Brincando de gato e rato
Mário Persona (*)
Colaborador
Tirei uma
fatia da pizza das pesquisas de alguns institutos
norte-americanos* e percebi que o caroço começa a ficar
maior que a azeitona. Os dados que engoli causaram um certo desconforto
dentro de mim. Uma sensação de pressão crescente.
Algo que parece aumentar cada vez mais, sem que haja uma saída fácil.
Serão gases?
Não. São os índices
da credibilidade de empregados para com seus empregadores. Numa fatia descobri
que um em cada três empregados não confia no empregador. Dois
terços consideram desonesta a comunicação interna
das empresas. Enquanto isso, 13% se sentem intimidados, molestados ou com
medo. Nesse relacionamento de Tom & Jerry, os números mostram
que boa parte dos ratos desconfiam dos gatos.
A cobertura pode ser diferente, mas
a massa adotada pela maioria das empresas tem sido a mesma. Aquele blá-blá-blá
de lealdade que só serve para intumescer os ventres da equipe. Bombeia-se
um oba-oba de patriotismo laboral que o empregado polidamente segura, ao
menos enquanto circula na empresa. Mas que se transforma em altissonante
insatisfação quando está ao ar livre da submissão
corporativa.
Algo a conquistar - Empregados
não nascem leais. Lealdade é o orégano que pousa sobre
uma reputação crível. De nada adianta acender o fogo
de programas motivacionais se não existir recompensa plausível.
Só defende a empresa quem é leal, só é leal
quem acredita, só acredita quem vê o queijo. Sem ratoeira.
Em algumas empresas, eventos de motivação
parecem dar o resultado oposto. Desmotivando quem percebe a falta de quem
estava no evento anterior. E é candidato a protagonista da próxima
saudade. Tão importante quanto o motivacional dos empregados, é
o comportamental dos empregadores.
Algumas empresas tentam servir um
discurso de catupiri para uma equipe que sabe que aquilo é gorgonzola.
Quando tentei ensinar à minha filha algo sobre queijos, comecei
por este, que já vem estragado. "Você sabe como foi que descobriram
o gorgonzola?", perguntei, adotando uma postura sapiençal. "Pelo
cheiro?", brincou ela, encerrando a aula.
Empregado percebe quando a promessa
é vazia. A competição está feroz demais para
garantir segurança. Hoje você está neste negócio,
amanhã está em outro. Prometer carreira é ficção.
No tempo de meu pai era real. Uma vida na mesma empresa, aposentadoria
satisfatória e um dicionário onde não havia a palavra
demissão. Que eu me lembre, só dois casos. Um deles porque
deu um tiro no gerente.
Quando falta credibilidade e benefícios,
só resta invocar o fantasma do desemprego. Para garantir retenção
em clima de assombração. Mas o clima não compensa.
Não espere que molhe a camisa por causa da empresa, aquele que você
quer fazer molhar as calças por causa do emprego. Seu funcionário
não se empenha por causa da empresa. O que o motiva é sua
própria carreira, seja ela aí, aqui ou acolá.
Nova relação
- E é aí que está a solução para a lealdade
e a motivação. Você investe no empregado para lucrar.
E ele sabe disso. Já pensou em investir para ele lucrar, ainda que
seja além de seus muros? Já pensou em deixar que ele escolha
os cursos, treinamentos, bolsas e tudo mais que achar bom para sua carreira,
mesmo que não tenham relação com sua produção?
É uma mudança de postura que pode sair pelo mesmo preço
e aumentar o índice de lealdade, retenção e transparência
na relação.
Relações nebulosas
geram desconfiança, como aconteceu com o dono da padaria que conheci.
Ao receber um telefonema, tirou o lápis da orelha e anotou tudo
direitinho. O pedido era graúdo. Só no final perguntou quem
era. "Aqui é o Rato", informou o dono do bar de apelido homônimo.
"Quéim?!", indagou o padeiro carregando no sotaque e desconfiado
de trote. "O Rato, do bar", repetiu o homem. "Pois tu fiques sabendo que
aqui é o Gato, da padaria!", bradou, batendo o fone e perdendo a
venda.
*Pesquisas
feitas em 2001 por Peter Hart Research, The Council of Public Relations
Firms, CareerBuilder.com, Watson Wyatt Worldwide e Aon Loyalty Institute.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |