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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/07/01 09:28:10
"APAGÃO"
Vazão fluvial: potencial elétrico inaproveitado 

Apesar da falta de água nas represas, existe um potencial de geração elétrica que está sendo desperdiçado. Medidas de incentivo ao consumo noturno de energia permitiriam aproveitá-lo, como também a implantação de usinas com sistemas de rebombeamento de água, conhecidos como pump storage plants (como a da cidade canadense de Cornwall), conforme esta mensagem, enviada a Novo Milênio em 23/5/2001 pelo engenheiro Luís Antônio Waack Bambace, a partir de contato com o tecnologista César Boschetti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos/SP:

Prezado Pimentel

Quem me falou de você foi o Boschetti que escreve no Vale Paraibano. Gostaria de trazer à discussão um problema crucial para a questão do apagão

Como não se pode baixar as vazões dos rios a valores muito inferiores a 12% da vazão antes das represas, quando se baixa a vazão e a cota de um rio, aumenta-se a vazão dos seus afluentes sem cachoeira próxima, e este aumento de vazão se Barragem do Castanhão, em Jaguaribara (Ceará), abastece de água Fortaleza e 10 municípios do Vale do Jaguaribeexcessivo, pode gerar erosão nas margens e queda de pontes e assim por diante. 

Por isto, na malha integrada onde se dá o racionamento, e onde se gera 61.000 MW de origem hidraulica e 6.000 de origem térmica e nuclear, tem-se de descartar água sem gerar energia das 10 da noite às 7 da manhã. Supondo os sistemas não hidráulicos desligados, este descarte ocorreria em torno de 48.800 MW para baixo. 

Se triarmos 20%, que é o objetivo de economia do governo, deste número, teríamos um número em torno de 38.400 MW. Assim, é razoável supor que abaixo de 35.000 MW na pior das hipóteses, e se o governo quer economizar água deveria usar as termelétricas ao máximo, já se tem descarte de água. Logo, não tem sentido as poucas empresas que produzem à noite reduzirem o seu consumo. 

Deveria-se reduzir ao máximo a tarifa noturna para as empresas, por exemplo 
para 20 a 25% da diurna, de modo a compensar o pagamento de adicional noturno e com isto deslocar-se a produção e o consumo para a noite, dentro de um planejamento. 

Também deve-se reduzir a tarifa para as residências nos horários de baixo consumo, e fazer uma escala de horário, para evitar novos picos, de modo a espalhar o consumo de chuveiros, já que se tem 100 milhões de banhos entre as 6:30 e 10 da noite, que chegam no pico a puxar só estes banhos 20.000 MW. Na hora destes banhos ainda há comércio aberto, algumas empresas operando, iluminação pública, 2.000 MW, e consumo de TV, microondas e iluminação doméstica. 

Estranhamente, o governo ignora este fato e exige que o consumo caia em qualquer horário, e por tabela estrangula a produção e o crescimento econômico. Talvez os escalões intermediários segurem a informação, ou os técnicos das empresas contempladas com o aumento escandaloso de tarifas do apagão não queiram que o faturamento caia, com a transferência de consumo para outros horários, não só na crise, mas depois. 

Talvez as pessoas que tomam as decisões, sendo políticas e por isto sem conhecimento técnico específico, estejam sendo mal informadas por técnicos gabaritados, mas mal intencionados, e badalados justamente porque atendem o interesse dos lobistas em vez de fazer o que é certo. 

Também há a questão de que, fora do Brasil, usam-se as pump storage plants, usinas que usam a sobra das hidroelétricas para bombear água entre um reservatório no pé da serra para outro no topo. Depois, quando há consumo, descem a água e geram energia elétrica, aproveitando assim 85 a 90% da energia que seria desperdiçada nos horários de baixo consumo. Os Estados Unidos têm usinas deste tipo de até 8.500 MW de potência. 

Cornwall é uma usina importante deste tipo. A Noruega dobra a oferta no pico com este tipo de usina. Estas usinas, já que operam com reserva de água para horas, são muito mais baratas que uma termelétrica a gás, não poluem, não onerariam a balança comercial do país com importação não só do gás, mas principalmente das caríssimas e sofisticadas turbinas a gás. 

Infelizmente nada disto chegou na mídia. 

Conto com o seu bom senso para divulgar este fato.
 

Luís Antônio Bambace 
(Engenheiro com pós graduação)

Em mensagem posterior (no dia 25/5/2001), o engenheiro acrescentou, referindo-se ao uso do gás natural e ao uso do bagaço de cana como fonte de energia:

O acordo anunciado pela Folha quanto ao gás não é imoral, já que o risco deveria caber ao empresário, e sendo as usinas a gás não imprecindíveis e estes favores todos não previstos nos editais de privatização do setor elétrico, porque dar tanto subsídio a um grupo? Outros grupos poderiam ter dado lances maiores, se soubessem que a regra do jogo não seria mantida. Usina de álcool da Jalles Machado/Cooperalcool, em Goiás

A cana, não só com o bagaço, mas com vinhoto concentrado por luz solar e enriquecido com aguapé, aproveitamento da mistura com bio-digestores e uso do metano, é melhor e mais barata como alternativa que as usinas a gás. 

E depois, por quê queimar gás na usina, para gerar energia para um forno, que só receberá metade desta energia, se o cara do forno poderia queimar diretamente? O ideal seriam sistemas de duplo aquecimento, elétrico quando sobra energia e a gás direto quando não.

Dados da Fapesp sobre o bagaço de cana:

Propriedades do bagaço da cana-de-açúcar
O bagaço da cana-de-açúcar é o maior resíduo da agroindústria brasileira. Estima-se que, a cada ano, sobrem de 5 a 12 milhões de toneladas deste material, que corresponde a aproximadamente 30% da cana moída.

As próprias usinas utilizam de 60% a 90% deste bagaço como fonte energética (substitui o óleo combustível no processo de aquecimento das caldeiras) e para a geração de energia elétrica. O bagaço como combustível veio substituir a lenha, que era a fonte energética usada há alguns anos na evaporação do caldo.

Existem potencialmente usos não energéticos para o bagaço da cana, alguns deles já viabilizados comercialmente. Merecem destaque seu emprego como matéria-prima na indústria de papel e papelão, na fabricação de aglomerados, na indústria química, como material alternativo na construção civil, como ração animal e na produção de biomassa microbiana.

Mesmo assim há ainda um excedente deste resíduo que não é utilizado, causando sérios problemas de estocagem e poluição ambiental. Alguns autores afirmam que esse excedente de bagaço pode chegar a 10% em usinas com destilaria anexa ou a 30% em destilarias autônomas.

As fibras do bagaço da cana contêm, como principais componentes, cerca de 40% de celulose, 35% de hemicelulose e 15% de lignina, sendo este último responsável pelo seu poder calórico. A celulose e a hemicelulose são as duas formas de carboidratos mais abundantes da natureza e representam um potencial de reserva para a obtenção de produtos de interessse comercial. Ambas representam cerca de 70% do peso seco de todos os resíduos agrícolas, como aqueles provenientes da industrialização do milho, arroz, soja, trigo, cana-de-açúcar, entre outros, e do processamento de frutas como laranja, maçã e abacaxi.

Retirada da cana em canavial paulista

Dados da TBG sobre o gasoduto Bolívia-Brasil:

TBG opera maior gasoduto da América Latina
A Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. - TBG é a empresa responsável pela operação, em solo brasileiro, do maior gasoduto da América Latina. Mapa do gasoduto e o Centro de Supervisão e Controle na sede da empresa TBG - Transportadora  Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil

São mais de três mil quilômetros de dutos que se estendem de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, até a localidade de Canoas, na Grande Porto Alegre, cruzando, em seu traçado, os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 

Com capacidade de transporte para até 30 milhões de m³/dia, a TBG atua disponibilizando o combustível às companhias distribuidoras de cada estado, de forma que estas possam atender ao mercado consumidor. 

A operação do gasoduto é comandada remotamente a partir do Centro de Supervisão e Controle (CSC), localizado no Rio de Janeiro, através de sistema de comunicação via satélite. 

Divisões regionais com sedes em Campo Grande (MS), Campinas (SP) e Florianópolis (SC) coordenam a atuação de equipes de apoio às operações, distribuídas ao longo do gasoduto, garantindo o bom desempenho do sistema.