Formato digital para ovos
Jimmy Cygler (*)
Colaborador
Quando
quero aprender marketing ou gestão ou algo sobre a Nova Economia,
vou ao feirão do Ceagesp. Nada de palestrantes estufados nem livros
de gurus. Nada de mensalidades caras. Ceagesp. É lá que aprendo
as coisas na origem, sem embalagem, sem retoques.
Outro domingo, lá estava,
bem cedinho, como bom aluno. A aula começou no balcão dos
ovos. Escolhi uma bandeja e um senhor a pegou. Conferiu os ovos, um a um,
com agilidade incrível e precisão absoluta. De repente, tive
um estalo mental e fiz a ele um pedido estranho:"O senhor poderia esticar
os dedos na minha frente?" Ele o fez, e imagine só - seus dedos
continuaram curvados. Eu o avisei. Ele trabalhava naquilo havia 18 anos
e disse nem ter percebido que seus dedos tinham adquirido um formato rígido.
Fui então atingido por um
raio filosófico. Seremos tão incapazes assim de perceber
mudanças graduais no nosso modo de agir ao longo da vida? Como consultor,
tenho o privilégio de conhecer diferentes mentalidades em variados
setores da economia. E percebo que há muita gente com pensamentos
enrijecidos. Quando se trata da relação entra a Nova Economia
e a velha, as opiniões se dividem dicotomicamente: ou acredita-se
que o ser humano nunca trocará o real pelo virtual, ou crê-se
fanaticamente no contrário. Argumentos dos dois lados se apóiam
em mitos e informações superficiais.
Rede fria? - Um mito comum
é que a Internet peca por ser fria, já que o ser humano gosta
de olhar nos olhos, de tocar, de sentir. Uma bobagem espetacular. É
verdade que o ser humano precisa de toque pessoal, mas classificar a Internet
como fria é usar dedinhos já enrijecidos. Numa dessas madrugadas
de insônia, entrei na Amazon.com e comprei um livro. Duas horas depois,
lá pelas 5 horas, decidi comprar outro livro. Depois de finalizar
a compra, me toquei de que iria pagar dois fretes, então enviei
uma mensagem pedindo a consolidação dos dois pedidos, antes
de ir dormir.
Lá pelas 7 e meia da manhã,
com banho tomado, era uma nova pessoa. Abria a minha caixa de mensagens
e lá estava a resposta da Amazon, mais ou menos assim: "Caro Sr.
Cygler: sua solicitação de consolidação chegou
2 horas após a primeira encomenda, e o primeiro livro já
havia sido despachado. Como não é culpa sua sermos tão
rápidos, estornamos de sua segunda conta US$ 5,00, o valor do primeiro
frete que o senhor pagou."
Não sei que tipo de reação
isso gera em você, mas, no meu caso, foi embasbacador. E olhe que,
como prestador de serviços e consultor, sei quanta organização
racional há por trás desse tratamento. Agora, imagine nossos
filhos e nossos netos, que nascem com a Internet na veia. Alguém
acha mesmo que será difícil para eles se emocionarem na Internet?
(*)
Jimmy
Cygler é professor da MBA da ESPM e diretor da Resolve! Global
Marketing. Artigo divulgado via boletim eletrônico Varejo
Século 21. Esse fórum conta com mais de 1.100 participantes
e o objetivo dos trabalhos é apresentar idéias, tendências,
experiências e opiniões que contribuam para a melhoria do
comércio varejista brasileiro. |