing and Geographic Information Systems for Public Health, mostrando não haver casos registrados da doença humana pelo menos nos últimos treze anos:

Probable status of anthrax occurrence is sporadic.
Species

FAO

OIE

Vaccination Program

Year

Outbreaks

No. cases

Cases/
million

Vaccinated

Population

Bovine

-

-

V*

89 
-
.
.
7,509,050 ¹
135,726,280 
. . . .
90 
-
.
.
18,209,000 ²
136,287,443 
. . . .
91 
-
.
.
11,274,000 
140,845,976 
. . . .
92 
-
.
.
11,352,275 
143,949,319
.

(+)

. .
93 
20 
84 ³
0.6 
11,935,550 
144,154,103 
. .

+()

.
94 
90 
141 
0.9 
9,653,873 
151,600,000 
.

()

. .
95 
+
.
.
408,368
152,700,000 
. .

(+)

.
96 
<0.1
.
154,322,471 
.

(1996)

. .
97 
-
.
.
.
154,322,471 
Ovine/
Caprine

(+)

(+)()

V*

90 
400 
13.1 
.
30,651,474 
. . . .
91 
17 
0.5 
.
31,397,590 
. . . .
92 
0.2 
.
31,910,000 
. . . .
93 
-
.
.
.
31,710,481 
. .

+?

.
94 
0.2 
.
32,700,000 
. .

(+)()

.
95 
15 
0.4 
.
33,200,000 
. .

(1992)

.
96 
-
.
.
.
32,115,438 
. . . .
97 
.
.
.
.
32,115,438 
Swine

-

-

*

92 
-
.
.
.
33,015,038 
. . . .
93 
-
.
.
.
33,015,038 
. .

(1993)

.
94 
-
.
.
.
30,450,000 
. .

(+)()

.
95 
0.1 
.
32,100,000 
. .

(1994)

.
96 
-
.
.
.
34,532,168 
. . . .
97 
.
.
.
.
34,532,168 
Human . . .
88 
.
. . .
. . . .
93-94
.
. . .
¹ Total national production of vaccine.
² Total national production of vaccine.
³ Clinical diagnoses, not laboratory confirmed.
† Total production was 9,940,566 doses.

Essa organização apresenta mapas e estatísticas sobre a doença em todo o mundo, o World Anthrax Data Site. Segundo essa organização, o caso mais recente de antraz humano foi registrado no estado norte-americano do Texas, em 7/2001, simultâneo com casos dessa doença em animais no Canadá (província de Alberta) e no Tajiquistão e no estado norte-americano de Minnesotta. O antrax humano também teve alguns casos registrados em 2001 no Casaquistão, na Índia, na Rússia e no Quirguistão.

A doença é considerada altamente endêmica no Peru, endêmica em Chile, Argentina, e Bolívia, não ocorrente nas Guianas e no Suriname e esporádica nos demais países [*].

Veja mais:
Especial NM - Terror nos EUA

N.E.: Novo endereço de página sobre sinais, sintomas, vacina e tratamento do antraz:

Thanks to Mrs. Mari Hernandez, outreach director, Center for Behavioral Health Statistics and Quality (CBHSQ), who sent information about broken link, in 28/3/2013.

As demais informações desta matéria foram mantidas na forma como foram originalmente publicadas em outubro de 2001.