Regime para emagrecer empresas
Mário Persona (*)
Colaborador
Ninguém
esperava por uma freada assim. Caminhoneiro diria que serviu para assentar
a carga. Eu perguntaria se ainda há carga. A ordem é reduzir
despesas nas empresas, buzinam os grandes nomes da consultoria. E cobram
bem para buzinar. Como a gordura já fora eliminada na lipoaspiração
de downsizings anteriores, o negócio é raspar o osso.
Algo difícil de roer.
A culpa da retração não
está na Somália nem no Gabão. Está na América,
que engordou demais. Agora os americanos decidiram parar de comer peru
e nós pagamos o pato. Como acontece em casa de madame, quando a
patroa faz regime quem emagrece é a empregada. O lado positivo é
que abrimos menos a geladeira e economizamos energia.
A economia é tanta que até
Coca aparece pela metade no outdoor. A moda agora é beber
empresa light. Eliminando calorias e mão de obra. Mas quem
falou em desemprego? Não existe mais isso. Nem emprego, nem desemprego.
Tudo isso acabou, depois que inventaram a economia informal.
Nas grandes corporações
há cada vez menos gente, trabalhando mais para produzir muito. Do
lado de fora, pequenas empresas e profissionais liberais desfrutam da liberdade
de poder escolher quando e onde devem trabalhar. Ou seja, sempre e em qualquer
lugar.
Néctar - Como é
a criatividade o néctar vital à sobrevivência de quem
não é operária, a colméia informal é
formada quase que exclusivamente por férteis rainhas. Mandaram às
favas a ilusória segurança do emprego vitalício para
habitar nos favos da Internet. Ali zunem em listas de discussão,
formam comunidades como a www.WideBiz.com.br,
e adoçam parcerias e estratégias do tipo eu-quebro-o-seu-galho-e-você-quebra-o-meu.
Fora do guarda-sol protetor e promovedor
de uma grande marca, o profissional em vôo solo descobre a importância
de criar sua marca pessoal. Vira ator. Já não trabalha numa
companhia de produção seriada, mas atua num filme de cada
vez. O que perde em regalia ganha em desenvolvimento pessoal, pois precisará
manter a imagem polida no aprendizado, se quiser brilhar.
Talvez esteja aí o segredo
dos profissionais liberais, que vivem motivados e são contratados
para motivar. Já não se sentem meros e anônimos figurantes
de uma superprodução, mas estrelas de produções
mais independentes. Descobriram que o mundo dos negócios não
é feito só de Julia Roberts. Também é possível
vencer sendo a Bruxa de Blair.
Lógica/Intuição
- As mulheres parecem se virar melhor neste universo paralelo. Sua natureza
é de resolver problemas, não de correr atrás de títulos
de CEO daqui ou doutor dali. São menos propensas a consumir títulos
anabolizantes do ego para exibir uma musculatura de poder. Além
disso, elas já nascem multitarefa. Conseguem executar várias
atividades simultâneas com a concentração de quem parece
imune a decibéis de queixas e choros infantis.
Mas talvez a maior qualidade das
mulheres seja a intuição. O mundo dos negócios se
assemelha cada vez mais ao caos de um lar cheio de filhos pequenos. Imprevisível
como o vômito do bebê, que elas resolvem sem perder a graça.
Enquanto os homens tentam se ancorar na lógica dos fatos e dos números,
as mulheres usam a bússola da intuição para voar numa
estratosfera de ventos caóticos. Sem perder o rumo ou o rebolado
nas freadas bruscas. Porque elas ocorrem quando menos se espera.
Aconteceu com um amigo. Quando terminamos
o curso de piloto privado, ele decidiu seguir carreira. Mas seu primeiro
vôo como co-piloto de um bimotor de passageiros quase acaba em tragédia.
Estava tão tenso que o piloto tentou distraí-lo mostrando
a paisagem. Apontou para um trem que passava lá embaixo e comentou:
"Olha o trem". O co-piloto não titubeou. Baixou na hora o trem de
pouso da aeronave a mais de quatrocentos quilômetros por hora. Uma
freada que quase levou a dentadura do último passageiro a morder
a nuca do primeiro.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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