Pisando na Curva
60% das vendas de carros Celta
no Brasil foram pela Internet
Jack London (*)
Colaborador
Toda
vez que você lê uma notinha ou artigo que reproduz estudos
sobre Internet, as informações são quase sempre as
mesmas, entra ano, sai ano. Na ponta do consumo, ou do comércio
eletrônico, como queiram, a monotonia é então absoluta.
Livros, softwares e CDs são sempre os campeões de
vendas, e nenhum outro item é sequer citado.
Essas informações,
repetidas à exaustão, levaram o mercado varejista a uma conclusão
preguiçosa e preconceituosa: vendas pela Internet são um
nicho de mercado que só é ocupado por produtos específicos
- os tais livros, softwares, cds - de baixo custo e que formam uma
espécie de área cativa à cultura e aos hábitos
dos usuários da Internet. O corolário desse raciocínio
é tristemente óbvio: esqueça, a Internet ainda não
existe para efeito de mercado varejista.
Nada mais falso, oblíquo e
baseado em pura desinformação que a conclusão do parágrafo
acima. Nesse primeiro bocejo de ano 2001, a grande surpresa do mercado
de consumo são as informações liberadas pela indústria
automobilística sobre vendas de carros no Brasil. Vamos aos fatos:
1. Meio sem graça, a GM anuncia
que 60% - repito, 60% - dos carros da marca Celta vendidos no Brasil são
comprados via Internet. Trata-se de uma informação de espantar
e de deixar o queixo caído até mesmo os mais otimistas, os
netólatras
de carteirinha. Os números dessa façanha são os seguintes:
Celtas vendidos em 2000, 18.800; Celtas vendidos
on-line, 11.303;
faturamento total, R$ 155.755.340,00. De acordo com os dados coletados
no final do ano passado, os campeões brasileiros do comércio
eletrônico, quesito varejo, são os sites Americanas.com Amélia.com,
Submarino.com, Saraiva.com e Shoptime.com. Nas estatísticas apresentadas,
a soma dos valores acumulados faturados por esses campeões não
ultrapassa os cem milhões de reais. A GM, sozinha, com as vendas
de apenas um de seus modelos, superou o faturamento conjunto dos sites
acima citados. Notícia espantosa, que revela a desinformação
sobre o varejo da Internet no Brasil.
2. Os preços de diversos modelos
da GM e da Fiat são substancialmente menores nas compras via Internet.
A redução gira em torno de 5,5%. Alguém aí,
por mera insistência em manter seus queixumes e lamúrias -
"Internet não funciona ..." - quer continuar pagando mais caro pelo
que compra?
3. Palavras de Mark Hogan, vice-presidente
mundial da GM: "Dentro de dois anos, 10% das vendas de carros no mercado
americano serão feitas pela Internet."
4. Palavras do João Batista
Ciaco, da Fiat do Brasil: "Apenas 4% das pessoas que entram na página
do Brava, um modelo da Fiat, compram o carro pela Internet. Mas 37% dos
clientes que compraram depois nas concessionárias haviam se cadastrado
no site". Ou seja: mesmo não tendo clicado em "quero comprar", tomaram
a decisão de ficar com o Brava por causa da Internet.
Muita coisa ainda está por
definir e, no caso do varejo, o mais importante é o papel do intermediário,
a concessionária. Diversas fórmulas são neste momento
tentadas e testadas, com e sem a participação deles. Cada
dia que passa, o comércio eletrônico por via remota se transforma
no principal instrumento de comercialização de bens e serviços
no Brasil. Quem viver verá.
(*)
Jack
London é presidente da Netcom Br. Artigo divulgado via boletim
eletrônico Varejo
Século 21. Esse fórum conta com mais de 1.100 participantes
e o objetivo dos trabalhos é apresentar idéias, tendências,
experiências e opiniões que contribuam para a melhoria do
comércio varejista brasileiro. |