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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/24/01 16:45:38
"APAGÃO"
Defendendo o consumidor - 1

Esta página está sendo retransmitida pelos internautas através do correio eletrônico, apresentando a posição do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em relação às medidas propostas pelo governo federal  para o racionamento de energia elétrica. Foi retransmitida a Novo Milênio em 4/5/2001:

Cabe recordar que existem alternativas mais racionais que o racionamento irracional proposto pelas autoridades, que cria uma série de problemas gerenciais, invade a privacidade do cidadão (que passa a ter de explicar em quê e por quê consome energia elétrica), causa desemprego e retrocesso econômico. 

É problema do governo encontrar agora soluções legais para a crise, ou admitir de vez sua incompetência e solicitar o concurso da sociedade para a busca dessas soluções, em lugar de impor medidas que a população, escaldada por eventos anteriores em que a palavra da autoridade não foi honrada -, tem justos motivos para acreditar que servem a outros interesses que não o benefício da sociedade brasileira:
 
Obs.: por ser "espelho" de página, alguns vínculos e funcionalidades abaixo podem não estar disponíveis:
Posição do Idec sobre o racionamento de energia elétrica

O racionamento no fornecimento de energia elétrica proposto pelo governo revela, mais uma vez, que a parte mais fraca do mercado (o consumidor domiciliar) é quem pagará pela falta de investimentos e de competência administrativa por parte do Poder Público. O fornecimento de energia elétrica é serviço público essencial à vida do cidadão e, por isso, deveria ser tratado com seriedade pelas autoridades competentes. 

A crise energética que estamos vivenciando no Brasil, da qual um dos desdobramentos é o racionamento no fornecimento do serviço, demonstra as falhas do modelo adotado, principalmente no tocante à falta de investimentos no setor de geração, que vem ocorrendo há muitos anos, e a equivocada política de privatização de muitas empresas. 

O problema não é atual e é preciso que a sociedade civil se imponha para cobrar do governo uma implementação eficiente na política energética, que não proponha soluções relâmpagos, pois os problemas são estruturais e não serão resolvidos a curto prazo. 

Para entender o problema

A queda nos investimentos em energia elétrica vem se acelerando a cada ano: na década de 80, a média dos investimentos foi superior aos US$ 10 bilhões (em 1987, foram investidos US$ 16 bilhões); na década de 90, a média foi de aproximadamente US$ 6 bi; no ano de 2000, os investimentos foram de apenas R$ 3 bilhões (note-se: 3 bilhões de REAIS!!!)

Assim, enquanto no período de 1980 a 1992, o crescimento da capacidade instalada e do consumo cresciam quase em paralelo, em 2000, o consumo cresceu 165% e a capacidade instalada aumentou somente 119%. 

Para se compreender toda essa crise, é necessário destacar que não houve investimento nos setores de geração e de transmissão de energia elétrica e, com a entrada em cena dos investidores privados, a situação se agrava, pois seus interesses se concentram nos setores de distribuição e comercialização, que são os mais lucrativos e não implicam em investimentos como na área de geração e transmissão. Entretanto, considerando que as distribuidoras de energia elétrica auferem grandes lucros com sua atividade, deveriam ter sido obrigadas, pelo contrato de concessão, na ocasião da privatização das empresas públicas, a investir em linhas de transmissão, o que minimizaria muito a grave situação que estamos enfrentando hoje. 

Assim, o resultado é o que os consumidores domiciliares vêm assistindo após as privatizações das empresas distribuidoras de energia elétrica: aumento das tarifas e baixa qualidade nos serviços, sem uma fiscalização eficiente por parte do governo para solucionar os problemas. O consumidor residencial vem pagando pelos custos com os quais as empresas privadas não querem arcar, apesar de já terem recebido usinas hidrelétricas prontas para explorarem e investimentos do governo para poderem se instalar no país. 

A nossa capacidade de geração de energia elétrica não depende da pluviometria, ou seja, do índice de chuvas, desde que se invista na estrutura e capacidade de geração a ponto de se contar com adequada margem de segurança para o abastecimento. As usinas hidrelétricas brasileiras foram projetadas para armazenarem energia em caso de escassez de chuvas ou de outros eventos imprevistos. 

Consumidor residencial é quem paga a conta

De acordo com matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, do dia 1 de abril de 2001, a participação no consumo nacional do usuário residencial é de apenas 27,6%, enquanto que o consumo do setor comercial responde por 15,4%, outros 13,8% dizem respeito a outros tipos de consumidores (rural etc) e o setor industrial corresponde a 43,2% da participação nacional. Só a indústria paulista consome 12% da energia gerada no país. 

Isso mostra que o consumo de energia elétrica no país é determinado pela participação do setor industrial, titular de cerca de metade do consumo nacional. Entretanto, este setor paga tarifas muito inferiores às dos consumidores residenciais e, com o fim do subsídio cruzado, a situação só tem piorado para as classes de renda mais baixas. 

Os consumidores residenciais, após as privatizações, tiveram aumentos que dependiam da quantidade consumida mensalmente, sendo que, na média, chegou-se a aumentos da ordem de 108%. Este percentual é muito superior ao aumento para as classes de consumo industrial, comercial e outras, cujos reajustes variaram de 3,15% até 26,57%, dependendo da empresa. 

A nova política tarifária, cuja orientação está bem definida com os dados acima transcritos, culminou num resultado assustador, segundo o qual o consumidor de até 30 Kwh, ou seja, o consumidor de baixa renda, sofreu um aumento real (além da inflação) da ordem de 321,45% como se pode verificar da tabela abaixo, retirada do Site da ANEEL. 

Percebe-se, portanto, que, atualmente, no Brasil, as residências (mais pobres) estão subsidiando o alto consumo dos setores comercial e industrial. 

De acordo com dados da CSPE - Comissão de Serviços Públicos de Energia do Estado de São Paulo, de 8 a 12% das unidades de consumo estadual configuram-se como inadimplentes num período de até 60 dias após o vencimento da conta. Considerando- se uma média de 4 pessoas por unidade consumidora, isso significa um número imenso de cidadãos sujeitos ao corte do serviço por falta de pagamento. 

Poderia haver expressiva queda no consumo total de energia elétrica, caso os setores comercial e industrial assumissem maior responsabilidade social no uso desse recurso. De acordo com Eduardo Moreno, da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), "Se as indústrias poupassem 10% da energia que consomem, equivaleria a investimentos de R$ 140 milhões anualmente em geração e transmissão. É como se criasse uma usina virtual a cada ano." (O Estado de São Paulo, 1 de abril de 2001). 

Conclusão

O consumidor residencial já vem pagando a conta pelas falhas do novo modelo desenhado para o setor energético. Para agravar, com o racionamento proposto, pretende-se que ele tenha uma redução equivalente a 20% sobre o total de consumo relativo ao mesmo mês do ano anterior, sob pena de aumento tarifário - a multa é de 5 vezes mais o preço da tarifa sobre o consumo acima da cota fixada.

É justamente a classe residencial que, com os altos aumentos de tarifas nos últimos anos, com a perda dos subsídios cruzados (faixas de descontos) e a ocorrência de outros fatores, como o desemprego e o arrocho salarial, já vem reduzindo o seu consumo e aumentando a inadimplência. Segundo o IBGE, o consumidor residencial reduziu o consumo de energia mensal de 178 para 174 Kwh (dado de janeiro a setembro de 1999). Por sua vez, a Eletrobrás revelou que, em 2000, que os setores comercial e industrial tiveram um crescimento de consumo de 7,8 e 6,8%, respectivamente, enquanto o domiciliar aumentou 2,1%

Em que pese a justificativa de que o desenvolvimento econômico do país não pode parar, é necessário estipular políticas estratégicas mais eficazes a fim de racionalizar o consumo de energia, mas sem prejudicar os consumidores residenciais, cuja grande parcela já não vem consumindo a quantidade que necessita devido ao alto preço das tarifas, bem como pela inadequação do modo como são fixados os critérios de baixa renda. A tabela abaixo mostra que o consumo médio residencial na maioria dos Estados da Região Nordeste, e também Tocantins, já é baixo: 


fonte : Ilumina- Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico 

A proposta do governo é mais perversa para os consumidores pobres, denominados de baixa renda, que, aliás têm diferentes definições em cada Estado, variando, quanto ao consumo, de 120 a 220 Kwh/mês. O governo afirma que pretende isentar da sobretaxa apenas os que consomem até 50 kwh/mês, que é um consumo extremamente baixo, equivalente ao que gasta, no máximo, uma geladeira doméstica funcionando 24 horas.

Note-se, ademais, que os consumidores de baixa renda, apesar de já estarem se sacrificando para consumir pouca energia, a fim de garantir os descontos na tarifa, estará obrigado a diminuir ainda mais consumo, sob pena de pagar a multa, contrariando-se, assim, o seu direito adquirido de se enquadrar no benefício social de baixa renda.

O IDEC, em outubro de 1998, procedeu a um teste de consumo de geladeiras e verificou que a geladeira mais econômica do mercado (300 litros) consumia 24 Kwh/mês e a menos econômica 55 Kwh/mês, ou seja, o plano de racionamento por cotas, mantido o limite de 50kwh/mês para isenção da sobretaxa, é absurdo e inexeqüível, podendo aumentar a inadimplência e ampliar a exclusão de milhares de consumidores do acesso a esse serviço essencial. 

Além disso, a referida proposta é inconstitucional, pois viola os artigos 1º e 3º da Constituição Federal, que especificam princípios fundamentais, como o respeito à dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais e regionais. 

Proposta do Idec

Compreendendo a gravidade da situação, mas exigindo que o consumidor domiciliar não seja penalizado em caso de desperdício e incentivando o uso racional de energia, o IDEC propõe: 

1- Que não seja aplicada nenhuma sobretaxa para o consumidor residencial que mantiver consumo igual ao mesmo mês do ano 2000; 

2- Que seja dado um desconto na tarifa a ser paga em escala proporcional à redução aos consumidores que reduzirem o consumo de energia; 

3- Que não seja aplicada sobretaxa aos consumidores de baixa renda de acordo com os critérios de cada empresa e cada região; 

4- Sobretaxa de no máximo 50% sobre o excedente da cota para os consumidores domiciliares; 

5- Que seja desenvolvida uma ampla campanha de informação e educação da população para o consumo racional de energia; 

6- Que sejam claramente definidas e divulgadas as datas de início e término do racionamento, evitando prorrogações ou adoção dessas medidas em caráter permanente; 

7- Que sejam amplamente divulgadas as medidas tomadas em relação aos setores industriais, comerciais e outros, sabidamente responsáveis pela maior parte do consumo nacional de energia elétrica. 

Além disso, o Idec sugere que os consumidores enviem e-mails às autoridades mencionadas para evitar que a medida pretendida pelo Governo Federal seja adotada. Clique aqui para obter a carta preparada pelo Idec