Fibrose cística tem teste
obrigatório no Brasil
Geneticista brasileiro desenvolve
técnica de diagnóstico mais precisa
Através
do Ministério da Saúde, o governo brasileiro assinou no dia
6/6/2001 uma portaria que amplia o Teste do Pezinho, que passa a detectar
não apenas duas
doenças, Hipotireoidismo
Congênito e Fenilcetonúria, mas também agora a Fibrose
Cística e as doenças falciformes e hemoglobinapatias.
A fibrose cística, também
conhecida como mucoviscidose ou “doença do suor salgado”, é
uma das doenças genéticas mais freqüentes entre europeus
e norte-americanos. Na Europa e nos EUA, uma criança em cada 2500
nasce com essa doença, e uma pessoa em cada 25 nasce com a predisposição
genética a ter filhos com essa doença.
As crianças que nascem com
esse defeito genético têm muita tosse, várias pneumonias,
e não crescem direito por problemas de digestão causados
pela falta de enzimas do pâncreas. Elas têm de tomar remédios
para digestão em todas as refeições,
a vida toda, e têm de fazer fisioterapia para os pulmões várias
vezes ao dia. Mesmo com todos esses cuidados, no Brasil a metade dos pacientes
morre antes dos 10 anos de idade.
No Brasil já é possível
identificar na primeira semana de vida se um recém-nascido tem ou
não a fibrose cística, também conhecida como "doença
do suor salgado", ou mucoviscidose.
O médico geneticista paranaense
Salmo Raskin - um dos cientistas brasileiros integrantes do Projeto Genoma
-, defende em 6/2001 sua Tese de Doutorado sobre a Fibrose Cística,
no Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná.
Baseado em seus achados, Raskin desenvolveu um teste de DNA que pode ser
feito com uma única gota de sangue pingada em um papel de filtro
e enviado pelo correio ao seu Laboratório para análise.
Seus estudos que culminaram na Tese
de Doutorado tiveram início em 1990, e até agora Raskin já
pesquisou o genoma de mais de 3 mil recém-nascidos brasileiros,
nascidos no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São
Paulo e Minas Gerais. Ele identificou cerca de 90% dos erros que causam
essa doença nos brasileiros.
Método - Para facilitar
o envio de amostras de pacientes com suspeita de fibrose cística
dos mais diversos cantos do país, Raskin desenvolveu uma metodologia
nova, que permite que o exame do genoma seja feito com uma gota de sangue
do paciente. Pode ser feito também como rastreamento em bebês
normais, já no primeiro dia de vida. Funciona assim: o médico
ou a enfermeira da maternidade pinga uma gota de sangue do calcanhar da
criança num papel filtro, espera secar, e então encaminha
a amostra que traz o DNA intacto pelo Correio, como uma carta normal, que
passa a ser analisada pelo geneticista Raskin em seu laboratório
em Curitiba.
Esse método, que facilita
e barateia o exame, foi publicado por Raskin na revista científica
internacional “PCR Methods and Applications” em novembro de 1992, bem no
início do Projeto Genoma Humano. Desde então, Raskin já
publicou 10 trabalhos sobre o genoma dos pacientes com fibrose cística
no Brasil em revistas científicas internacionais.
“Encontrei diferenças muito
grandes entre os defeitos no gene da Fibrose Cística entre as crianças
brasileiras e as norte-americanas e norte-européias. Os erros genéticos
encontrados nos brasileiros são mais parecidos com os encontrados
nas crianças da Itália, Espanha e Portugal. Em alguns casos,
erros que só existem em certas regiões da Itália foram
detectados em crianças paranaenses e catarinenses”, afirma Raskin.
Incidência - Antes do
trabalho de Raskin não se sabia a real incidência da fibrose
cística no Brasil. Para investigar se a doença é realmente
rara aqui no Brasil ou se é pouco diagnosticada, Raskin adotou uma
estratégia de ponta, só possível de ser realizada
na era do Genoma. Analisou 3.000 recém-nascidos de cinco estados
brasileiros.
Os resultados foram surpreendentes
e mostraram que a incidência da doença no Sul do Brasil é
estimada em 1 caso em cada 6.800 nascidos, e portanto não é
tão rara como se pensava. Por exemplo, é mais freqüente
que as duas únicas doenças testadas obrigatoriamente no Teste
do Pezinho, a Fenilcetonuria e o Hipotireoidismo congênito. Esse
resultado confirma que cerca de 50% dos casos no Brasil não são
diagnosticados.
Em alguns lugares do País,
como no Rio Grande do Sul, a estimativa da incidência chega a 1 em
1587, ou seja, é tão freqüente quanto na Europa e nos
EUA. No Rio Grande do Sul, uma em cada 20 pessoas é portadora do
gene da fibrose cística, e um casamento entre dois portadores (em
cada 400 casais gaúchos, em um ambos são portadores). Nos
EUA, o teste para detectar estes portadores já é oferecido
a qualquer casal da população que queira saber se está
em risco de ter um filho com Fibrose Cística. São os avanços
do seqüenciamento do Genoma Humano trazendo seus primeiros resultados
práticos.
ESTADO
|
Estimativas
da Incidência da Fibrose Cística
|
Estimativa
de Pessoas Portadoras do gene da Fibrose Cística
|
RS
|
1 em
1.587
|
1 em
20
|
SC
|
1 em
12.048
|
1 em
56
|
PR
|
1 em
6.803
|
1 em
42
|
SP
|
1 em
32.258
|
1 em
90
|
MG
|
1 em
20.408
|
1 em
72
|
TOTAL
|
1 em
7.358
|
1 em
43
|
Fonte:
Dr. Salmo Raskin
|
Prevenção -
O teste de DNA desenvolvido por Raskin para a população brasileira
pode detectar se uma pessoa qualquer tem a propensão hereditária
para ter filhos com fibrose cística, permitindo que casais possam
planejar melhor suas vidas. O teste pode ser feito também durante
a gestação, ou no primeiro dia de vida do bebê junto
com o Teste do Pezinho, para fazer o diagnóstico o mais cedo possível
e iniciar o tratamento. Essa medida de precaução pode fazer
a diferença entre viver em média 10 anos, que é o
que acontece com as crianças brasileiras, ou 40 anos, no caso de
uma criança portadora norte-americana.
Justamente agora que o Teste do Pezinho
para Fibrose Cística foi adaptado por Raskin para a população
brasileira, o Governo Federal assinou uma portaria tornando obrigatório
em todo o território nacional o Teste do Pezinho para a Fibrose
Cística, junto àqueles já obrigatórios (Fenilcetonuria
e Hipotireoidismo congenito). Porém, alerta Raskin, “o teste do
Pezinho para Fibrose Cistica não deve ser feito apenas pelo exame
bioquímico na gota de sangue, mas sempre acompanhado do teste genético
do DNA na mesma amostra de sangue, pois o teste bioquímico sozinho
dá muitos resultados positivos que acabam não sendo Fibrose
Cística, o que pode gerar uma ansiedade desnecessária e inconveniente
aos pais”.
Conclusões - Os resultados
das pesquisas de Raskin permitem concluir que o mesmo teste genético
que é aplicado para crianças norte-americanas pode não
ser eficiente para as crianças brasileiras. Kits e testes
norte-americanos portanto não poderão ser usados para testes
genéticos no Brasil e em outros países que têm o componente
genético diferente dos norte-americanos. Mais do que isso, existem
diferenças nos erros genéticos mesmo entre nascidos nos diferentes
estados do Brasil e em um mesmo estado, entre descendentes de europeus
e africanos. Daí a importância de sua pesquisa determinando
os defeitos genéticos em pacientes brasileiros e desenvolvendo o
teste particularizado ao Brasil.
Outra descoberta de Raskin é
que a fibrose cística é muito pouco diagnosticada no Brasil.
Apesar da doença ser considerada muito rara em africanos e seus
descendentes, Raskin já detectou mais de 40 casos da doença
entre afro-brasileiros, por causa da mistura das raças no Brasil.
Nesse caso, foram os imigrantes europeus que trouxeram o gene da fibrose
cística para dentro da população afro-brasileira,
por miscigenação. É portanto, no Brasil, uma doença
que atinge todos os grupos étnicos de todos os Estados.
Doença genética
- A fibrose cística, também conhecida como mucoviscidose
ou "doença do suor salgado", é uma das doenças genéticas
mais freqüentes entre europeus e norte-americanos. Na Europa e nos
EUA, uma criança em cada 2.500 nasce com essa doença, e uma
pessoa em cada 25 nasce com a predisposição genética
a ter filhos com essa doença.
As crianças que nascem com
esse defeito genético têm muita tosse, várias pneumonias,
e não crescem direito por problemas de digestão causados
pela falta de enzimas do pâncreas. Elas têm de tomar remédios
para digestão em todas as refeições, a vida toda,
e têm de fazer fisioterapia para os pulmões várias
vezes ao dia. Mesmo com todos esses cuidados, no Brasil a metade dos pacientes
morre antes dos 10 anos de idade.
A descoberta dos erros genéticos
em nossa população pode um dia levar a cura da fibrose cística,
através da terapia gênica, e tornar a vida dessas crianças
menos salgada.
Salmo
Raskin é cientista, médico especialista em Pediatria e Genética
Clínica, diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório
Genetika, em Curitiba/PR. É doutor em Genética pela Universidade
Federal do Paraná e professor de Genética do curso de Medicina
da PUC-PR. É também membro titular da Sociedade Brasileira
de Genética Clínica, onde é o único médico
com habilitação em Genética Clínica Molecular.
O Laboratório Genetika,
de Curitiba, é pioneiro no Brasil na realização de
testes para doenças genéticas por DNA, oferecendo testes
para cerca de 400 doenças genéticas diferentes e possuindo
uma rede de mais de 1.500 laboratórios credenciados em todo o Brasil. |