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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/04/01 01:07:08
Hollywood sem palavras para se expressar 

Mário Persona (*)
Colaborador

Hollywood pode parar. Era esta a manchete que chamava minha atenção no noticiário. Uma parada que, segundo o prefeito de Los Angeles, poderia custar à economia da cidade mais de oitenta mil empregos e quase sete bilhões de dólares. Verdadeira tragédia hollywoodiana.
A ameaça não vinha de astros ou estrelas, mas de quem traça o caminho que conduz ao Oscar. Não estou falando daquele tapete vermelho, campo de batalha onde fotógrafos disputam os despojos do mau gosto. Falo dos onze mil escritores responsáveis pela criação que cria ação. É da pena - hoje tecla - deles que saem as imagens que enchem nossos olhos. São os mestres da palavra.

Abordo o ditado pelo avesso, só para mostrar a importância dos autores que movem os atores. Suas mil palavras valem por cada imagem. Qualquer comunicação que comunique ação começa pela palavra. No século em que mapeamos o genoma, procurando o fim a partir do código da gênese, descobrimos na palavra o poder do fazer. O código e a expressão ativa do criar. 

Uma sabedoria, diga-se de passagem, disponível há milênios. Minha Bíblia diz que os mundos foram criados pela palavra de Deus, de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente. Ele falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu. É, portanto, a articulação do abstrato que precede o concreto, percebido pelos sentidos. Enquanto o fazer é humano, o criar é divino.

Antes que me considerem filosófico demais, desço à prática. É com a palavra que o faço, para dar moção ao pensamento. Transformo em ação verbal a expressão do pensamento para gerar uma conseqüência concreta. Ainda vago? Então segura este exemplo. Terminei de compilar um livro com minhas crônicas e parti para a Internet em busca de uma editora distraída o suficiente para publicá-lo. Queria endereços para enviar o original para análise. Já plantei várias árvores e tive filhos. É natural que deseje publicar um livro.

O vínculo - Foi uma surpresa descobrir que a maioria das editoras exibe um convidativo link do tipo "Seja um Autor". E uma decepção descobrir que pedem apenas um projeto, e não o manuscrito, para começar. Uma precaução contra a perda de tempo. De ler algo como esta crônica ou um livro da genealogia de algum italiano orgulhoso da cidadania obtida a duras penas. Antes de conhecer a criação, querem conhecer a idéia criadora.

Se ainda não entendeu o que isto tem a ver com negócios, tenha paciência. Ainda vou descobrir. O fato é que, seja nas juras de amor, na produção de um livro, no estímulo às vendas ou na exposição de um produto, tudo começa com a palavra e seu poder de gerar uma ação que leve à concretização. Ela faz rir, faz chorar, ordena a guerra e alinhava a paz. A palavra é o que leva a energia criadora às vias de fato da criação.

Mas não serve qualquer articulação verborrágica. A palavra precisa ser precisa. Ainda mais quando temos uma rede mundial de cordas vocais para ecoá-la. Que vibram em uníssono, quando estimuladas na freqüência ideal. Uma infovia cuja velocidade não é medida em quilômetros por hora, mas em fótons por nanosegundo. Mas onde ainda ocorrem desengavetamentos. Os formatos tirados da gaveta das mídias intrusivas e despejados na goela de milhões.

Uma insanidade como a que eu próprio estava prestes a cometer com meu pretenso livro. Uma carta hipnótica com duas laudas iria apresentar às editoras o meu primeiro filho editorial. E meu volume zipado, penteado e perfumado, seguiria anexo. Isto foi antes de eu descobrir que os formulários nos sites das editoras permitem uma breve apresentação de quarenta linhas. E nenhum anexo. 

Com o rabo devidamente recolhido entre as pernas, submeti meu trabalho nas condições regulamentadas por quem publica. Sem chiliques, protestos ou ameaças de greve. Porque o que escrevo, ou deixo de escrever, ainda não é capaz de parar Hollywood..

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.