O Novo Eixo do Poder
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
Em
primeiro lugar, é um prazer tê-lo conosco.
Eu não sei como este texto
chegou ao seu computador, mas fico feliz que isso tenha acontecido. Agora
é um momento muito especial para todos nós, e você
faz parte deste processo.
O mundo mudou muito rápido
nos últimos anos, não é mesmo? Transformações
políticas, sociais, ideológicas... nunca se viu tantas mudanças
em tão pouco tempo.
Antigamente, eram necessários
séculos para que uma transformação efetiva se consolidasse.
E isso acontecia gradativamente, ao longo de várias gerações.
No século passado, houve um
processo evolutivo mais acelerado, onde percebemos mudanças significativas
acontecendo em décadas e, mais recentemente, em poucos anos. Agora,
as mudanças acontecem em questão de meses. Em algumas disciplinas,
dias, horas ou minutos são suficientes para mudar o rumo dos acontecimentos!
Um artigo publicado hoje, está
desatualizado em poucos dias. Um livro não sobrevive mais que alguns
meses, sem uma necessária revisão...
É o conhecimento compartilhado
e multiplicado continuamente. É a integração de todos
os seres vivos em uma densa malha de relações humanas, capaz
de sentir as reações como um único corpo, em constante
movimento. Por isso, somos uma geração limítrofe.
Pela primeira vez na história da humanidade, reconstruímos
o nosso futuro a cada dia.
Logo viveremos um presente imprevisível,
pois os dados que nos permitem antecipar tendências e visualizar
o futuro são alterados durante a caminhada!
Geração dividida
- Esta geração é uma geração especial,
que está dividida e desorientada. De um lado, poucas pessoas tentando
reconstruir a realidade como bandeirantes intuitivos. Do outro, uma maioria
afoita, dispersa e pressionada por um presente inesperado. Uma realidade
para a qual não fomos preparados, totalmente oposta do que fora
prometido.
Quando ensaiamos os primeiros passos,
o mundo que nossos pais nos ensinaram era diferente do que vivemos hoje.
O que aprendemos nas escolas mudou completamente nos últimos anos.
Princípios e valores foram virados do avesso. E a segurança
de um futuro, que ainda se previa, deu lugar à mais completa escuridão.
Não nos deram lanternas. Apenas
uns gravetos espalhados pelo chão, que temos que reunir e esfregar,
na tentativa cega de gerar luz. Isso acontece porque não fomos preparados
para reconstruir a realidade no caminho!
Agora, sem aviso prévio, descobrimos
que o melhor conhecimento é a "humildade de aceitar que não
sabemos nada", que nos coloca na posição de eternos aprendizes.
Ainda falta entender e difundir que
a melhor tecnologia — talvez a única confiável — é
a intuição humana, pois o futuro que se apresenta nos obriga
a inovar e criar novas possibilidades em tempo real, com a matéria-prima
que temos em maior abundância: informações e experiências
compartilhadas.
Outra escola - São
afirmativas igualmente verdadeiras e surpreendentes. Não fazem sentido,
para quem aprendeu justamente o oposto nas escolas. Mas aquelas escolas
acabaram! Suas paredes foram derrubadas e o conhecimento se espalhou pela
vida. Não há mais verdades para ensinar. Apenas alguns
alicerces para o desenvolvimento intelectual humano, como línguas,
cálculos e conhecimentos gerais... o resto? O resto é imprevisível!
O resto está acontecendo e se transformando, dia após dia.
Das outras disciplinas específicas
— Física, Química, Biologia, Geografia, História...
— fica a importância do conhecimento básico e superficial,
cada vez mais enquadrado na categoria conhecimentos gerais. Em seu
lugar, cresce a necessidade de se ensinar mais sobre tecnologia da informação
e, sobretudo, relacionamentos humanos.
Mais importante que saber que a "hidrólise
da celulose, catalisada por microorganismos, forma o metano no gás
dos pântanos: (C6H12O5)n + n H2O à 3nCO2 + 3n CH4" (extraído
de uma apostila de pré-vestibular), é aprender a desenvolver
um bom networking pessoal e profissional, desenvolver suas capacidades
de comunicação e integração social, inteligência
emocional, leitura dinâmica, memória etc.
Nada contra os químicos, tão
importantes para nós. O que se faz urgente é uma conscientização
do que vem primeiro. O que torna mais fácil o aprendizado subseqüente?
Que tipo de informações serão relevantes para "acelerar
e facilitar o processo de aprendizado contínuo", necessário
a qualquer profissão?
Saber a fórmula do metano
não vai me ajudar numa entrevista de emprego, mas se eu tiver auto-estima
e uma boa capacidade de concentração, vou aprender a fórmula
de muitas substâncias em menos tempo, quando tiver essa necessidade.
Melhor, vou ter facilidade de encontrar a fórmula atual de uma nova
descoberta científica, e habilidade suficiente para aplicá-la
o quanto antes no meu dia-a-dia!
É fundamental entender que,
até a nossa geração, era possível preparar-se
durante o primeiro terço da vida, para então viver. O que
se aprendia, na educação familiar e nas escolas, era suficiente
para nos dar a base necessária de sobrevivência durante a
vida, no trabalho e nas relações sociais.
Hoje, tudo é muito diferente.
Não há mais essa possibilidade! O que se aprende nas escolas
é muito pouco para nos fazer competitivos no mercado. É muito
pouco para dar qualquer garantia ou embasamento profissional técnico.
Por isso, qualquer esforço nessa direção é
inútil e será desperdiçado.
Ter aprendido sobre o metano em um
curso pré-vestibular pode ajudar na aprovação, mas
não terá qualquer utilidade na vida da maioria dos jovens,
daí pra frente. A educação nunca mais será
como antes!
Choque cultural - No passado,
a realidade e suas verdades absolutas mudavam pouco durante
a vida de uma pessoa. Sempre havia uma ou outra grande descoberta científica,
e alguma revolução social, mas as alterações
que estas proporcionavam no modo de vida da população não
eram tão devastadoras. Aconteciam ao longo de vários anos,
com pouca ou nenhuma representatividade no curso de uma vida em si. Havia
um tempo suficiente para se absorver o impacto! Nos últimos anos,
porém, já percebemos um choque cultural muito sério
no que se costuma chamar de terceira idade.
Os que nasceram entre 1910 e 1930
certamente foram os que mais sofreram dessas transformações,
pois viveram dois terços da vida em uma realidade previsível,
e assistiram à transformação de todas as suas crenças
e valores em uma fase de vida avançada, quando é mais difícil
compreender e recomeçar. Estes sofreram muito na década de
1970, com a liberação sexual e o novo posicionamento da mulher
(com o efeito inconsolável dos biquinis e mini-saias em suas filhas).
A queda de vários tabus e o auge da juventude contestadora (sexo,
drogas e rock'n'roll) fizeram daquela época o maior choque
de gerações em toda a história.
Alguns poucos atravessaram ilesos,
com a ajuda de seus familiares ou por já terem o hábito da
curiosidade aguçada. Os que desenvolveram a capacidade de amar incondicionalmente
seus filhos e netos, aceitando as diferenças e perdoando os erros,
também sofreram menos.
Os nascidos entre 1930 e 1950 estão
no segundo grupo mais traumatizado por essas transformações,
pois foram pegos de surpresa na maturidade, já afetando, sensivelmente,
o segundo terço de suas vidas. Desses, até os nascidos em
1970, muitos sofreram com o desemprego e a insegurança profissional.
Muitos foram obrigados a engolir em seco diante de injustiças evidentes,
como a desvalorização do seu trabalho, a mudança de
regras de aposentadoria e estabilidade, e a conseqüente queda no seu
padrão de vida.
Nesta geração, que
se acostumou com a prosperidade e descobriu a ambição de
viver bem, com poder, dinheiro e influência,
o maior desastre foi a baixa auto-estima. Os jovens yuppies bem-colocados
daquela época, agora desempregados ou subempregados, experimentaram
o bom e o ruim do capitalismo selvagem na pele. Sentiram-se importantes
demais, poderosos demais e não esperavam pelo pior, mas caíram
do cavalo e agora estão sozinhos. As amizades construídas
com dinheiro, poder e influência não
passavam de miragens.
Nova era - Daí pra
frente, as primeiras mudanças ajudaram a compreender as seguintes.
Os nascidos entre 1970 a 1990, nos quais me incluo, acompanharam uma sociedade
menos hipócrita e menos segura, desde o princípio.
Desde novo aprendi a não acreditar
no futuro. Aprendi a não depositar minhas esperanças de felicidade
e prosperidade no futuro, pois ele nunca se realizou pra mim. O futuro
que aprendi aos 10 anos de idade não aconteceu. O presente dos 15
foi diferente! E o futuro que idealizei aos 15, não é verdade
aos 26.
Não acredito mais no futuro,
pois o que vislumbramos é uma projeção dos dados que
temos hoje. Os dados que farão o verdadeiro futuro acontecer não
foram criados ainda. Não são esses que temos hoje, ao nosso
alcance de compreensão...
Não acreditar no futuro pode
parecer o fim dos tempos. Pode soar como desespero ou pessimismo, pois
o futuro sempre foi usado como sinônimo de esperança nas gerações
passadas. Era uma forma cega de aceitar o presente com suas dificuldades,
sem esmorecer nem desanimar diante de tantos problemas. O futuro sempre
seria algo bom!
Mas a minha esperança não
está mais presa ao futuro. Ou melhor, o futuro tem um significado
diferente do que se usava antes. Aquela esperança que os nossos
antepassados projetavam para anos à frente, eu projeto para amanhã.
No mais tardar, semana que vem. Este futuro de semanas e meses ainda existe...
ainda.
Outro futuro - Ao mesmo tempo
em que a diminuição do futuro para a dimensão de alguns
poucos meses, traz, em seqüência, um completo vazio de significado
(depois do futuro previsível), abre espaço para que se possa
imaginar qualquer coisa a partir de então. O que virá, daqui
a dois anos? Não sei... realmente não sei... mas imagino
que serão coisas boas. A diferença é que não
decido meus passos em função deste futuro longínquo.
Essa nova condição
de futuro me impede de acreditar também no significado de segurança,
da forma que se costumava dizer no passado: "trabalhe hoje para ter segurança
amanhã". Aposentadoria? Segurança no fim da vida???!!! Sinceramente,
soa como piada. Afinal, o mundo que eu vejo é um mundo de idosos
desamparados por essa promessa de dignidade garantida, apoio governamental
etc.
Não acredito mais na instituição
governo,
como uma entidade que protege os cidadãos. Sei de sua importância
organizacional, mas se tivesse que arriscar um palpite, diria que os governos
mudarão completamente sua forma de agir nos próximos anos.
Não acredito mais nessas instituições, governadas
por seres humanos covardes e protegidos por uma fortaleza. Validados por
um poder emprestado, por uma imagem fabricada e ilusória, sobre
o qual temos pouco controle e eles têm pouca responsabilidade.
No mundo em que vivemos, acredito
em poucas coisas e em poucas verdades que me ensinaram, pois sei
que a maioria delas estão caducas ou prestes a caducar, simplesmente
por não terem sido criadas para a realidade que temos hoje.
O mundo que aprendemos foi um mundo
fabricado pelas empresas de comunicação, através do
seu poderio e influência. Foi um mundo criado por apresentadores
de rádio e TV, propagandas de cigarro e ilusões... muitas
ilusões...
Crenças - Acredito
mais nos livros, nas idéias dos iluminados pensadores e filósofos...
pois acredito, cegamente, na intuição humana. Ela, sim, aponta
na direção correta!
Acredito que temos a cura para todos
os males dessa sociedade auto-destrutiva, e que não estamos muito
longe de encontrar um caminho. Afinal, hoje dispomos das ferramentas necessárias
para essa correção de rumo.
A esperança continua viva.
Ou melhor, está mais viva do que nunca!!! Eu acredito muito na inteligência
do ser humano! Não aquela inteligência individual e mesquinha,
sinônimo de esperteza, que nos trouxe ao fundo do poço social.
Acredito na inteligência coletiva, nobre e humilde, que nos permitiu
construir as maravilhas da tecnologia e da existência humana.
Não acredito na inteligência
de capitalistas aproveitadores, que apenas fazem contas para mensurar seus
lucros e as prestações de seu conforto material. Acredito
nos inventores e pensadores de visão maior, intelectuais que nunca
fizeram tanto dinheiro porque se orientavam por um ideal mais digno: realizar
algo bom para a humanidade, disseminar ideais positivos, ensinar, ajudar...
Acredito no desapego, na atitude
solidária. Acredito naqueles que criam o progresso. Não aqueles
que se aproveitaram de idéias alheias para esgotar nossos solos,
poluir nossas águas e extrair riquezas que compravam poder...
E essas crenças não
são fruto de alucinação, devaneio ou utopia. São
fortalecidas por uma lógica cada vez mais evidente em nosso meio:
o desvio do eixo nas relações de poder.
Palavras... - Poder
é uma palavra-chave neste livro, pois sempre foi o motor da humanidade
e o termômetro das relações humanas.
Ao longo de toda a nossa existência,
o poder foi medido de várias formas. Primeiro pela força
física, depois pela hereditariedade e, por último,
pelo dinheiro. Para muitos, ainda, dinheiro é sinônimo
de poder. Aos poucos, este poder ganhou também a característica
da influência, que costumamos confundir com dinheiro.
No momento, ainda vivemos em uma
sociedade acostumada com os valores dinheiro e influência
andando juntos. Ao observar quem tem poder, temos a impressão
de que, para ter influência, é necessário ter
dinheiro.
Entretanto, é uma noção
que está se esvaindo aos poucos. Eu diria que a influência
seria uma transição do dinheiro para credibilidade,
como sinônimo de poder. Sim, o eixo do poder está
saindo do dinheiro, passando por influência, para chegar
até credibilidade.
Já percebemos alguns casos
em que a credibilidade e o poder vêm antes do dinheiro.
E começamos a aceitar que a credibilidade também influencia
e traz poder.
Muitos ainda confundem o termo credibilidade,
acreditando que os ricos têm sempre este valor. Mas a verdade não
é bem essa. Credibilidade nada tem a ver com riqueza!
As confusões envolvendo os
termos dinheiro, credibilidade, influência e
poder
são características da nossa geração, que é
uma geração transitória. Estamos no meio de um processo
migratório, onde o que aprendemos no passado não se traduz
na prática.
Se isto parece confuso demais, não
se preocupe em entender. Aos poucos, você perceberá melhor
essas nuances.
O importante é perceber que
o valor credibilidade está em alta, e que ele não
tem nada a ver com dinheiro. Credibilidade se conquista com ações
positivas, boas idéias, bons pensamentos e bons relacionamentos.
Credibilidade não se compra, se constrói. Se conquista!
Credibilidade não é
fruto da força ou hereditariedade. Não é
um bem mensurável, com a mesma facilidade de uma conta bancária.
Credibilidade é um valor subjetivo que, apesar de sua natureza invisível,
influencia tudo o que nos cerca.
A credibilidade abre e fecha portas.
Ou seja, credibilidade é o combustível de uma era caracterizada
pelas redes, pelos contatos e pelos relacionamentos.
Outras eras - A Era do Conhecimento
já foi. Estamos na Era dos Relacionamentos. Nesta Era, o bem mais
precioso, por incrível que pareça, é a sua palavra.
Sua imagem, suas atitudes positivas e sua capacidade de compartilhar o
que tem.
O lado bom de tudo isso é
que, pela primeira vez, o valor que caracteriza poder não
é escasso, nem excludente. Não é uma característica
física ou hereditária. Quando nascemos, todos estamos em
condições praticamente iguais no que se refere à credibilidade.
No início, temos o apoio familiar
e algumas portas abertas em função disso, mas é só.
Daí por diante, caminhamos com nossas próprias pernas. Desenvolvemos
laços de relacionamento pessoal e profissional segundo os nossos
próprios critérios, e com as nossas próprias atitudes.
Se agimos como egoístas, espertos,
relapsos e irresponsáveis, perdemos credibilidade. Se somos solidários,
amigos, participantes e positivos, ganhamos credibilidade!!!
Ainda parece utopia? Tenha calma...
estamos prontos para começar!
Só quero te pedir atenção
e alguma credibilidade inicial, para explicar melhor tudo isso.
Este artigo é a introdução
do meu segundo livro, que está sendo escrito agora. Nas próximas
semanas, estarei publicando novas idéias nessa direção.
Apesar do estranhamento inicial,
tenho certeza que você terá algumas revelações
importantes. Em algum momento, é provável que tudo comece
a fazer sentido e, ao final do livro, estaremos lado a lado nessa jornada.
Acredite um pouco em mim, pois eu
acredito muito em você! E nós precisamos demais de você...
Seja bem-vindo!
(*) Sérgio
Buaiz é publicitário e escritor, participando também
nos sites Widebiz, Vencer,
Wwwork,
Vendamais,
Economiabr,
Surftrade,
Nettudo,
Nova-e,
Paranashop,
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