As novas economias
Mário Persona (*)
Colaborador
Nunca se
economizou tanto. A cada dia inventam uma nova economia. É economia
de água, economia de eletricidade, economia de gente. Que o diga
o número de demissões no mundo todo. Se continuar assim,
logo teremos economia de talentos, economia de entusiasmo e economia de
resultados. Até a fatal economia de lucratividade.
Tanta economia leva a pensar que o único
negócio de futuro é o de furar cintos. Transformá-los
em torniquetes de cintura para sobreviver em um mercado que oferece oportunidades
demais para gastar, e oportunidades de menos para ganhar. Mas poucos vêem
que cada nova economia é uma nova oportunidade para a tecnologia
da informação mostrar como pode otimizar recursos reduzindo
as perdas por fricção na cadeia produtiva.
Há empresas criando novas
economias com as velhas ferramentas de economias menos econômicas.
Deviam usar os óculos das novas tecnologias para detectar por onde
seus recursos estão sendo drenados. É óbvio que o
maior volume de dinheiro sai da empresa pela área de suprimentos.
E isto não é por ser uma área onde trabalhem esposas,
mas por ser a porta de entrada da matéria prima que será
transformada em produto. Nada mais lógico do que começar
por aí, otimizando processos com a criatividade que as ferramentas
de Internet oferecem.
Tijolo da economia - Quem
usou de criatividade para economizar foi a prefeitura de uma cidadezinha
americana, assolada pela falta d'água. Reduziu o consumo das caixas
de descarga, acopladas aos vasos sanitários, usando algo de concreto.
Um tijolo. Cada cidadão ganhou um tijolo de concreto para colocar
dentro de cada caixa. Volume suficiente para reduzir o estoque e controlar
a vazão sem reprimir a demanda.
Mas nem sempre o problema está
na vazão, mas no volume de retenção. Lembro-me de
um rapaz em sua primeira visita à casa da família da namorada.
A dor de barriga causada pelo nervosismo foi aliviada no imaculado banheiro
da sogra. Satisfeito, ele deu a descarga, a válvula travou e a vazão
não ajudou. O nível de estoque foi subindo, subindo... rumo
ao prejuízo!
Na empresa, aumenta-se a vazão
da demanda com o aumento das vendas. O tijolo na caixa de descarga é
a criatividade que reduz o estoque. Numa cadeia de suprimentos - ou supply
chain -, informação e materiais fluem como água
em vasos comunicantes. Ou deveriam fluir. O problema é que os vasos
não são tão comunicantes. Ou, quando se comunicam,
não o fazem com a rapidez necessária, aumentando os custos.
A Internet trouxe algo de concreto
para resolver o problema. E não é um tijolo. Se a velocidade
da troca de informações numa cadeia produtiva aumenta rapidamente,
é porque as oportunidades de negócios surgem e desaparecem
na mesma proporção. Economizar tempo é vital para
evitar o desperdício de negócios. Tanto as informações
que geram vazão, como as que permitem o suprimento, devem fluir
soltas.
Integração total
- Hoje a cadeia de suprimentos pode integrar-se à cadeia de demanda
como pescoço em corpo de cobra. Usando sistemas de SRM, ou Supplier
Relationship Management via Web, é possível criar a fluidez
exigida no processo demanda-planejamento-suprimentos-produção,
para permitir um ambiente colaborativo de negócios. Isto aumenta
a previsibilidade na cadeia produtiva e reduz o risco de quedas por oscilações
na economia.
Vítima das quedas causadas
pela economia de recursos era um rapaz que conheci. Responsável
por uma pequena hidrelétrica em Goiás, controlava o velho
gerador que mantinha tremulantes as lâmpadas do vilarejo. Luz, só
em noites escuras. Ele passava as noites sentado em uma banqueta e pilotando
um registro do tamanho de um volante. Atento ao amperímetro, virando
o volante para a direita reduzia o fluxo d'água e a tensão.
Para a esquerda, aumentava. Graças à monotonia do trabalho,
era comum ele cair no sono. E cair do banco. Então toda a cidade
sabia, pela intensidade da luz ou falta dela, para que lado ele havia caído.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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