Brandindo sua marca
Mário (ou M A R I O...)
Persona (*)
Colaborador
"Plim?",
indagou surpreso o escrivão. "Eu perguntei o primeiro nome da criança",
insistiu. "Plim", repetiu o jovem cabeludo, descalço e todo de branco,
com a voz suave de quem quer parecer místico. Era o início
dos anos 80 e eu estava na pequena Alto Paraíso de Goiás.
Aceitei ser testemunha para registrar o menino que quase nasceu em meu
carro, mas já estava arrependido. Queria sumir. Ouvir "Plim! Plim!"
e pedir os comerciais.
Enquanto "Plim" vai para a lista de
nomes esdrúxulos, gostaria de dizer que pouca gente entende a importância
de um nome ou de uma marca. Escolhemos o nome de um filho pelo que desejamos
que ele seja. Investigamos significados para garantir sua personalidade.
Buscamos na família por alguém digno de ser copiado. Conhecemos
algum "José da Silva Filho" ou "José da Silva Neto", clones
perfeitos do pai e do avô. Mas nenhuma "Maria da Silva Neta". Seria
arriscado clonar a sogra.
Personalidade e reputação
são o recheio do nome. Falamos de nomes famosos, de nomes sujos
na praça. Criamos até um logo, uma imagem, para associar
ao nome. E ela gruda na mente. Por causa das figuras nos livros de escola,
continuo achando que D. Pedro II era mais velho que D. Pedro I. Um usa
barba longa. O outro, costeletas à Tarcísio Meira.
Marca na mão, saímos
brandindo o nome aos quatro ventos. "Branding" não é
só imprimir um logotipo em canecas. É marcar o gado, dar
a ele uma identidade. Não é à toa que "branding
iron" é o ferro de marcar gado que inglês vê. A
marca indelével no couro é mais que um certificado de propriedade.
Certifica a história, a origem, a fama e a qualidade.
Definindo a marca - Antes
de imprimir uma marca em um filho, empresa ou produto, tentamos adivinhar
o que o mercado irá pensar. Por esta razão jamais o chamaríamos
de "Fedor", nome comum na Rússia. Nem tentaríamos servir
"Café Glacial", fabricar cuecas "Cactus" ou lançar um monitor
com a marca "Tela Azul". Nenhum usuário de Windows iria comprar.
Um nome pode lembrar ainda aquela
tia chata ou um lugar desagradável. Pior, pode criar uma cacofonia.
Algo que o poeta evitou ao cantar "Eu sei que vou te amar", em lugar do
correto "Eu sei que vou amar-te". Preferiu ficar mais perto de sua amada,
a viajar pelo espaço sem amá-la. Ou amar ela, se estivesse
no Oriente.
Um nome deve ser relevante, evitando-se
o lugar-comum, mas sem exagerar no incomum. Enquanto é a consistência
que dá relevância, ser diferente pode azucrinar o filho mais
paciente. Batize-o com um distintivo "Karlos", e ele passará a vida
explicando: "com K".
É bom investigar que efeito
terá sua marca no mercado global. Uma linha "Andrea" de maquiagem
pode não dar certo na Itália. Lá é nome de
homem. A palavra "Pajero", modelo da Mitsubishi, lembra masturbação
em alguns países hispânicos, enquanto "Mist", do Rolls Royce
Silver Mist, é estrume em alemão.
No Brasil ou exterior, o tamanho
do nome também importa. Uma International Business Machines Inc.
é mais bem conhecida como IBM. E você não se lembraria
de Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos
Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano
Serafim de Bragança e Bourbom, se ele não se chamasse também
D. Pedro I.
Mesmo sem pedigree, decidi
resumir meu nome. Assino minhas crônicas só com o nome de
meu pai, dispensando o tradicional "José". E sem o materno "Buzolin",
cujo significado desconheço. Se vier do italiano "buzzo", que significa
"pança", pelo menos no nome fico mais magro. Mas antes que ache
inútil minha explicação, saiba que ela serve de resposta
ao mais enigmático e-mail que já recebi de um leitor.
Trazia apenas uma pergunta: "Por que você se chama Mario Persona?".
(*) Mário
Persona (ou M A R I O P E R S O N A, é sem acento...) é
diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
Widebiz. |