Internet e intranet: a versão
beta do telefone
Ana Maria Gonçalves (*)
Colaboradora
Não
adianta querer reinventar a função. Meio de comunicação
serve para estabelecer comunicação. Usar a Internet como
mero divulgador, é, no mínimo, retroceder 125 anos na História.
Sub-utilizar, emburrecer, ignorar os recursos disponíveis. Há
muito tempo já foram disponibilizados os recursos de comunicação
de mão-dupla. Por que então insistir em ir pela contramão
da História?
Em 1876, Alexandre Grahan Bell apresentava
ao mundo um estranho aparelho em uma exposição na Filadélfia.
Ninguém lhe dava muita atenção, desacreditados do
funcionamento e da utilidade de uma máquina falante. Ao contrário
dos outros meios de comunicação de longa distância,
este, o telefone, não se utilizava de códigos (como o Morse).
Mas sim de um conhecimento que permitia transformar a voz humana em um
sinal elétrico, fazê-la viajar através de fios e convertê-la
novamente em som.
Já bastante desanimado, quase
no final do evento, Grahan Bell encontra D. Pedro II. O nosso imperador,
homem amigo de grandes cientistas da época. Convence-o a utilizar
o aparelho. A reação emocionada de Dom Pedro II vira notícia,
corre o mundo e desperta a curiosidade pelo invento de Grahan Bell. Fica
famosa também a primeira frase transmitida por telefone, dita por
D. Pedro. Para quem não conhece, deixo a oportunidade de advinhá-la
até o final deste artigo.
Como a Internet,
intra e extranet podem ser transformar em telefone?
Simples: emocionando.
Pode parecer difícil imaginar
que alguém se emocione se você tentar fazer isto comunicando-se
através de códigos, como nos primórdios de antes do
telefone. E muito mais difícil ainda se você não deixar
claro para o seu interlocutor que ele vai poder interferir, interagir ou,
pelo menos, retornar a comunicação.
Sites estáticos, não
no sentido de movimento, mas no sentido de interação, provocam
a mesma reação do interlocutor. É a lei da ação
e reação, já comprovada em uma das ciências
mais dinâmicas que existe: a Física. Que também prega
que um corpo tende a permanecer estático até que alguma força
atue sobre ele. A força na Internet não é imagem,
não é palavra, não é movimento. É a
voz. Ou melhor ainda: a voz em movimento.
Não adianta falar que você
utiliza os recursos mais modernos, que a sua empresa tem os melhores profissionais,
o melhor custo-benefício de produto ou serviço, o melhor
atendimento pós venda. Se nada disto basta para continuar competitivo
no mundo off-line, imagine on-line... Um site destes pode
estar perdendo um precioso tempo, deixando de conversar o que realmente
importa com milhares de consumidores que não vão bater à
porta real da empresa. E para os que vão, repetindo a mesma conversa
de sempre, ou seja, o papo de vendedor.
Na Net, o que
importa é fazer com que o interlocutor ouça a própria
voz. Ou, no mínimo, sinta-se ouvido. E para isto não
basta colocar lá um SAC. Principalmente se ele fica escondido lá
num canto qualquer, fazendo do 0800 o grande vilão da conta telefônica.
Com esta economia de raciocínio, o que a empresa perde é
a chance de ouvir o consumidor e oferecer o que ele realmente quer.
Todo este conceito, da informação
e interação ainda é um pouco novo, mas precisa começar
a ser assimilado. Afinal de contas, o mercado não é uma massa
amorfa, o mercado não é um conglomerado de corporações.
O mercado é formado de pessoas, que querem ser ouvidas sobre suas
necessidades específicas e dispostas a pagar para satisfazê-las.
Mas a contento. Elas querem conhecer você e sua empresa, que também
é um grupo de pessoas, e serem recebidas por mais que um:
- Você é o nosso visitante
de nº XYZ
Que tal recebê-las com um :
- Ei, queremos ajudar, do que você
precisa?
Se você também é
uma destas pessoas, que não gosta de ser tratada como Sr(a). Visitante
de Nº Tal, acha que a pessoa a quem você pretende vender um
produto, serviço ou conceito, gostaria?
Bem, este é um conceito relativamente
novo, o de dar vozes ao mercado. Estamos aprendendo, e é por isto
que eu acho que a Internet ainda se comporta como uma versão beta
do que ela realmente pode ser. É época de compartilhar informações,
de conversar sobre os erros e acertos, de participar efetivamente na construção
deste novo modelo de Internet.
Algumas boas informações
você pode ler em www.cluetrain.com/portuguese,
www.nova-e.inf.br/pensadores/manifesto.htm
e nos artigos do site www.marketinghacker.com.br.
Eu também gostaria de participar,
de saber o que você pensa, o que você precisa, no que você
pode ajudar. Que tal começarmos a conversar? Para que possamos estar
na rede como vozes que realmente têm algo a dizer, depois de ter
aprendido com o que ouviu. Que quando nos acessarem, as pessoas possam
repetir a famosa frase de D. Pedro II:
" - Meu Deus, isto fala!"
(*) Ana
Maria Gonçalves é publicitária e escritora em
Jundiaí/SP. |