Do ostracismo ao Marketing
Pessoal
Mário Persona (*)
Colaborador
Ostras
são sempre as mesmas. Pelo menos por fora. A diferença está
no que algumas trazem dentro de si. Pérolas. Só reveladas
por bocas abertas a golpes de faca.
O mundo está cheio de ostras
profissionais. Cascas horrendas, de rudes e ásperas. Perolizando
informações sugadas de uma vida de estudos e experiências.
Mas que mantém bocas teimosamente fechadas para as pérolas
reclusas de seu conhecimento profissional. Perdidas no muco de suas camadas
cerebrais.
À medida que o mercado passa
a valorizar o conhecimento, as ostras começam a se agitar. Umas,
mais afoitas e vulgares, espirram sujidades que só turvam a água
em redor. Deixando suas pérolas embaciadas pela falta de distinção.
Outras investem em um meticuloso
e polido marketing pessoal, transluzindo a preciosidade através
da madrepérola da casca. Numa revelação discreta e
quase sensual de seu interior, despertam no mercado o desejo de ver mais.
E pagar para tal.
Seres opinativos
- Existe em nós um desejo natural de revelar o que sabemos na forma
de opiniões. E insistir para que outros as comprem, ainda que o
único pagamento seja a satisfação do reconhecimento
público de que estamos com a razão.
Você encontra esses vendedores
de opiniões em todos os lugares. Nos cafés, nos cabeleireiros,
na fila do banco e nos estádios. Todos procurando conquistar o mercado
das atenções e fazer prevalecer a sua marca.
Mas na hora de expor aquilo em nós
que é vendável, viramos ostras. Mesmo o mais eloqüente
vendedor de seu conhecimento futebolístico ou político acaba
se retraindo ao falar de sua capacidade profissional. Acha que expor seu
produto é ser esnobe e inconveniente.
Talvez isto aconteça por existir
uma linha muito tênue entre o marketing pessoal e a altivez.
Essa odiosa tendência de acharmos que o universo orbita ao nosso
redor. Não é incomum a vanglória ser fruto da insegurança
gerada pela incompetência. Que transforma coroas de lata em títulos
de nobreza e um ego que late em pedigree.
Quando falo de marketing pessoal,
estou me referindo à exposição fria e comercial de
um produto acabado. O conhecimento que é colocado em prática
na forma de competência.
Caminhos - A grande área
de exposição promocional de baixo custo que a Internet oferece,
permite que profissionais se posicionem como produtos para o mercado. São
currículos que trocam envelopes pardos por um lugar de eminência
nada parda nos sites de recursos humanos. Ou em elaboradas home-pages
pessoais.
A princípio pode parecer complicado
administrar esse dois-em-um, pessoa e produto. Ou mais-de-dois-em-um, se
tiver múltiplas capacidades. Mas não é, se souber
separar a pessoa do profissional, e o produto do ego.
O diretor da faculdade onde estudei
exagerava no dualismo profissional causado pelos cargos que ocupava. Um
de diretor e outro de professor da mesma escola. Ao enviar os telegramas
convocando os professores para as reuniões mensais, dois iam para
o seu próprio endereço. Um para o diretor e outro para o
professor.
Como não podia deixar de ser,
quando um ia à reunião, o outro não faltava. E lá
se desdobravam em uma terceira e anônima personalidade que, como
mestre de cerimônias, anunciava: "Aqui quem vos fala é o Diretor
Oswaldo". Terminada a fala do principal, vinha o anúncio: "Agora
quem vos fala é o Professor Oswaldo". Que curiosamente costumava
discordar do Diretor.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |