Inadimplência cresce na telefonia
celular
Só se compara às
taxas obtidas por empresas de saneamento e distribuição de
energia
As operadoras
de telefonia celular têm amargado com o não pagamento de contas
por parte dos seus clientes. Analisando balanços de diversas operadoras,
a partir de 1998, a empresa de consultoria Value Partners obteve o seguinte
resultado: no período de 1998 a 1999, com exceção
da Telemig (que reduziu de de 21 para 3%) e da Tele Celular Sul (que diminuiu
de 8 para 7%), as principais operadoras de telefonia
celular no Brasil apresentaram um crescente nível de inadimplência,
somente comparável com as taxas obtidas por empresas dos setores
de saneamento e distribuição de energia, que são mais
vulneráveis ao problema da fraude (as campeãs são
a Eletropaulo e a Sabesp, com índices de 9 e 10% respectivamente).
A Tele Leste, por exemplo, registrou
um aumento de inadimplência de 2 para 13% em seu balanço de
99; na Tele Nordeste, este índice dobrou de 5 para 10%. Já
a Tele Centro Oeste, Tele Sudeste Celular e a Telesp Celular tiveram um
aumento menos expressivo, variando de 0,1 a 2%. No período 1999-2000,
duas operadoras já tiveram seus balanços analisados. Uma
delas diminuiu o número de assinantes em débito (a Tele Leste
baixou o índice para 6,8%) e a outra apresentou um pequeno aumento
percentual (a Telesp Celular teve um acréscimo de 1,3% em seu nível
de inadimplência).
Para Emilio Voli, Vice presidente
da Value Partners, algumas fórmulas bastante simples poderiam ajudar
a reverter esse quadro. "Acredito que se as operadoras trabalhassem como
as financeiras, ou seja, administrando assinaturas de celulares como cartões
de crédito, por exemplo, a partir do perfil do usuário e
estabelecendo limites de gastos, como no cheque-especial, complementando
a abordagem com uma profunda análise do futuro cliente, as operadoras
teriam mais condições de controlar o uso das linhas, diminuindo,
não só a inadimplência, mas também as fraudes,
tipo clonagem de linhas, visto que qualquer mudança no comportamento
do assinante poderia ser facilmente percebida e checada".
As operadoras já estão
de fato "filtrando" suas carteiras de clientes, para evitar prejuízos
maiores. "Estamos vivenciando um processo contrário ao ocorrido
na época da liberação da banda B, quando as operadoras
passaram a oferecer facilidades irrestritas e sem avaliação
do assinante", explica o consultor.
"Hoje, as empresas de telefonia,
não só filtram seus clientes, como acompanham seu comportamento,
chegando, até mesmo, a oferecer planos de migração
do pós para o pré-pago a fim de diminuir o risco de não
receber suas faturas". A Telemig, por exemplo, que conseguiu reduzir quase
a zero seu nível de inadimplência, para chegar a esse resultado
chegou a ter a maioria de seus clientes operando no plano pré-pago.
Hoje, esta proporção é de 38% em 1 milhão de
assinantes.
Causas da inadimplência
- As principais causas para o atraso no pagamento de contas de telefone
celular no Brasil estão ligadas ao desemprego e à renda do
usuário (19% dos inadimplentes estão desempregados). A seguir,
vem o atraso em pagamentos de linhas que foram vendidas ou transferidas
(mas em função do barateamento das linhas, esta modalidade
de inadimplência caiu de 22% para 10% em seis meses e tende a desaparecer
em curto espaço de tempo) e compras para terceiros (modalidade que
vem crescendo em função das novas exigências das operadoras
para habilitar assinantes).
"Se, por um lado, houve uma sensível
diminuição do mercado secundário de celulares, observamos
que têm crescido muito a compra de telefones pós-pagos para
terceiros", afirma Emilio Voli. "Isso se deve pelo aumento das exigências
para os assinantes, como comprovação de renda e análise
de crédito, medidas utilizadas para diminuir a inadimplência",
explica o consultor.
A Value Partners é uma empresa
internacional de consultoria estratégica criada em 1993. A empresa
auxilia executivos e empreendedores a solucionarem problemas complexos
e buscarem novas oportunidades. Em seus escritórios de Milão,
Roma, São Paulo, Praga, Budapeste, Houston e Buenos Aires a empresa
mantém uma equipe de mais de 130 consultores. A rede internacional
da Value Partners inclui ainda a OC&C Strategy Consultants, com escritórios
em Londres, Paris, Roterdã, Düsseldorf, Hamburgo, Boston, e
Mc Kenna Group, com matriz em Palo Alto. |