"Love me tender, love me true..."
Mário Persona (*)
Colaborador
A letra
da música de Elvis é o fundo ideal para descrever os anseios
de um cliente por satisfação. "Love me tender, Love me true,
All my dreams fulfill". Ternura, sinceridade e sonhos realizados. O que
mais um cliente poderia desejar de um bom atendimento? Não liga
não. Estou em fase romântica.
Ben Feldman não era exatamente
um Elvis. E nem tinha pinta de vendedor. Era baixinho, gordinho e careca.
Se fosse menor e usasse um gorro, seria confundido com um dos sete anões.
O "Soneca", de olhar lânguido e pálpebras caídas. A
fala mansa e hesitante saía da língua meio presa. Isso quando
falava. Pois era tão tímido que deu uma de suas primeiras
palestras atrás da cortina.
Mas Ben foi o maior vendedor de seguros
do mundo. Sem Internet e morando em uma cidadezinha de vinte e poucos mil
habitantes. Seu sucesso estava em acreditar no que fazia. A necessidade
do cliente era sua motivação. Não vendia um produto,
prestava um serviço. E ganhava muito fazendo isso.
Para Feldman, quando o vendedor não
acredita no que vende, ninguém compra. É preciso acreditar.
Gostar do que faz. Quando alguém gosta do que faz, seus olhos brilham
apaixonados. Adora falar de sua paixão. É um entusiasta.
Um esportista radical, que enfrenta dificuldades. E persegue o risco.
Bom vendedor não é
malandro. Que mente para enrolar o cliente. Nem mercenário, que
risca a coronha de sua maleta a cada cliente abatido. Não hipnotiza
a vítima antes de dar o bote na jugular. O bom vendedor quer satisfazer
desejos e conquistar corações. Ele ouve o cliente cantar,
"All my dreams fulfill..."
Persistência é outra
qualidade do bom vendedor. Quem gosta do que faz trabalha sem perceber.
Porque deixa de ser trabalho para virar prazer. Até na velhice,
quando o trabalho dá cada vez menos prazer, e o prazer cada vez
mais trabalho. Feldman fechou um terço de suas vendas após
os sessenta e cinco anos.
Quem vende acaba desenvolvendo um
método. Que vira um hábito. Se algumas características
podem ser natas, método não é uma delas. O vendedor
lhe ligou após a venda? Incluiu você em seu hábito.
O hábito pode não fazer o monge, mas faz bons vendedores.
Se eu desconfiar do vendedor, não
compro. E, ainda que confie, se não acreditar na empresa, não
compro. O importante é o conjunto vendedor-produto-empresa. É
quase uma família. O vendedor trabalha confiante quando tem o suporte
da empresa. A empresa vive feliz quando é bem representada. E ambos
adoram exibir o filho, o produto, para o mundo.
Hoje preço não é
o mais importante na venda. Quando a conveniência é o que
importa, dos quatro "P's", Produto, Preço, Promoção
e Praça, o que fala mais alto é o quinto: Personalidade.
Do vendedor e da empresa por detrás.
O valor e a confiança que
a empresa põe no vendedor irão refletir nas vendas. E na
sobrevivência da empresa. Porque sem vendedor, o melhor produto da
praça, fabricado pela melhor empresa do país, continuará
encalhado no maior estoque do planeta.
Elvis Presley sabia disso. E para
vender sua arte tinha um empresário. Não tão ético
quanto Ben Feldman, mas que sabia como ninguém alavancar uma carreira
e vender uma imagem. Era o Coronel Parker, que não era nem coronel,
nem Parker, nem caneta. Seu nome era Andreas Cornelius van Kuijk.
Ele descobriu Elvis e Elvis o cobriu.
De confiança e compensação. Pois firmou com ele um
contrato nunca escrito que lhe garantia exatamente metade do que o cantor
ganhava. Se Elvis fez isso com seu vendedor, é melhor você
também recompensar bem o seu Coronel Parker. Ainda que ele não
seja nem coronel, nem Parker. Não importa. Seu produto também
não é nenhum Elvis.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |