"APAGÃO"
Os interessados nas decisões
A
quem interessam as decisões nacionais sobre energia elétrica
tomadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e sua equipe? Uma pista
para a resposta pode estar em uma mensagem, postada
na lista de debates sobre negócios Widebiz
em 24/5/2001, repassando texto que circula na Internet brasileira. Veja
também o comentário sobre
a tropa de advogados mobilizada pelo governo e o texto
de Fritz Utzeri, que relata apagão semelhante ocorrido
no reino de Pizzia. E comece com a foto, que muitos relacionam com o fato:
O presidente FHC tem atitudes
peculiares em relação aos brasileiros, segundo seus críticos,
que estão promovendo a circulação desta sugestiva
imagem, em meio aos comentários sobre o racionamento de energia
elétrica.
A foto, de autoria não
citada, foi repassada a Novo Milênio pelo internauta J. Carlos
Santana C. em 15/5/2001, com um texto crítico de Júlio Pichel.
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Algumas contas
podem indicar como são tomadas as decisões nacionais no âmbito
energético:
Assunto: [widebiz] decisões
sobre energia no país
Data: Thu, 24
May 2001 04:16:55 -0000
De: aleporto@****.com.br
Energia
"Vamos fazer umas contas para ver
em interesse de quem são tomadas as decisões sobre energia
no país. Os R$ 10 bilhões gastos para construir a usina de
Porto Primavera (SP), que vai gerar energia para 1,5 milhão de pessoas,
dariam para financiar aquecedores solares para 10 milhões de casas
(considerando o preço médio de R$ 1.000 para uma unidade
que abastece um chuveiro, o responsável pela metade da fatura).
Se em cada casa moram, em média,
quatro pessoas, tal opção atenderia à metade do consumo
de cerca de 40 milhões de pessoas ou ao consumo total de 20 milhões
de pessoas. Ou seja, 13 vezes a energia gerada pela famigerada usina, que,
aliás, é um desastre ambiental.
Só que teríamos 20
milhões de consumidores a menos, e as empresas, agora privatizadas,
deixariam de arrecadar cerca de R$ 200 milhões por mês.
Pergunto: eles querem que economizemos
energia? Creio que só agora, durante a estiagem. Voltando as chuvas,
talvez tenhamos novos pombinhos publicitários promovendo campanhas
para que o povo abandone o péssimo costume de economizar."
Paulo César
de Almeida Raboni,
professor do Departamento de Educação
da Unesp
(Presidente Prudente, SP)
Outra mensagem
na mesma lista Widebiz denuncia os métodos empregados pelo governo:
Assunto: [widebiz] Apagão
irá atropelar a constituição
Data: Wed, 23
May 2001 08:58:10 -0300
De: "Silas E. Brito" <***@***.br>
(...)
Acreditem, o governo destacará
+/- 600 advogados para assessorar as distribuidoras de energia em todo
o país contra as ações populares e de empresas.
Outro detalhe, uma comissão
visitará todos os Juizes para explicar-lhes sobre a importância
do plano e tentar convence-los a decidir favorável ao governo nas
ações... é mole?
Pelo meu pouco conhecimento, sei
que as partes envolvidas em uma ação não pode interferir
diretamente na decisão do JUIZ, agora pergunto, o que esta comissão
irá fazer?
- Atropelar a constituição?
- Inventar Jurisprudência?
- Decidir pelos Juizes?
Será que as empresas e a população
também terão direito de tomar café com biscoito nas
salas dos juizes e explicar-lhes o pq do absurdo da taxa extra?
Heeee BraZil........
Ps: Se falei alguma besteira me corrijam
por favor...
Este artigo
foi recebido por Novo Milênio em diversas listas de debates
na Internet. No repasse feito em 20/5/2001 na lista Idioma, pelo
internauta Paulo Henrique M. De Oliveira, consta ter sido publicado no
Jornal
do Brasil de 13/5/2001:
Assunto: Re: [widebiz] Sobre apagões
e coisa e tal
Data: Mon, 21
May 2001 15:30:34 -0300
De: "Paulo Bicarato" <bicarato@****.com.br>
PessoALL,
Segue então um texto do Fritz
Utzeri. O apagão, pelo jeito, está iluminando a inspiração
de muita gente...
Abraços,
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"Eu, Utzerius
Adeps, escrevo estas linhas hesitantes à luz de um candeeiro. Estamos
na era das trevas e, graças à clemência da deusa Fortuna,
nosso frio não mata. Falo de minha terra, a Pízzia, que está
no escuro e é governada por um rei instruído, que parecia
bem preparado: Henríkeos. Ele chegou ao poder em meio a grandes
esperanças e, assim que sentou no trono, criou duas máximas:
'É fácil governar a Pízzia' e 'esqueçam o que
escrevi'.
O começo
foi até bom e o povo o amava. Estabilizou o talento, moeda que andava
fraca, mas logo fascinou-se pelo poder. Sua imensa vaidade tomou conta
dele, turbou-lhe o raciocínio e as coisas começaram a dar
errado. O mal mais recente que nos aflige é a ira do deus Elektron,
que faz sofrer meus olhos cansados, com a pouca luz que ilumina a ponta
de meu cálamo.
Elektron vive
numa furna, perto de uma grande cachoeira, e tem o poder de trazer a luz
ao povo de Pízzia, afastando o escuro e o medo. A refrega com Elektron
começou quando o rei parou de construir templos para o deus e pensou
em traí-lo, esquartejá-lo, enfraquecê-lo, retirar seu
poder e entregar o segredo da luz a quem lhe pagasse. O deus, irado, secou
a cachoeira e o povo de Pízzia começou a mergulhar em trevas.
A situação de Henríkeos é má. A ira
do deus da luz é mais um sinal dos céus de que algo terrível
se anuncia. Os oráculos prenunciam tempos duros.
No areópago
os legisladores brigam. Acemus, grande condestável e aliado de Henríkeos
(houve até quem dissesse que ele governava de fato), começou
a divergir do rei, acusando-o de ser benevolente com Corruptus, deus com
muitos seguidores em Pízzia. Mas Acemus violou o segredo da urna
sagrada do alto areópago e, imprudente, foi traído pela língua,
jactando-se do feito a ninguém menos que ao Inquisitor Pravus, um
dos procuradores mais perigosos do reino. Inquisitor contou aos arautos,
que espalharam a nova pelas ágoras de Pízzia.
Acemus viu-se
acusado pelo crime e, sem saída, incriminou outro legislador (então
líder de Henríkeos no areópago), Mendax Arrudius,
de ter encarregado a vestal guardiã da urna sagrada de violar o
segredo ritual dos legisladores, quando eles decidiam a sorte de um dos
seus; um certo Estefanus, posto em ostracismo, acusado de cobrar mais do
que gastava para construir templos, embolsar os talentos, e não
entregar as obras no prazo, crime que já motivara a prisão
do alto magistrado Lalausium.
Em meio à
confusão, e a uma série de episódios dramáticos,
os legisladores encarregados de entregá-los ao ulgamento dos membros
do alto areópago ganham tempo enquanto decidem o que farão.
Muitos querem perdoar Acemus, e evitar o seu ostracismo, mas têm
medo do voto dos cidadãos que - revoltados - podem acabar banindo-os
em breve, quando deverão escolher novos legisladores e um novo rei.
O sumo legislador
do alto areópago, Jaderius, é acusado de ter-se apropriado
do velocino de ouro - há quem diga que se trata de um suda(m)rio
de ouro para criar rãs sagradas, cuja maior propriedade é
a de serem invisíveis. Jaderius duelou durante meses com Acemus,
que queria impedi-lo de presidir o alto areópago. Jaderius e Acemus
acusavam-se mutuamente de ladrões (e aos olhos dos cidadãos
de Pízzia, ambos davam a impressão de dizer a verdade).
O rei favoreceu
Jaderius, que ganhou a luta por pouco tempo, antes de ser atropelado pelo
aparecimento das rãs em fúria. Em Pízzia, uma praga
sucede a outra numa velocidade espantosa. Nem no Egito de nossos avós
viu-se coisa semelhante. Acemus, Mendax Arrudius e Jaderius ainda não
foram julgados e já apareceu Bezerrus (igualmente de ouro) para
confundir ainda mais as coisas.
Alguns legisladores,
inimigos e amigos de Henríkeos, pretendiam libertar os manes presos
nos armários do palácio e esclarecer as muitas coisas estranhas
que andaram ocorrendo no reino. O rei se opõe. Diz que os manes
devem ficar onde estão, pois sua presença espantaria uma
entidade que passou a adorar, com fervor, um deus nórdico, estrangeiro:
Investithor. Dizem-nos que esse deus é muito rico e Henríkeos
acredita que vai resolver os problemas de Pízzia. O rei governa
para Investithor. Seus templos, as argentárias, têm recebido
generosas oferendas em talentos. Sacrificam-se os nativos em meio a descontentamento
e barganha política. Pízzia só resiste porque é
uma terra de imensos recursos.
Acusam o rei
de ter comprado votos no areópago para mudar as leis e ficar mais
tempo no trono, quebrando regras ancestrais. Outros falam em tenebrosas
transações nas fundas minas de nossa terra, ou com os deuses
que têm o poder de transmitir as palavras. Outros ainda, querem saber
se há ouro subtraído do Tesouro em ilhas distantes, sob a
proteção de um grande caimão, espécie de lagarto
sagrado, que guarda segredos, vela por propriedades (e apropriações),
sem jamais perguntar de onde vieram, e que é capaz de purificar
qualquer coisa suja, como moedas e papéis.
Enquanto isso,
boa parte do povo de Pízzia não pode mais passear nas ágoras,
que se tornaram verdadeiras éphodas, onde a vida dos cidadãos
é ameaçada por foras-da-lei. Os pizzianos assistiram à
cruzada de Henríkeos contra os que querem exumar os manes e denunciar
o que está acontecendo no país. Na última hora, o
rei recomprou lealdades perdidas com 60 milhões de talentos de ouro.
Tudo feito
à meia-noite, hora de falar com espíritos (e facínoras),
por artes de Jaderius; feitiço antigo, apreciado pelo deus Corruptus.
Os manes indesejados foram, enfim, esconjurados e vão continuar
sepultados guardando seus segredos para alívio de Investithor. Mas
paira no ar um forte cheiro de podridão...
A escuridão
se abate sobre Pízzia, enquanto os cidadãos, estomagados,
cantam velha música de antigo compositor: 'E o povo/já pergunta
com maldade/onde está a honestidade?/onde está a honestidade?...'
Estamos a um passo de dizer que talvez Henríkeos não seja
tão alheio assim à bandalheira, pois insiste em ignorar um
dito sábio de nossos avós: 'quem não deve não
teme'.
Enquanto isso,
Tigris Magnus, em seu currus automatarius, grita a plenos pulmões
ao bater sincopado do tambor: Omnia sub imperio exstant! ou, em
tom de latinice: Totus dominatus est! (Tá tudo dominado!)
Vivemos muito próximos da barbárie. Duros são os tempos
que estes olhos cansados testemunham.
Que os deuses
nos protejam de tanta desgraça!"
Dá para
acreditar numa história dessas? Esses historiadores antigos inventavam
cada coisa...
Pequeno léxico
para entender Historia antiqua:
Adeps:
gordo
Ágora:
praça
Areópago:
assembléia de notáveis
Argentaria:
banco
álamo:
cana ou pena talhada em ponta, usada para escrever
Currus
Automatárius: bonde, cf. Manual de conversação
em latim moderno, de Davide Astòri (Ed. Avvalardi - 1995.)
Éphoda:
ágora perigosa e suja. Em sânscrito antigo?
Latinice:
uso presumido ou indevido do latim, falso latim
Magnus:
grande. Tigris Magnus é Tigrão
Manes:
espíritos ancestrais. Podem ser, por analogia, fantasmas ou esqueletos.
Esqueletos no armário, significa coisa ruim que é melhor
esconder
Mendax:
mentiroso
Pravus:
torto
Talento:
antiga moeda grega e romana
Velocino:
carneiro mitológico com lã de ouro.
Fritz Utzeri
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