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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/24/01 00:53:10
Linux: quem usa sabe, quem compara muda 

José Manuel Catarino Barbosa (*)
Colaborador

O Linux surge como uma opção viável de informatização e está levando cada vez mais os setores corporativo, governamental e educacional a questionar suas atuais rotinas, custos e migrar para soluções baseadas nesse sistema operacional. Dessa maneira, além de otimizar processos e reduzir violentamente custos, o Linux aproveita o parque de máquinas existentes com mais segurança, estabilidade, qualidade e performance. 

Em respeito à comunidade Linux - que acompanha atentamente o que ocorre com o processo de licitação do FUST -, ao site No. - que se notabiliza pela seriedade de suas colocações -, aos inúmeros jornalistas que nos têm procurado para saber nossa opinião e à população brasileira, em geral, sinto-me na obrigação de fazer alguns esclarecimentos. 

1. A Conectiva S/A é uma empresa brasileira, paranaense e presente nas principais capitais do país. A Conectiva, em seu próprio país, o Brasil, ou em qualquer outro, não está sendo processada pelo governo e pela justiça em qualquer instância. E mais: a receita obtida pela Conectiva é reinvestida no próprio negócio e no desenvolvimento de capacitação interna. Esse será, por sinal, o destino dos recursos, caso a Conectiva ganhe qualquer concorrência pública, como a que decidirá o destino das verbas do FUST. 

2. O Linux pode ainda não ser o sistema operacional dominante, mas esta é uma questão de tempo. E embora a Microsoft alegue deter 90% do mercado e o próprio Ministério da Educação, apoiado em pesquisa do Centro de Informática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas, afirme que 97% dos micros clientes das empresas brasileiras usem Windows, vale a pena conferir alguns outros números que merecem total credibilidade.

- pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) aponta que 51% dos softwares fechados utilizados no Brasil são piratas.

- dados do anuário Informática Hoje indicam que 18,67% da base instalada de hardware em produção no Brasil usa Conectiva Linux.

- estudos do IDC mostram que 27% dos servidores em uso no mundo já rodam Linux, contra 41% de servidores Microsoft. E também mostram que o  Linux tem apresentado um crescimento anual, no mundo, de 24% contra 20% do Windows, sendo o Brasil o segundo maior crescimento mundial. 

- estimativa feita pelo Gartner Group e publicada na revista Computer Reseller News aponta que o custo anual estimado para uma rede de 100 estações de trabalho   Windows NT é de US$ 212.95 contra US$ 2.68 para uma rede com estações Linux, uma diferença de nada menos que U$ 210.27. 

- pesquisa realizada com 800 tomadores de decisão e publicada pelo site IDG Now! mostrou que quase 40% dos entrevistados utilizam Linux ativamente e que as empresas investirão, em 2002,  9% do orçamento em TI com Linux. 

3. Independente de números, não é necessário nem fazer uma pesquisa junto às universidades brasileiras e mundiais para saber qual o sistema operacional mais utilizado nessas instituições. E vale lembrar que o Linux nasceu nesse meio. Talvez o MEC devesse acompanhar mais tentamente o que acontece nessas entidades de ensino antes de tomar decisões baseadas em uma unanimidade duvidosa e questionável, até porque algumas secretarias de estado já se manifestaram à imprensa afirmando não concordar com o teor do edital e não reconhecer que esta decisão houvesse sido tomada na referida reunião em Brasília.

4. Ainda sobre a argumentação que vem sendo dada pela Microsoft, pelo MEC e pela própria Anatel, de que o sistema operacional Windows foi escolhido porque os estudantes precisam se preparar para o mercado de trabalho, vale outro raciocínio lógico baseado nos números apresentados acima. Em futuro próximo, a esmagadora aceitação do Linux na área acadêmica e científica, que é quem dita as tendências de mercado, levará esse sistema a responder, no mínimo, por grande parte das máquinas em operação no mundo e no Brasil. E nossos estudantes estarão preparados para essa realidade? Pior que isso: nem a Microsoft acredita no futuro do Windows ME, tanto que a própria empresa tem repetido exaustivamente na imprensa nacional e internacional que, com o lançamento do Windows XP, previsto para o mês de outubro, a idéia é vagarosamente extinguir as outras versões, como Win 98 e Win ME. Assim, noto que quando o sistema chegar às escolas os alunos estarão frente a um sistema à beira da obsolescência. 

5. A propósito de reserva de mercado, não terá notado a Microsoft que é exatamente contra uma reserva de mercado definida no edital que todos os brasileiros conscientes estão se opondo? Os estudantes brasileiros merecem a oportunidade de ao menos conhecer mais de um sistema operacional. 

6. A Conectiva não tem o hábito de agredir seus concorrentes ou a qualidade de seus produtos e nem difundir boatos a respeito deles. Não é postura da Conectiva divulgar fatos infundados na mídia, a qual merece o nosso maior respeito. 

7. Com referência ao preço do Windows ser "10 vezes menor que seu custo", como afirmado na nota distribuída pela Microsoft, pergunto: isso quer dizer que o preço praticado para a venda seria inferior em mais de 10 vezes ao custo dos produtos?  Para esclarecer, o ideal seria que a Microsoft divulgasse publicamente o preço ofertado, para se saber quanto de economia isso representaria em relação a uma solução baseada em software livre. Nada melhor para a livre competição, que é o oposto à reserva de mercado, que se promova uma comparação técnica.

8. Ainda com relação a custos, vale lembrar que, contra o Linux, argumenta-se que ele acabaria resultando mais oneroso por exigir mais investimentos em treinamento e suporte, itens ainda escassos no universo do software livre. A Conectiva, só para citar um exemplo, possui intenso programa de treinamento, serviços de suporte e uma rede credenciada em todo o Brasil, garantindo assim a qualidade de todos os seus serviços e produtos. 

9. Quanto à economia de hardware entre uma e outra solução, proponho um teste técnico auditado por um especialista de uma rede com servidor Pentium I de 200 MHz com 64 MB RAM e disco rígido de 4 MB e 10 estações diskless 486, com 16 MB de RAM configurada, de uma vez, com Linux + StarOffice e de outra, com Windows + Office. Com os resultados pode-se falar com propriedade em economia de hardware

10. Além disso, diante da informação de que o Windows é uma plataforma aberta, desde já coloco nossos técnicos à disposição para estudar o kernel do produto, como se pode fazer no Linux, para torná-lo mais estável e imune a vírus, entre outras mudanças. 

Por fim, como lembrou o deputado Jorge Bittar, "não queremos adestar nossos jovens a clicar no Windows, ms a operar computadores". E se o Brasil e os estudantes brasileiros não têm tempo a perder, acrescento: nem tempo, nem dinheiro, nem soberania, nem liberdade.

(*) José Manuel Catarino Barbosa é diretor de Mercadologia da Conectiva S.A.