Para quando a energia faltar
Mário Persona (*)
Colaborador
Uma hora
a energia acaba. Aquela vontade de empreender, de superar, de vencer, vai
minguando. E a empresa entra num apagão de meter medo. A coisa fica
preta. Usar vela só piora. Alguém pode dizer que começou
o velório. Fique atento. Se a luz acabar em sua empresa, não
será nada comparado à depressão apática criada
pela invalidez mórbida de um sentimento de derrota. Nossa! Blues,
maestro!
Tamanha fossa é proposital. Um
alerta contra a depressão corporativa que, assim como o ódio,
é destrutiva. Depressão é um ódio sem entusiasmo.
Contamina até as lâmpadas da empresa. As de cem watts emaciam
uma luz de vinte e cinco. E o pessoal trabalha como se tivesse cem. De
idade. Reclamando que o café está frio e o calor está
quente. Aí nem geléia de mocotó resolve. Acham dura.
Desmotivada, a equipe enlutada já
nem atende clientes. Alinha-se para receber os pêsames. A secretária
eletrônica engole o entusiasmado "Obrigado por ligar!" e geme um
"A família penhorada agradece". Fornecedores percebem o aumento
na demanda por lenços. E no final do ano deixam de enviar o calendário
inteiro de brinde. Mandam só a folha do mês.
A falta de entusiasmo vem ao nos
concentrarmos nas pedras do caminho. Mas a única estrada que conduz
ao sucesso está sempre em obras. Se estivesse pronta, a concorrência
já estaria lá. É a dificuldade o berço dos
maiores negócios. Paridos por laboriosas mães, que conceberam
nos mais impossíveis ventres os rebentos nada gêmeos da oportunidade.
Caminhos - Qual é o
desafio para uma empresa na era da informação? Reclamar da
falta de tecnologia? Nem ouse. Temos de sobra e nem sabemos o que fazer
com ela. Se discorda, recite as funções dos botões
do controle remoto de seu videocassete. Ou da TV, do DVD, do som. Aposto
como nunca usou.
O desafio é transformar tecnologia
em valor. Acelerar um processo é criar valor. O microondas cresceu
assim. Oferecer funcionalidades inéditas, idem. Trocamos telefones
atados, pelos sem fio. Agregar valor a um produto ou serviço é
tornar a vida mais fácil. É fazer do trabalhar algo tão
intuitivo e prazeroso quanto coçar.
É importante perceber que
são as vantagens percebidas pelo cliente as que ele quer perceber.
Você já viu este filme quando inventaram as fitas de vídeo.
O padrão Beta, tecnicamente melhor, perdeu para o padrão
VHS, cuja fita durava mais. O consumidor preferiu a fita mais longa. Pelo
menos até descobrir que teria que rebobinar.
Warren Buffet disse que parece existir
uma certa característica perversa no ser humano, que gosta de tornar
as coisas difíceis. Eu diria que quando não tornamos, enxergamos.
A solução está em olhar mais além, e só
permitir que nossos olhos pousem quando chegam à pista da oportunidade.
Aí melhoramos o que deve ser melhorado e criamos o que pode ser
criado.
Enxergar melhor - Às
vezes é preciso emprestar os olhos do cliente. Acostumados a buscar
sua opinião para detectar defeitos, nos esquecemos de perguntar
de que gostou. Recentemente um cliente apontou uma funcionalidade em nosso
produto que é um verdadeiro ovo de Colombo. Chocado fiquei eu, por
ter deixado aquilo escapar. Se o cliente sabe onde o sapato dói,
conhece melhor o endereço do cafuné.
Valor é algo enxergado de
diversas maneiras. Karl Marx falava da "mais valia", ao referir-se ao valor
acrescentado pelo trabalho. Não tão sisudo ou famoso, meu
pai também tinha sua teoria econômica. Batizou de "mais chocolate"
aquilo que chamamos de valor percebido pelo cliente. Explicava o porquê
de dois produtos semelhantes, de igual custo de produção
e preço, possuírem diferenças na preferência
do cliente.
Era sua "Teoria Econômica dos
Bonequinhos de Chocolate". Daqueles que crianças da minha idade
adoram comer para ganhar energia. Segundo ele, os fabricantes de bomboms
deveriam produzir sempre mais menininhos do que menininhas de chocolate.
Para evitar problemas de estoque de menininhas, pois a demanda é
desigual. Uma pesquisa teria revelado a razão da preferência
das crianças pelos menininhos. Mais chocolate.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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