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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/17/01 18:42:40
Software livre: o sistema operacional Linux 

Apesar da rápida expansão em todo o mundo, o conceito de programa livre ainda é bem pouco compreendido pela população, acostumada à idéia de que se quiser usar, tem de comprar cada licença de uso, pagar pelas atualizações e depender da Palestra realizada no ciclo InfoPrátic@ em 16/4/2001, no Sesc/Santosempresa que criou o produto. Entretanto, desde 1984 Richard Stalmann, criador da Fundação do Programa Livre (Free Software Foundation), vem trabalhando para popularizar a idéia de que é viável uma comunidade de desenvolvedores de programas, espalhada pelo mundo inteiro, contribuir gratuitamente para o aperfeiçoamento de programas de computador, que em seguida são livremente distribuídos para quem quiser usar, sem custos. O exemplo prático mais efetivo do funcionamento desse conceito começou a ser apresentado em 1991, quando o finlandês Linus Torvalds criou o kernel (núcleo de programação) do sistema operacional Linux, a partir do sistema Unix usado em grande parte dos servidores e computadores de grande porte.

O Linux foi o tema principal da palestra ministrada por Paulo Verri Filho, da empresa paranaense Conectiva Informática, distribuidora do Conectiva Linux em toda a América Latina. Acompanhado por Carlos Eduardo Mariano, gerente de negócios da empresa em São Paulo, o palestrante procurou explicar, no Sesc/Santos, o conceito de programa livre, as vantagens e facilidades do Linux, e principalmente demonstrar como nas versões mais recentes até a barreira da dificuldade de instalação por usuários leigos já foi vencida: "Hoje, com uns seis cliques do mouse o sistema pode ser instalado, inclusive mantendo o sistema operacional já existente no computador do usuário".

Paulo explicou que os programas livres são controlados por uma licença geral pública (GPL - General Public License) e o conceito compreende a liberdade para instalar e executar qualquer programa livre, com qualqer proósito e onde o usuário desejar; liberdade para modificar o código-fonte, aperfeiçoando o programa; liberdade para redistribuir o programa, inclusive com as melhorias incorporadas.

Uma das vantagens de não estar sob o controle de apenas uma empresa é que o programa é analisado e aperfeiçoado continuamente por uma comundidade de milhares de desenvolvedores de programas e programadores de todo o mundo. Por exemplo, o navegador Netscape, quando se tornou programa livre, teve seu tamanho reduzido em 300%, por meio da eliminação de linhas de programação desnecessárias e aperfeiçoamentos ou reescrita das demais.

Um exemplo prático ocorreu durante a produção do filme Titanic. Os produtores compraram uma estação de trabalho Alpha com Unix, e o aplicativo para renderização de imagens (geração das imagens criadas por meio de código de computador) não funcionou. Instalado outro sistema operacional, também não funcionou. Testado o Linux, novamente não deu certo. "Mas, por ser o Linux um programa livre, os desenvolvedores imediatamente modificaram o código-fonte do sistema, construindo as rotinas necessárias para que o aplicativo de renderização funcionasse". Se o sistema operacional tivesse código proprietário, seria preciso esperar que a produtora desse sistema lançasse uma versão com modificações que permitissem rodar o aplicativo, o que poderia nunca ocorrer.

Comunidade - Quem participa da comunidade de desenvolvedores Linux? Todos os interessados: o meio acadêmico, voluntários, organizações de alta tecnologia, empresas de informática, distribuições Linux e listas de debates via correio eletrônico, como as três mantidas pela Conectiva: Linux-BR, ISP-BR e LDP-BR.

É tal comunidade que dá resposta imediata a problemas como os 10 vírus de computador criados até hoje para atingir equipamentos com Linux. Contra dezenas de milhares de vírus para outros sistemas operacionais. Aliás, uma das razões do baixo registro de vírus é a arquitetura do Linux, derivada do Unix: até mesmo o administrador do sistema, quando não está exercendo atividades específicas de administrador, opera o Linux com as restrições de usuário comum. Assim, caso o computador seja infectado, o vírus tem sua ação limitada à partição que esse usuário acessa, sem permissão para destruir arquivos do sistema.

Em termos de segurança, a Marinha do Brasil testou todos os sistemas operacionais e optou pelo Linux. Uma das razões é que, por ser programa livre, pode importar uma chave criptográfica especial de alta segurança e ajustar o sistema Linux para Pinguim, o símbolo do Linux, na versão brasileirasuportá-la, facilitando a implementação desse método de segurança.

Uma das vantagens do Linux é a estabilidade: o computador com Linux pode ficar anos sem ser desligado e sem que ocorra pane no sistema. Outra é o código "enxuto", que permite melhor aproveitamento da máquina, e portanto rodar aplicativos poderosos mesmo em equipamentos mais modestos - o que permite ao usuário reaproveitar de modo eficiente computadores que já não comportariam outros sistemas operacionais equivalentes.

Custos - A principal vantagem do Linux é o preço: ele é gratuito. Uma comparação entre sistemas operacionais foi apresentada pelo palestrante em Santos:
 

Comparação: Outro sistema: Linux
1 estação + pacote tipo Office
R$ 1.439,00
R$ 88,00
1 servidor + 25 estações com pacote tipo Office, proxy e banco de dados
R$ 40.000,00
R$ 313,00
Custo Total de Propriedade (TCO) - Fonte: Gardner Group
US$ 212,00
US$ 2,68
TCO - 25 estações (revista Forbes)
US$ 21.453,00
US$ 5.546,70

Os custos, no âmbito do Linux, se referem à aquisição do programa em CD-ROM, manuais impressos e serviços de apoio. Paulo lembrou, entretanto, que tanto o sistema Linux como os aplicativos livres e as atualizações e até os manuais podem ser obtidos gratuitamente, por meio de cópia a partir da Internet. Aliás, o Linux é o sistema operacional mais bem documentado: o volume de documentos sobre Linux é quase três vezes superior à soma dos documentos sobre os demais sistemas operacionais.

O governo do Rio Grande do Sul está deixando de gastar R$ 18 milhões em licenças de programas, ao migrar para o Linux, e parte desse valor (R$ 4,5 milhões) já é revertida para o serviço de merenda escolar. O palestrante lembrou também que o Projeto Fust, que visa arrecadar 1% dos valores auferidos pelas empresas de telecomunicações para desenvolver um projeto de oferta de computadores, ao usar programas com código proprietário poderá totalizar 300 mil equipamentos. Se usasse programas de código livre, permitiria atingir 450 mil equipamentos, e ainda oferecer treinamento gratuito aos usuários desses computadores.

Curiosamente, e mostrando que os brasileiros não são favoráveis à pirataria, a Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes) divulga que 56% dos equipamentos PC no Brasil usam programas pirateados. Entretanto, 74% das cópias do Conectiva Linux em circulação no Brasil foram adquiridas pelo usuário, embora ele pudesse obtê-as sem custo pela internet.

Vantagens assim fazem com que já sejam mais de 30 milhões os usuários de Linux no mundo; 30 a 40% dos usuários alemães de Unix também usam Linux; pesquisa recente indica que, em 2003, 32% dos computadores da América Latina já estarão usando Linux. Em 1999, o Linux já estava presente em 13% dos servidores de rede e foi o 5º sistema mais uado nos computadores de mesa em todo o mundo. Em 2000, segundo pesquisa do IDC, o Linux já alcançava 27% dos servidores e passava para o terceiro lugar. 

Compatibilidade - A Borland lançou recentemente uma ferramenta em Delphi, para desenvolvedores, que permite portar aplicativos de outros sistemas operacionais para Linux (embora essa ferramenta seja de código proprietário, com licenças vendidas aos usuários). A maioria dos programas com código proprietário já tem alternativa Linux, desenvolvida pela própria empresa ou pela comunidade Linux. Por exemplo, o pacote de aplicativos Office para Windows tem versão Linux gratuita que chega a confundir o usuário, tal a sua semelhança com o produto da Microsoft: o StarOffice. A interface gráfica em Linux pode inclusive ser escolhida entre várias opções, uma delas praticamente igual à do MS Windows.

A Lotus também tem uma suíte de programas de escritório, há bancos de dados, aplicativos de CAD, e muitos jogos: o Doom e o Quake, inclusive, rodam com maior velocidade em Linux.

O sistema Linux é multiusuário, multitarefa, multiprocessador, multiplataforma (Intel, IA64, Motorola MC68K, PowerPC, Alpha, MIPS, ARM), oferecendo portabilidade e escalabilidade, desde assistentes pessoais digitais (PDAs, como os computadores Palm) e PCs 386 até estações Alpha e /390. Conta ainda com o padrão Posix de desenvolvimento (AIX, HP-UX, SCO, Solaris etc.). É interativo com outros sistemas operacionais (Unix, Mac OS, Windows, Novell), pode ser usado como servidor para FTP, firewall, intranet, Internet, roteador, clustering, comércio eletrônico) e como terminal (oferece reinicialização remota, pode ser operado como "terminal burro" e 327X). Integra-se bem com o programa livre Apache, que é usado em 60% dos servidores de páginas Web para Internet e intranet em todo o mundo.

Paulo registra o depoimento de representantes do Hospital São Camilo, que testaram seus programas hospitalares com diversos sistemas e verificaram que no Linux rodam cerca de 40% mais rápido. A Oracle também cita que seu banco de dados roda mais rápido em Linux que em outros sistemas, inclusive o Unix. E a Case SulAmerica descobriu que um aplicativo de Dataflex que demorava 10 horas para gerar um relatório, em Linux, no mesmo computador, processa esse relatório em espantosos 15 minutos!

Clustering é o uso de diversos computadores, um ao lado do outro, fazendo processamento paralelo com um mesmo objetivo. Enquanto outros sistemas operacionais sequer controlam mais de 30 computadores, no Brasil há um caso de 70 equipamentos Pentium III rodando Linux e no exterior há um sistema Linux controlando 250 máquinas em processamento paralelo.

Paulo Verri contou com dois inesperados auxiliares, nas explicações mais técnicas aos participantes: o especialista em segurança Amílcar Brunazo Filho, que vem denunciando as falhas de segurança nas urnas eletrônicas nacionais usadas no processo eleitoral, e de Franz Joseph Hildinger, que traduziu para o português usado no Brasil o programa Opera, de navegação na Internet. Franz lembrou, por exemplo, que no site Web da revista Info Exame é possível fazer a cópia de uma aplicação, Virtual PC, que permite rodar simultaneamente, no mesmo computador, os sistemas operacionais Linux e Windows.

Amílcar e Franz ajudaram a explicar aos participantes detalhes sobre o Linux
Empresa - A Conectiva começou a operar em 1995, e já no ano seguinte oferecia serviços com programas livres. Em 1997, apresentou a primeira versão do Conectiva Linux, com 3.000 cópias; em 1998, atingiu 43 mil cópias; em 1999 pulou para 450 mil cópias e em 2001, já uma empresa com 300 funcionários e sete filiais, mantém páginas Web com cerca de 30 mil acessos diários e espera atingir a marca de 1,2 milhão de cópias distribuídas (vendidas em CD ou copiadas gratuidamente pela Internet). Se a Conectiva fechasse um dia, o sistema continuaria disponível e sendo atualizado, pois não tem dono, ou seja, não há perda para o usuário por descontinuidade de atualização.

Qual o seu lucro? A Conectiva percebeu que o novo foco do mercado não é vender o programa, mas prestar serviços de treinamento, consultoria, O&M e suporte (mesmo assim, a Conectiva é a única a prestar suporte gratuito por telefone). A equipe da empresa vem não só aperfeiçoando o kernel do Linux (especialmente na parte de gerenciamento de memória), como trabalha em outros projetos: o instalador, Linuxconf, NetFS, drivers de dispositivo, alta disponibilidade, internacionalização, USB etc.