"APAGÃO"
O apagão nos define
Alessandro Atanes (*)
Colaborador
E o apagão
virou metáfora do país. Além do apagão
de energia elétrica, temos o apagão jurídico,
o político, o moral, o dos celulares. O termo pontua as conversas
e resume as manchetes. Mas não é só. Já sofrido
há algum tempo por boa parte da população é
o apagão salarial. Funcionários públicos já
não recebem aumento há sete anos e poucas categorias conseguem
equiparar as perdas no poder de compra.
Quem não reclama do apagão
que a Receita Federal proporcionou na correção da tabela
do imposto de renda? Do apagão democrático durante
a ditadura militar, ou do apagão econômico da década
perdida?
Talvez a palavra tenha feito sucesso
porque substitui déficit, ainda um tanto estranha aos ouvidos. Veja
como se encaixa: apagão habitacional, da balança comercial,
do número de leitos nos hospitais, do número de policiais
nas ruas, da quantidade de jovens que chegam às universidades, do
número de casas com rede de esgoto.
Em Santos testemunhamos o apagão
do Centro e do Gonzaga, dos empregos (chegamos a 20% de desempregados,
mostra o Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas), do comércio,
das atividades na praia. Guarujá só sai do apagão
na temporada de verão, Cubatão viveu e luta para deixar no
passado a imagem de apagão ambiental. Sem falar no apagão
dos projetos metropolitanos após as prefeituras da região
terem combinado pegar de volta as contribuições para o Conselho
de Desenvolvimento da Baixada Santista.
Fica fácil agora propor ao
cidadão que economize energia, que vote direito, que faça
greve por melhores salários, que seja voluntário. Mas isso
é hipocrisia. Apaguei.
(*) Alessandro
Atanes, jornalista, é editor do site Baixada
Econômica. |