Posso roubar um minuto do seu tempo?
Mário Persona (*)
Colaborador
Agora não
tenho tempo. Desculpa famosa, para um agora que dura o mesmo para todos.
Culpamos o excesso de informação. Mas ela sempre esteve por
aí, assediando nossos poucos cinco sentidos. Informação
visual é o que impregna sua retina. Com tato você descobre
a maciez do toque. Enquanto sorve um ar de peculiares aromas. Regurgitando
o sabor do último torresmo. De ouvidos atentos. Quantas imagens,
quantas sensações, quantos perfumes, quantos sabores, quantos
sons, quanta perda de tempo.
Excesso de informação
já tínhamos. O que aumentou foi o número de canais
que congestionam os mesmos cinco sentidos de um cérebro cativo em
limitado crânio. Que anseia por tempo para assimilar tudo o que lhe
bate à porta. E engrossa as fileiras de ricos e pobres que, qual
crianças mendigas nos semáforos da vida, suplicam: "Tio,
dá um tempo?"
Mas quem assalta nosso tempo é
a variedade de escolha. Dou um exemplo. Há alguns anos, tínhamos
cinco canais de TV. Gastávamos 5 minutos para escolher o que assistir
na hora seguinte. Hoje temos TV por assinatura com uma centena de canais.
Começamos uma hora antes a escolher o que veremos nos cinco minutos
seguintes.
O tempo que temos... - O tempo
que temos é a porção que nos foi dada, sem direito
a refill. Impossível ter mais. O importante é usar
tecnologia para economizar. Ler esta sentença, por exemplo, faz
você perder tempo. Ler esta sentença, por exemplo, faz você
perder tempo. Percebeu? Você perde tempo com tarefas repetitivas.
Algo que aquele software que tem, e nunca usou, poderia resolver.
Nas transações entre
empresas, gasta-se um tempo enorme com processos inadequados, comunicação
deficiente e retrabalho. É o que chamo de atrito nos processos,
dissipando tempo na forma de calor. Rubores da raiva causada pelo tempo
que se foi.
Administrar o tempo não é
apenas fazer mais rápido o que você já faz, mas simplificar.
Reduzir suas opções de escolha. Empresas estão fazendo
isto ao trabalhar com menor número de fornecedores, porém
integrados e fiéis. Mesmo que custe mais, no longo prazo perde-se
menos.
A tecnologia da informação
promete duas coisas. Reduzir o tempo gasto com o trabalho e reduzir o tempo
gasto com o trabalho. Não, eu não me enganei. As duas são
as mais importantes. E a terceira é economia de tempo. Antigamente
eu incluiria alguns chavões como "aumento de lucro", "redução
de custos" ou "melhoria da qualidade". Mas hoje dou o maior valor ao tempo.
Deve ser a idade.
Comprando tempo - Li numa
dessas estatísticas sem fonte que o americano médio gasta
hoje menos tempo em shopping centers. Está menos interessado
em pesquisar preço e mais interessado em comodidade. Ele se casa
com algumas lojas e vive feliz até que a falência os separe.
A pesquisa falava do americano médio, mas acho que vale para todos
os tamanhos.
Evitar perda de tempo virou sinônimo
de comodidade. Daí o sucesso das lojas de conveniência e fast-food.
Pagamos mais para economizar tempo, por não querermos pesquisar
mais para economizar dinheiro. Reduzimos o número de opções.
Um homem com um relógio sempre tem a hora. Com dois relógios,
não tem certeza.
Diz o ditado que tempo é dinheiro.
Se fosse, eu seria o primeiro a pedir aumento. Iria guardar tempo, investir
tempo e até emprestar tempo. Com ágio. Para me precaver contra
a desvalorização. Mas aí o nosso tempo valeria mais
que o tempo norte-americano. Afinal, numa sociedade conectada e apressada,
melhor do que ter Dollar-Time é investir em Real-Time.
Se tempo fosse dinheiro, Brasília
ganharia um Ministério da Economia do Tempo, abrigado num luxuoso
edifício de cristal na forma de ampulheta. Para justificar o que
foi feito do nosso tempo. Seria um ministério econômico, já
que o ministro acumularia também a função de homem
do tempo. Com igual índice de acerto nas previsões.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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