Linux: quem usa sabe, quem compara
muda
José Manuel Catarino Barbosa
(*)
Colaborador
O Linux
surge como uma opção viável de informatização
e está levando cada vez mais os setores corporativo, governamental
e educacional a questionar suas atuais rotinas, custos e migrar para soluções
baseadas nesse sistema operacional. Dessa maneira, além de otimizar
processos e reduzir violentamente custos, o Linux aproveita o parque de
máquinas existentes com mais segurança, estabilidade, qualidade
e performance.
Em respeito à comunidade Linux
- que acompanha atentamente o que ocorre com o processo de licitação
do FUST -, ao site No. - que se notabiliza pela seriedade de suas colocações
-, aos inúmeros jornalistas que nos têm procurado para saber
nossa opinião e à população brasileira, em
geral, sinto-me na obrigação de fazer alguns esclarecimentos.
1. A Conectiva S/A é
uma empresa brasileira, paranaense e presente nas principais capitais do
país. A Conectiva, em seu próprio país, o Brasil,
ou em qualquer outro, não está sendo processada pelo governo
e pela justiça em qualquer instância. E mais: a receita obtida
pela Conectiva é reinvestida no próprio negócio e
no desenvolvimento de capacitação interna. Esse será,
por sinal, o destino dos recursos, caso a Conectiva ganhe qualquer concorrência
pública, como a que decidirá o destino das verbas do FUST.
2. O Linux pode ainda não
ser o sistema operacional dominante, mas esta é uma questão
de tempo. E embora a Microsoft alegue deter 90% do mercado e o próprio
Ministério da Educação, apoiado em pesquisa do Centro
de Informática Aplicada da Fundação Getúlio
Vargas, afirme que 97% dos micros clientes das empresas brasileiras usem
Windows, vale a pena conferir alguns outros números que merecem
total credibilidade.
- pesquisa da Associação
Brasileira das Empresas de Software (Abes) aponta que 51% dos softwares
fechados utilizados no Brasil são piratas.
- dados do anuário Informática
Hoje indicam que 18,67% da base instalada de hardware em produção
no Brasil usa Conectiva Linux.
- estudos do IDC mostram que 27%
dos servidores em uso no mundo já rodam Linux, contra 41% de servidores
Microsoft. E também mostram que o Linux tem apresentado um
crescimento anual, no mundo, de 24% contra 20% do Windows, sendo o Brasil
o segundo maior crescimento mundial.
- estimativa feita pelo Gartner Group
e publicada na revista Computer Reseller News aponta que o custo anual
estimado para uma rede de 100 estações de trabalho
Windows NT é de US$ 212.95 contra US$ 2.68 para uma rede com estações
Linux, uma diferença de nada menos que U$ 210.27.
- pesquisa realizada com 800 tomadores
de decisão e publicada pelo site IDG Now! mostrou que quase 40%
dos entrevistados utilizam Linux ativamente e que as empresas investirão,
em 2002, 9% do orçamento em TI com Linux.
3. Independente de números,
não é necessário nem fazer uma pesquisa junto às
universidades brasileiras e mundiais para saber qual o sistema operacional
mais utilizado nessas instituições. E vale lembrar que o
Linux nasceu nesse meio. Talvez o MEC devesse acompanhar mais tentamente
o que acontece nessas entidades de ensino antes de tomar decisões
baseadas em uma unanimidade duvidosa e questionável, até
porque algumas secretarias de estado já se manifestaram à
imprensa afirmando não concordar com o teor do edital e não
reconhecer que esta decisão houvesse sido tomada na referida reunião
em Brasília.
4. Ainda sobre a argumentação
que vem sendo dada pela Microsoft, pelo MEC e pela própria Anatel,
de que o sistema operacional Windows foi escolhido porque os estudantes
precisam se preparar para o mercado de trabalho, vale outro raciocínio
lógico baseado nos números apresentados acima. Em futuro
próximo, a esmagadora aceitação do Linux na área
acadêmica e científica, que é quem dita as tendências
de mercado, levará esse sistema a responder, no mínimo, por
grande parte das máquinas em operação no mundo e no
Brasil. E nossos estudantes estarão preparados para essa realidade?
Pior que isso: nem a Microsoft acredita no futuro do Windows ME, tanto
que a própria empresa tem repetido exaustivamente na imprensa nacional
e internacional que, com o lançamento do Windows XP, previsto para
o mês de outubro, a idéia é vagarosamente extinguir
as outras versões, como Win 98 e Win ME. Assim, noto que quando
o sistema chegar às escolas os alunos estarão frente a um
sistema à beira da obsolescência.
5. A propósito de reserva
de mercado, não terá notado a Microsoft que é exatamente
contra uma reserva de mercado definida no edital que todos os brasileiros
conscientes estão se opondo? Os estudantes brasileiros merecem a
oportunidade de ao menos conhecer mais de um sistema operacional.
6. A Conectiva não
tem o hábito de agredir seus concorrentes ou a qualidade de seus
produtos e nem difundir boatos a respeito deles. Não é postura
da Conectiva divulgar fatos infundados na mídia, a qual merece o
nosso maior respeito.
7. Com referência ao
preço do Windows ser "10 vezes menor que seu custo", como afirmado
na nota distribuída pela Microsoft, pergunto: isso quer dizer que
o preço praticado para a venda seria inferior em mais de 10 vezes
ao custo dos produtos? Para esclarecer, o ideal seria que a Microsoft
divulgasse publicamente o preço ofertado, para se saber quanto de
economia isso representaria em relação a uma solução
baseada em software livre. Nada melhor para a livre competição,
que é o oposto à reserva de mercado, que se promova uma comparação
técnica.
8. Ainda com relação
a custos, vale lembrar que, contra o Linux, argumenta-se que ele acabaria
resultando mais oneroso por exigir mais investimentos em treinamento e
suporte, itens ainda escassos no universo do software livre. A Conectiva,
só para citar um exemplo, possui intenso programa de treinamento,
serviços de suporte e uma rede credenciada em todo o Brasil, garantindo
assim a qualidade de todos os seus serviços e produtos.
9. Quanto à economia
de hardware entre uma e outra solução, proponho um
teste técnico auditado por um especialista de uma rede com servidor
Pentium I de 200 MHz com 64 MB RAM e disco rígido de 4 MB e 10 estações
diskless
486, com 16 MB de RAM configurada, de uma vez, com Linux + StarOffice e
de outra, com Windows + Office. Com os resultados pode-se falar com propriedade
em economia de hardware.
10. Além disso, diante
da informação de que o Windows é uma plataforma aberta,
desde já coloco nossos técnicos à disposição
para estudar o kernel do produto, como se pode fazer no Linux, para
torná-lo mais estável e imune a vírus, entre outras
mudanças.
Por fim, como lembrou o deputado
Jorge Bittar, "não queremos adestar nossos jovens a clicar no Windows,
ms a operar computadores". E se o Brasil e os estudantes brasileiros não
têm tempo a perder, acrescento: nem tempo, nem dinheiro, nem soberania,
nem liberdade.
(*) José
Manuel Catarino Barbosa é diretor de Mercadologia da Conectiva
S.A. |