Ruído 5 X 0 Comunicação
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
Muito já
foi dito sobre a importância da comunicação nos tempos
atuais, mas até que ponto o excesso de comunicação
poderá ser suportado pela nossa capacidade física e limitada
de recepção?
Estar bem informado é uma necessidade
crescente, mas que tipo de informações estamos precisando?
Qualquer informação? A qualquer tempo?! Hummm... acho que
não.
Há algumas décadas,
nosso poder individual de emissão se limitava ao contato direto,
alguns escritos e telefone. Apenas os meios de comunicação
de massa podiam emitir informações em larga escala e alcance.
Um poder que foi amplificado nos últimos anos, através de
rádio, jornais, revistas, cinema, TV... sem contar nos outdoors,
cartazes, faixas, ônibus, metrô e todos os outros espaços
invadidos pela publicidade!
Em algum momento desse processo,
a quantidade de informações emitidas começou a superar
a nossa capacidade de assimilação, provocando uma disputa
cada vez mais acirrada dos anunciantes pela atenção do público.
E a publicidade de massa começou a ser contestada em sua relação
custo-benefício (isso já foi notado há mais de uma
década).
O nascimento do Marketing Direto
e suas variantes foi a saída encontrada para tentar direcionar a
comunicação e reduzir o nível de ruído (e perdas)
no caminho da informação, mas o que houve foi apenas um adiamento
do problema que encontramos hoje.
Se o excesso de comunicação
já era ruim há mais de uma década, hoje tomou dimensões
muito maiores!
Quando a Internet entrou em nossas
vidas, cada ser humano on-line adquiriu o incrível poder
de emitir informações como nunca antes. Não há
mais limitação de tempo, espaço ou custo para o emissor!
Hoje, qualquer pessoa pode ter um
e-mail
e disparar milhares de cópias com apenas um clique, povoando as
caixas postais de toda a sua lista de endereços simultaneamente.
Além do e-mail, temos o correio de voz e as mensagens coletivas
emitidas por pagers e celulares, cada vez mais populares, o que
aponta para uma sociedade de emissores compulsivos de informação.
O que isso significa para a comunicação?
É bom ou ruim?!
Por enquanto, uma resposta otimista
é "depende". Se o ser humano tiver bom senso para controlar seu
ímpeto, viveremos em uma sociedade muito ágil e eficiente,
com o fluxo democrático de informações e recursos
dentro da rede. Entretanto, até o momento, o que se vê não
é isso. O número de vozes que nos falam se tornou maior que
a capacidade dos nossos ouvidos escutarem, e isso tende a aumentar muito
a cada dia!
Hoje, os usuários de Internet
estão aprendendo a emitir informações através
de um recurso novo, em um contexto novo que nunca tivemos antes. O poder
da comunicação individual de massa foi concedido. Nossas
falas e nossa escrita podem ser multiplicados indefinidamente, atingindo
um universo maior de receptores... temos mais voz! Temos mais poder de
influência!
O que ninguém se deu conta
é que não multiplicamos nossos olhos e ouvidos para receber
tanta informação de volta...
Os efeitos dessa distorção
podem ser graves, pois só há comunicação enquanto
há receptor. Quando o receptor não consegue assimilar o que
foi emitido em sua direção, a comunicação é
inválida e as informações transformam-se em ruídos,
dificultando ainda mais nossa assimilação do que realmente
importa.
Enquanto não inventarem um
chip
para implantar no cérebro e acelerar nosso processo de compreensão/assimilação
dessas informações, estaremos limitados pelo tempo. Não
conseguiremos receber tudo o que nos enviam!
O pior é que logo não
teremos capacidade sequer de identificar o que é útil, pois
essa identificação tem a ver com prioridade... e só
podemos avaliar a prioridade de uma informação quando sabemos
algo sobre ela.
É um ciclo vicioso e sem fim.
Por isso, enquanto não houver consciência, caminharemos para
o caos da comunicação e a improdutividade decorrente.
INTERRUPÇÃO X PERMISSÃO
- Diante deste quadro, fica fácil entender o porquê do SPAM
(mensagem eletrônica não solicitada) ser tão combatido
na Internet. É o sintoma de um problema muito maior, cujo nome verdadeiro
é "Marketing de INTERRUPÇÃO" (ou comunicação
publicitária não solicitada).
Se o excesso de informações
tende a inviabilizar a comunicação eficiente, é natural
que as pessoas queiram desenvolver seus próprios filtros para receber
apenas o que lhes é útil. Caso contrário, serão
prejudicados na assimilação do que é realmente importante,
em detrimento de uma comunicação indesejável.
Quem defende o SPAM, costuma se basear
que a técnica usada é similar às malas-diretas, telemarketing
etc... ok. Estão parcialmente certos, pois todos esses exemplos
são "Marketing de INTERRUPÇÃO". O problema é
que a Internet mudou completamente o contexto da comunicação
e o SPAM é o primeiro "Marketing de INTERRUPÇÃO" sem
custo para o emissor.
Os celulares e pagers que
permitem o envio da mesma mensagem para "N" destinatários ao mesmo
tempo caminham no mesmo sentido...
Isso significa que todas as empresas
e pessoas como nós estão adquirindo um poder de comunicação
amplificada, com cada vez menor custo. Ou seja, todos podem começar
a INTERROMPER 10, 100, 1000 pessoas a um custo cada vez menor.
Quando somos INTERROMPIDOS uma, duas,
dez vezes, achamos aceitável. O problema ocorre quando começamos
a ser INTERROMPIDOS demais, com assuntos que não nos interessam
e apenas nos fazem perder mais do nosso escasso e precioso tempo (cada
vez mais escasso e precioso). São ruídos que atrapalham a
comunicação eficiente.
Perder tempo sendo INTERROMPIDO é
um mal que vem crescendo, mas a maioria não se deu conta disso!
O Marketing de INTERRUPÇÃO
funciona e sempre foi válido, mas diante das novas condições
trazidas pela tecnologia, pode tornar a vida em sociedade insuportável
em pouco tempo. Por isso, não é um problema que se resolva
com leis. É um problema que só se resolverá com consciência.
Primeiro, é necessário
enxergar o futuro. Depois, é necessário desejar sinceramente
um futuro melhor para todos. Sem isso, não haverá limites.
Hoje, recebi pela terceira vez na
semana, uma ligação do telemarketing do Unibanco tentando
me vender cartões... pela terceira vez descartei... daqui a 5 anos
serão 30 ligações!
Quem enxerga assim percebe que é
preciso dar um basta agora, antes que o uso indiscriminado dos meios de
comunicação acabe com a comunicação.
Sim! Se usarmos 100% dos meios de
comunicação, passaremos a não comunicar mais nada...
pois o receptor não será capaz de distingüir a informação
relevante em meio a tanto ruído.
Volto a lembrar: o poder de "emissão"
de sons, imagens e idéias foi amplificado, mas o poder de "recepção"
que nós temos é praticamente o mesmo. Não há
como ouvir 10 rádios ao mesmo tempo, assistindo 15 canais de TV...
ou seja, o limite físico existe do lado do receptor.
Quanto mais o receptor é bombardeado
com informações de todo tipo, menos capacidade ele tem de
avaliar e absorver as informações que ele realmente quer
e precisa receber... Teoria da Comunicação I em qualquer
faculdade meia-boca explica o que está acontecendo!
Queiram ou não, o nível
de ruído está subindo a cada dia por causa do uso indiscriminado
da comunicação impessoal que INTERROMPE.
Para combater esse problema, é
necessário conscientizar os emissores de que nem tudo o que eles
emitem é relevante para todos. Se os emissores continuarem tentando
decidir pela vida dos receptores, o caos estará cada vez mais próximo.
Por isso, é preciso cultivar
o respeito mútuo. Precisamos dar aos receptores o poder de filtrarem
o excesso de informações, escolhendo as fontes emissoras
que desejam escutar. Este é o conceito de PERMISSÃO.
Sem isso, corremos o risco de inviabilizar
a comunicação como um todo.
(*) Sérgio
Buaiz é publicitário e
escritor,
participando também nos sites Widebiz,
Vencer,
Wwwork,
Vendamais,
Economiabr,
Surftrade,
Nettudo,
Nova-e,
Paranashop,
Clickcerto,
Fenead,
Tradefairs,
Estudando,
Esaber
e Multivirtual. |