Simplifique se puder
Cynthia Rosenburg (*)
Colaboradora
Considere-se
um felizardo se, de tempo em tempo, você não solta reclamações
do tipo: "o mundo do trabalho está cada vez mais complexo"; "o volume
de informações com as quais precisamos lidar não pára
de crescer"; "é cada vez mais difícil estabelecer prioridades,
tomar decisões rápidas, dar cabo de pendências".
Bil Jensen é um estudioso
dos motivos que levam as empresas a fazer com que as pessoas se sintam
dessa forma. Por mais de sete anos, promoveu uma pesquisa sobre como as
empresas podem lidar com a complexidade, simplificar suas estruturas e,
conseqüentemente, a rotina de seus funcionários. Foram mais
de 2.500 entrevistas em 460 empresas. Os resultados estão no livro
"Simplicidade - Vivendo com Inteligência em um Mundo cada vez
Mais Estressante", lançado pela editora Campus.
Nele, o autor cita um estudo da consultoria
Bain & Campany, segundo o qual a complexidade do trabalho está
fazendo com que cada pessoa desperdice até 2 horas por dia no escritório
tentando descobrir o que fazer. "O trabalho repetitivo foi enxugado, mas
o trabalho do conhecimento se tornou mais sobrecarregado e confuso", diz
Jensen. Para ele, conhecimento não é poder. Saber o que fazer
com ele, sim. "As empresas estão progredindo no sentido de mudar
para atender às necessidades do mercado, do cliente e do acionista",
afirma. "E estão se saindo muito mal no que se refere a tomar o
trabalho inteligente." Num mundo assim, cada vez mais complicado, a simplicidade
pode ser uma vantagem competitiva, segundo Jensen.
Simplificações
- Na prática, descomplicar a vida nas empresas requer dividir responsabilidades.
Os funcionários podem criar maneiras mais simples de trabalhar -
mudando a forma como se comunicam, aproveitam o tempo, planejam atividades,
gerenciam expectativas ou usam tecnologia, por exemplo. Mas esse esforço
não trará muitos resultados se a alta administração
não se preocupar em criar um ambiente menos complexo. Para isso,
precisa adotar cinco disciplinas básicas, segundo o autor:
1. Criação de confiança
a partir da estrutura. As pessoas só conseguem trabalhar no modo
mais simples com ferramentas, processos e experiências adequadas
às suas necessidades. Para tanto, a infra-estrutura organizacional
precisa ser construída com o objetivo da personalização.
Moldando-se assim, de frente para trás, a empresa conquista a confiança
do pessoal.
2. Conteúdo projetado para
a tomada de decisões. As informações devem ser formatadas
e disseminadas de modo que os funcionários possam tomar decisões
fundamentadas, sem perder tempo com ruídos.
3. Uso do processo de concepção
para tomadas de decisões mais esclarecidas. Não são
planos, orçamentos e relatórios o que realmente governa os
projetos. O mais importante é a discussão e a organização
de escolhas que os participantes fazem quando concebem um projeto.
4. Sistema de conhecimento de fácil
navegação. Devem permitir que as pessoas entrem, busquem
o que precisam e saiam sem embaraço. O sistema também deve
facilitar a visão de como tudo se conecta. Com essas características,
impulsionará o sucesso.
5. Criação de protótipos
do futuro. Significa dar às pessoas a oportunidade de ajustar diariamente
sua infra-estrutura - ferramentas, processos e fluxos de informação
- de acordo com o que cada uma necessite no seu trabalho. Esses embriões
de mudanças são a única maneira de acompanhar as transformações
maciças que ocorrem com rapidez espantosa.
(*)
Cynthia Rosenburg atua na redação
da revista Exame.
Artigo divulgado via boletim eletrônico Varejo
Século 21. Esse fórum conta com mais de 1.100 participantes
e o objetivo dos trabalhos é apresentar idéias, tendências,
experiências e opiniões que contribuam para a melhoria do
comércio varejista brasileiro. |