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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/01/01 11:39:36
"APAGÃO"
O apagão nos define 

Alessandro Atanes (*)
Colaborador

E o apagão virou metáfora do país. Além do apagão de energia elétrica, temos o apagão jurídico, o político, o moral, o dos celulares. O termo pontua as conversas e resume as manchetes. Mas não é só. Já sofrido há algum tempo por boa parte da população é o apagão salarial. Funcionários públicos já não recebem aumento há sete anos e poucas categorias conseguem equiparar as perdas no poder de compra.

Quem não reclama do apagão que a Receita Federal proporcionou na correção da tabela do imposto de renda? Do apagão democrático durante a ditadura militar, ou do apagão econômico da década perdida?

Talvez a palavra tenha feito sucesso porque substitui déficit, ainda um tanto estranha aos ouvidos. Veja como se encaixa: apagão habitacional, da balança comercial, do número de leitos nos hospitais, do número de policiais nas ruas, da quantidade de jovens que chegam às universidades, do número de casas com rede de esgoto. 

Em Santos testemunhamos o apagão do Centro e do Gonzaga, dos empregos (chegamos a 20% de desempregados, mostra o Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas), do comércio, das atividades na praia. Guarujá só sai do apagão na temporada de verão, Cubatão viveu e luta para deixar no passado a imagem de apagão ambiental. Sem falar no apagão dos projetos metropolitanos após as prefeituras da região terem combinado pegar de volta as contribuições para o Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista.

Fica fácil agora propor ao cidadão que economize energia, que vote direito, que faça greve por melhores salários, que seja voluntário. Mas isso é hipocrisia. Apaguei.

(*) Alessandro Atanes, jornalista, é editor do site Baixada Econômica.