Palanque profissional
Mário Persona (*)
Colaborador
No minúsculo
povoado pouca gente sabia que o governador acabara de chegar. Época
de eleição, o prefeito não iria deixar a oportunidade
escapar. Improvisou uma comitiva e arrastou o dignitário para a
praça. Praça é modo de dizer. Uma ilha de mato. Cercada
de ruas de terra por todos os lados.
Um caminhão estacionado ganhou
seus quinze minutos de fama ao virar palanque. Enquanto mãos generosas
ajudavam a alçar quase cem quilos de governador até a carroceria,
meninos descalços, seguidos por seus cães, corriam chamar
a elite latifundiária. Que, naquela hora da manhã, se debruçava
sobre as mesas de sinuca nos bares das poucas esquinas.
Para alegria dos carrapichos, barras
de calças e saias logo acariciavam o mato da praça. Alegria
que durou pouco, pois o prefeito parecia querer testar a suspensão
do caminhão. Quem era importante tinha de estar no palanque. Quem
não era, ficava importante na hora. Agricultor virava fazendeiro
e costureira empresária. Valorizar o eleitorado garantia votos.
Políticos sabem fazer marketing.
Sabem falar, sabem criar redes de relacionamento, encantar parceiros e
influenciar influenciadores. Podemos aprender com eles, se soubermos identificar
o que é técnica e o que não passa daquela baba demagógica
com a qual alguns molham a gravata.
O discurso relâmpago é
algo que você pode usar. Um mero "Será que chove?" escutado
no elevador pode abrir caminho para um script do tipo "Se chover
não vou poder entregar o notebook que meu cliente encomendou".
"Você vende notebook...?" Desça no mesmo andar de quem
perguntou.
Enquanto políticos gastam
milhões com papel, você pode criar seu próprio jornal
na Internet. E promover seu nome, atividade, empresa ou produto, sem gastar.
Criando um site e boletins enviados por e-mail a assinantes. De
graça, é claro. A menos que você escreva mal. Aí,
de graça é caro.
Difusão - Ainda que
comece com meia dúzia de assinantes, pode chegar a dez mil, o total
das duas newsletters que publico. Com direito a retransmissão.
Os leitores viram seus aliados quando enviam o boletim aos amigos. Eu os
incentivo com uma mensagem no início: "Informação
livre. Copie, imprima, distribua, envie por e-mail, carta, fax,
rádio, TV ou pombo correio."
É possível que sites,
jornais
e revistas acabem publicando
seus artigos. Alguns publicam
até crônicas como esta! Foi assim que ganhei espaço
em quase uma centena de veículos. Mas isto não funciona para
textos publicitários. É preciso compartilhar conhecimento,
como faço aqui. Ou melhor. A publicidade fica por conta de seu
nome atrelado ao que escreve.
Palestras e eventos são excelentes
para seu marketing pessoal. Além do networking e troca
de cartões nos intervalos, o espaço para perguntas forma
um palanque à parte. Formule uma pergunta inteligente, peça
o microfone, respire fundo e anucie, com voz clara e muito charme, o seu
nome e empresa. Não se esqueça de fazer a pergunta.
Como palestrante, posso garantir
que perguntas não incomodam. Até ajudam o palestrante, principalmente
se você perguntar quais serviços ele presta e como contratá-los.
Mas evite a todo custo criar polêmica ou desmoralizar o preletor.
Principalmente se ele for eu.
Tenha sua marca pessoal. Pode ser
um sotaque, como o meu. Era caipira, mas hoje é chamado country.
O modo de vestir, a gravata ou a falta dela, ou uma caneta diferenciada
ajudam. Um publicitário que detestava gravata foi obrigado a usá-la.
Como não falaram nada sobre o nó, visitava os clientes com
a gravata apenas pendurada no pescoço. Virou sua marca pessoal.
Era dele que os clientes se lembravam quando pediam uma visita.
À medida que seu círculo
de relacionamentos for crescendo, será importante fazer aos outros
o que gostaria que fizessem a você. Por exemplo, indicá-los
para trabalhos, divulgar seus nomes, valorizá-los como profissionais.
E se foi com a ajuda deles que você chegou ao palanque profissional
que hoje ocupa, convide-os a subir.
Mas não exagere, como o prefeito.
Em seu afã de colocar cada habitante no caminhão-palanque,
deixou com torcicolo o governador. Que precisou discursar, olhando por
cima dos ombros, para uma carroceria apinhada de gente. Pois na praça
só ficaram os meninos e os cães. Além dos carrapichos.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |