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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/26/01 18:46:34
"APAGÃO"
Nada de escuro, diz ex-ministro 

Está repercutindo em listas de debates (foi postada na lista sobre negócios Widebiz por Adler Cerqueira e Luiz Eduardo Cirne Correa, em 26/5/2001) a declaração do ex-ministro da Educação, professor José Goldemberg, resgatada da edição de 15/2/2001 de Dinheiro na Web, (site da Editora Três, publicadora da revista semanal Isto É), quando disse à entrevistadora Betina Piva que a crise de energia está sendo fabricada.

Na introdução da matéria, a publicação se refere ao fim de mais um período com horário de verão, analisando: "A Aneel garante que, sem o horário, seria preciso gastar cerca de R$ 2,3 bilhões na construção de duas usinas térmicas a gás para dar conta do aumento da demanda nos horários de pico (entre seis e dez horas da noite). Mesmo assim, as geradoras continuam chiando. Chegaram a dizer que os reservatórios de água, que fazem girar as turbinas nas hidrelétricas, terminaram o ano passado com 25% de sua capacidade. Em situações normais, estariam pela metade. Ou seja: já estaríamos correndo riscos de apagões. Para conferir esses números a DINHEIRO NA WEB consultou o professor José Goldemberg, um dos maiores especialistas em energia do País. Ministro da Educação no governo Collor, Goldemberg foi também secretário de governo em São Paulo por duas vezes. Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, ele concedeu a seguinte entrevista: 

DINHEIRO NA WEB: Vivemos hoje uma crise aberta e mundial da energia hidrelétrica? 

JOSÉ GOLDEMBERG: A crise de energia é exagerada no Brasil por interessados em promover a instalação de novos usinas sejam elas hidrelétricas, a gás ou nucleares. Se o consumo fosse maior que a geração de energia, estaríamos no escuro. O sistema está equilibrado. Mesmo assim o País importa energia da Argentina e Venezuela. Mas não há nada de errado nisso. É como importar trigo. Além do mais, o Brasil importa menos de 5% da energia que consome. Ouve-se falar na crise energética há pelo menos duas décadas e até hoje não faltou energia. A verdade é que existem grupos interessados em fazer obras. Isso até que funcionava quando o governo tinha controle sobre o setor. Esses grupos pressionavam o governo que, por sua vez, destinava recursos para as obras. Hoje como parte do setor está nas mãos da iniciativa privada é um pouco mais difícil. Mas ainda assim, os grupos ficam tentando. 

DINHEIRO NA WEB: Como assim? 

JG: Um exemplo: há uma campanha orquestrada na imprensa para acabar as obras de Angra III, "caso contrário o Rio vai ficar no escuro". O sistema brasileiro é interligado, se faltar energia na região do Rio de Janeiro, ela virá do sul ou de São Paulo. 

DINHEIRO NA WEB: Então não há necessidade de construir novas usinas? 

JG: É necessário construir para acompanhar o crescimento, mas a idéia de que isso deve ser feito por que a energia vai acabar é incorreta. Esta idéia só é usada para promover interesses pouco claros e arrancar recursos do governo. Como o governo não tem recursos, surgem então pressões pelo aumento das tarifas. E por aí afora. 

DINHEIRO NA WEB: Não seria melhor priorizar fontes alternativas de energia? 

JG: O consumo de energia do Brasil cresce a 5% ao ano e a potência instalada é de cerca de 2.500 megawatts por ano. Fontes alternativas (como fotovoltaicas) não produzem a quantidade de energia necessária. Ou seja, os investimentos precisam ser feitos mesmo nas fontes chamadas convencionais.
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