Palavras são palavras. Nada
mais?
Mário Persona (*)
Colaborador
Palavras.
São elas que sustentam os negócios. Nas trocas, nas vendas,
no diálogo para dentro e para fora. São elas que garantem
um lugar no mercado. Ou fora dele, quando equivocadas. As empresas sobre
elas saltitam perigosamente, como em caminho de pedras em meio à
escuma dos inquietos meandros de uma economia falaz.
Palavras fazem toda a diferença.
Somos dirigidos por sua corrente. De pais, filhos, amigos ou inimigos elas
nos vêm. E é por meio delas que eles nos vêem. Mesmo
no silêncio, não param de nos inquietar. Sussurradas pela
memória de uma experiência gratificante, são renovadoras
de negócios. Gritadas pela consciência traída, são
devastadoras.
Palavras são meus anzóis.
Pequenos e imperceptíveis, vão fundo e chegam longe. Consegui
fisgar três minutos de seu precioso tempo só para ler meu
texto. Multiplicados pelo número de pessoas alcançadas pela
tiragem estimada dos sites, jornais, revistas e boletins que me publicam,
podem passar de setenta mil horas. Uns oito anos para quem só pediu
três minutos de atenção.
Ao vento... - Palavras são
como o vento que areja com o frescor de uma solução a mente
de seu cliente. Ou transporta um cisco indesejado para seu olho. Muito
depende de quem as articula. Daí o cuidado de só soprar as
palavras certas na corneta de sua publicidade. Elas podem abrir carteiras
para sua mensagem. Ou fechar ouvidos para sua marca.
São escribas e locutores os
malabaristas das letras. Manipulam fluidos cerebrais articulados em impulsos
audíveis ou códigos legíveis. Com habilidade as lançam
no ar, na quantia adequada e cadência controlada, fazendo desaparecer
a mão para deixar visível só a sensação.
Que mesmeriza uma platéia ávida por emoções.
Você contrata palestrantes
que derramam palavras de levantar o moral de seu pessoal. Ou fazem descer
a guarda de seu cliente, que precisa entender antes de comprar o que você
vende. Você investe em profissionais de consulta, para diagnosticar
as doenças de seus negócios. E dizer o que você já
desconfiava, mas não verbalizava por falta de talento. Ou coragem.
Palavras do Roberto Carlos
- O Roberto estava certo quando cantou que "palavras são palavras,
e a gente nem percebe o que disse sem querer, e o que deixou pra depois".
Uma comunicação mal feita pode deixar você sem achar
um jeito para explicar, e esperando que o cliente possa aceitar. Mas a
concorrência é implacável demais. Não deixará
você explicar a seu cliente que tem "um jeito meio estúpido
de ser, mas é assim que eu sei te amar."
A erupção que palavras
mal colocadas provocam pode ser devastadora para qualquer negócio.
Até para a escola secundária onde lecionei quando jovem.
Para resolver o problema da indiferença dos alunos para com os estudos,
convidamos os pais para uma palestra na presença da delegada de
ensino. Eram, em sua maioria, pequenos agricultores e criadores de gado.
A idéia era mostrar que eles
foram bem sucedidos numa época em que estudar não era uma
prioridade. Porém, seus filhos precisavam estar preparados para
um mundo diferente daquele que garantiu o sustento de seus pais. Com o
crescente êxodo rural, fatalmente teriam de enfrentar uma concorrência
acirrada na cidade. Erramos ao convidar o menos diplomático dos
professores para fazer a palestra.
"Ilustríssima senhora delegada
de ensino", começou ele, entregando a única porção
bem sucedida de seu discurso. E numa passada de braço que abrangia
toda a platéia, qual espada ceifando na altura dos pescoços,
continuou: "Como sabe, as pessoas nesta sala têm um nível
de escolaridade baixíssimo!". Mal teve tempo de colocar o ponto
de exclamação e já tinha pai com punhos cerrados e
bocas escancaradas. Incêndio de paixões que os bombeiros do
deixa-disso extinguiram de imediato. Só com palavras, nada mais.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.
Até julho/2001, Mário
atuou como diretor de comunicação da Widesoft,
editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
Widebiz.
Essa transição para uma nova atividade e as origens do artigo
acima são explicadas por ele, em um texto que, na opinião
de Novo Milênio, vale por uma crônica à parte:
"Crônicas de Negócios"
é o novo veículo que leva até você minha crônica
semanal. Como já deve saber, deixei minha posição
de diretor de comunicação da Widesoft para exercer uma nova
carreira. Como qualquer mortal, ainda sinto aquele frio na barriga, ao
deixar a segurança de um emprego para decolar em vôo solo.
Mas já passei por um vôo
solo quando tinha dezessete anos. Era para ser um vôo usual de treinamento
num Paulistinha, com meus movimentos acompanhados, no comando duplo, pelo
instrutor espremido no banco de trás. Mas quando pousamos, ele desceu
e ordenou: "Pode decolar. Agora você voa solo!"
Arrisquei decolar, mesmo sem fraldas
ou banheiro a bordo. A terra foi ficando para trás, e o azul de
um céu de brigadeiro pintou meu pára-brisa. Atrás
de mim o banco do instrutor sentia o mesmo que meu estômago: um vazio.
Que eu conferia a cada minuto, só para ter certeza de que era eu
e a brisa, naquela bossa que para mim era nova. Sozinho no ar.
Meu vôo agora é solo,
mas não solitário. Decolo como parte de uma imensa esquadrilha
de profissionais on-line, para os quais posso transferir missões
além de minha área de ação. Identificá-los
e supervisionar projetos faz parte de meu plano de vôo, sintetizado
por minha amiga e jornalista Rachel Regis em um e-mail:
"Você tem três expertises
que se destacam sobre as demais. Uma é a de fazer conexões.
A formação de comunidades. Outra expertise que você
deveria explorar melhor é a imensa capacidade de escrever. Não
é bajulação, é a constatação
de alguém que só o que sabe fazer na vida é escrever
e tem algum conhecimento do assunto. A terceira expertise que se
destaca é a sua capacidade de dar palestras. Você se lembra
que, no dia mesmo que te conheci, brinquei (meio seriamente) a respeito,
dizendo que você deveria abrir uma empresa de palestras? Pois é,
amigo, acho que chegou a hora. Bom, amigo, continuando a me meter na sua
vida, embora sem ser convidada, acho que há uma outra atividade
que você teria condições de fazer com muito sucesso:
a de consultor em comunicação."
Se ela estiver certa, e for esta
também a percepção do mercado sobre o meu trabalho,
o frio na barriga deve passar. E estarei ajudando empresas a desenvolver
projetos com os pés no chão. Algo importante, num momento
em que o piloto nos diz para apertar os cintos, porque vem turbulência.
Algo ruim para os famosos pássaros argentinos, ou pássaros
de prata, numa linguagem mais popular.
Hoje, um projeto bem feito garante
a sobrevivência da marca, esta imagem que só permanece no
cérebro dos clientes quando tatuada com a indelével tinta
de uma química bem feita de PALAVRAS. Justamente o tema de nossa
crônica de hoje. |
Mário, Novo Milênio
lhe deseja bom vôo, em céu de brigadeiro! |