"APAGÃO"
Nada de escuro, diz ex-ministro
Está
repercutindo em listas de debates (foi postada na lista sobre negócios
Widebiz
por Adler Cerqueira e Luiz Eduardo Cirne Correa, em 26/5/2001) a declaração
do ex-ministro da Educação, professor José Goldemberg,
resgatada da edição
de 15/2/2001 de Dinheiro na Web, (site da Editora Três,
publicadora da revista semanal Isto É), quando disse à
entrevistadora Betina Piva que a crise de energia está sendo fabricada.
Na introdução
da matéria, a publicação se refere ao fim de mais
um período com horário de verão, analisando:
"A Aneel garante que, sem o horário, seria preciso gastar cerca
de R$ 2,3 bilhões na construção de duas usinas térmicas
a gás para dar conta do aumento da demanda nos horários de
pico (entre seis e dez horas da noite). Mesmo assim, as geradoras continuam
chiando. Chegaram a dizer que os reservatórios de água, que
fazem girar as turbinas nas hidrelétricas, terminaram o ano passado
com 25% de sua capacidade. Em situações normais, estariam
pela metade. Ou seja: já estaríamos correndo riscos de apagões.
Para conferir esses números a DINHEIRO NA WEB consultou o professor
José Goldemberg, um dos maiores especialistas em energia do País.
Ministro da Educação no governo Collor, Goldemberg foi também
secretário de governo em São Paulo por duas vezes. Professor
do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São
Paulo, ele concedeu a seguinte entrevista:
DINHEIRO NA WEB: Vivemos hoje uma
crise aberta e mundial da energia hidrelétrica?
JOSÉ GOLDEMBERG: A crise de
energia é exagerada no Brasil por interessados em promover a instalação
de novos usinas sejam elas hidrelétricas, a gás ou nucleares.
Se o consumo fosse maior que a geração de energia, estaríamos
no escuro. O sistema está equilibrado. Mesmo assim o País
importa energia da Argentina e Venezuela. Mas não há nada
de errado nisso. É como importar trigo. Além do mais, o Brasil
importa menos de 5% da energia que consome. Ouve-se falar na crise energética
há pelo menos duas décadas e até hoje não faltou
energia. A verdade é que existem grupos interessados em fazer obras.
Isso até que funcionava quando o governo tinha controle sobre o
setor. Esses grupos pressionavam o governo que, por sua vez, destinava
recursos para as obras. Hoje como parte do setor está nas mãos
da iniciativa privada é um pouco mais difícil. Mas ainda
assim, os grupos ficam tentando.
DINHEIRO NA WEB: Como assim?
JG: Um exemplo: há uma campanha
orquestrada na imprensa para acabar as obras de Angra III, "caso contrário
o Rio vai ficar no escuro". O sistema brasileiro é interligado,
se faltar energia na região do Rio de Janeiro, ela virá do
sul ou de São Paulo.
DINHEIRO NA WEB: Então não
há necessidade de construir novas usinas?
JG: É necessário construir
para acompanhar o crescimento, mas a idéia de que isso deve ser
feito por que a energia vai acabar é incorreta. Esta idéia
só é usada para promover interesses pouco claros e arrancar
recursos do governo. Como o governo não tem recursos, surgem então
pressões pelo aumento das tarifas. E por aí afora.
DINHEIRO NA WEB: Não seria
melhor priorizar fontes alternativas de energia?
JG: O consumo de energia do Brasil
cresce a 5% ao ano e a potência instalada é de cerca de 2.500
megawatts por ano. Fontes alternativas (como fotovoltaicas) não
produzem a quantidade de energia necessária. Ou seja, os investimentos
precisam ser feitos mesmo nas fontes chamadas convencionais.
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