Cliente morto não paga.
Quanto custam as falhas de atendimento
Nelson Blecher (*)
Colaborador
Conquistar
a fidelidade do cliente virou, nos últimos tempos, uma obsessão
corporativa. Já se tornaram clássicos os estudos dando conta
que repor um cliente perdido custa cinco vezes mais do que mantê-lo.
Isso explica por que as empresas brasileiras investem hoje uma fábula
no contato com os consumidores - uma das mais decantadas ferramentas de
marketing.
O resultado disso é que nos
últimos cinco anos o volume de serviço das centrais de atendimento
triplicou. Estima-se em 300.000 o número de profissionais dedicados
a ouvir as queixas e sugestões dos consumidores. A questão
que realmente interessa às empresas é: até que ponto
esses serviços estão contribuindo para "fidelizar" a clientela,
para citar o jargão da moda?
São raras as pesquisas capazes
de demonstrar o potencial de toda a parafernália eletrônica.
Na maioria dos casos, esses centros limitam-se a aferir o número
de chamadas e a duração do atendimento. Não que essas
providências sejam desprezíveis. Já entraram para o
folclore os casos de barbeiragem explícita. Nem mesmo softwares
sofisticadíssimos têm impedido que os clientes fiquem perdidos
num labirinto de códigos aguardando a vez.
Pesquisa - Tudo isso torna
valiosos os resultados de uma recente pesquisa independente feita pelo
Instituto de Assessoria Mercadológica (IAMM), de São Paulo.
A consultoria ouviu cerca de 1.500 consumidores paulistanos sobre suas
experiências de relacionamento com empresas de cinco diferentes setores.
Foram analisados oito quesitos: da qualidade e eficácia do atendimento
ao interesse e cordialidade; do menu de serviços à rapidez
na solução de problemas. A geografia escolhida não
poderia ser mais apropriada: São Paulo é tida como a meca
do telemarketing, onde se localizam e operam mais de 80% das centrais
de atendimento, um negócio que movimentou mais de meio bilhão
de reais em 2000.
O que descobriu o instituto? "Os
call centers (N.E.: centros de chamadas) são ferramentas eficazes
na geração de fidelidade dos consumidores, mas estão
aquém da qualidade necessária", afirma o consultor João
César Ribeiro, diretor do IAMM. Isso é preocupante porque,
assim como pode gerar fidelidade, o atendimento, se mal conduzido, pode
erodir a paciência e a confiança do cliente. Eis outras conclusões
do estudo:
• Os clientes da área de assistência
médica (planos de saúde e seguradoras) mostram-se satisfeitos
com o atendimento telefônico, mas não a ponto de garantir
fidelidade.
• Mais crítica é a
situação dos laboratórios clínicos. Nesse setor,
nem mesmo o bom atendimento é capaz de gerar fidelidade. Mais grave:
quando não é satisfatoriamente atendido, o cliente não
hesita em migrar para a concorrência.
• É surpreendentemente baixa
a avaliação dos compradores de microcomputadores em relação
ao quesito "rapidez de solução". E num setor em que a velocidade
de informações é um fator crucial.
É claro que há empresas
que se destacam positivamente. O setor de cartões de crédito
foi o que apresentou, na pesquisa, o melhor desempenho no que diz respeito
a clientes satisfeitos e predispostos a ser leais à marca. Em segundo
lugar vêm os bancos, apesar da ameaça que paira sobre eles:
as
deficiências constatadas no atendimento a pendências.
Fica claro que existe um gap (N.E.:
espaço) entre o avanço da tecnologia e o pessoal destacado
para lidar com os clientes. Persiste um foco enviesado na produção:
há mais preocupação em atender o maior número
de chamadas do que em encaminhar os problemas dos clientes. A elevada rotatividade,
falta de treinamento e de motivação são outros entraves
para satisfazer e tornar leais os clientes.
(*)
Nelson Blecher atua na redação
da revista Exame.
Artigo divulgado via boletim eletrônico
Varejo
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e o objetivo dos trabalhos é apresentar idéias, tendências,
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