A web-nudez e os 15 pageviews
de fama
Sergio Buaiz (*)
Colaborador
Ser uma
pessoa pública, sempre foi complicado. A imagem construída
na mídia, através das artes, do esporte ou de qualquer atuação
destacada, é capaz de trazer orgulho e reconhecimento, mas o preço
dos holofotes é alto e proporcional aos resultados.
Primeiro a escrita, depois o rádio
e a TV. Mitos foram criados e uma indústria nasceu da curiosidade
de milhões de pessoas, sobre os detalhes, sobretudo da vida íntima,
de uma minoria eleita como assunto.
Os paparazzi e fofoqueiros
se multiplicam para fotografar, incomodar e invadir, na tentativa de extrair
desses "produtos" de massa, subprodutos vendáveis (e a privacidade,
palavra da moda, há muito tempo não existe para essa minoria).
Pessoas públicas, principalmente
artistas que aparecem todos os dias na TV, são personagens e não
têm direito à tristeza, ao silêncio... em suma: apareceu,
dançou!
E agora, o que muda com a Internet???
Ainda é cedo para responder
com objetividade, mas já temos elementos suficientes para uma nova
reflexão. Estamos vivendo o auge dessa indústria fofoqueira,
com a mistura de dois tempos, onde a minoria famosa e fabricada pela mídia
tradicional é super-exposta em sites que proliferam pela Internet.
Estamos saindo de um tempo onde os
emissores de idéias e imagens eram poucos, escolhidos a dedo. E
os receptores eram milhões, calados e passivos. Era um problema
de escassez, pois a emissão era muito cara, restrita e limitada
por condições físicas de reprodução.
Novo tempo - Agora, com os
recursos disponíveis na Internet, acabaram as diferenças
entre emissores e receptores. Qualquer anônimo pode fazer e se tornar
assunto a qualquer tempo!
Por enquanto, a penetração
da TV aberta, esta super-exposição das revistas de fofoca
e o costume da passividade ainda restringem o grupo de emissores a uma
minoria, mas a tendência natural é que novos costumes sejam
desenvolvidos.
As crianças de hoje já
estão se preparando para emitir suas idéias pela Internet,
sem restrições de custo e propagação. Com a
proliferação de emissores, os assuntos serão mais
diversos. Haverá mais trocas. E o poder hipnótico dos grandes
grupos de comunicação tende a se diluir.
Com a TV por assinatura, as revistas
segmentadas, as rádios comunitárias, zines etc., já
podemos notar uma pulverização desse "fenômeno mídia".
A quantidade de novos meios, programas e assuntos têm crescido muito,
desviando o foco dos grandes emissores.
Diferenças - Na Internet,
os portais tentam pegar carona no modelo antigo, canalizando uma enorme
quantidade de usuários para a sua porta de entrada. Mas o portal
já é muito diferente da TV, por vários motivos.
O primeiro grande diferencial é
definido pela condição de interatividade. A emissão
contínua de informações, comuns à TV e ao rádio,
é destinada a um público receptor passivo, enquanto o portal
assume a condição de índice, oferecendo mil opções.
A quantidade de assuntos tratados
é outro diferencial evidente. Para organizar um conteúdo
que sempre cresce de maneira exponencial, é necessário que
este índice seja o mais simples possível. Por isso, enquanto
as TVs disputam a audiência pelo programa que está no ar agora
(e aí vale toda a sorte de recursos audiovisuais para chamar a atenção),
os portais disputam a audiência pela facilidade de navegação,
pela facilidade de encontrar aquilo que se procura.
É como se cada portal tivesse
infinitos canais segmentados, tratando cada assunto específico para
um público direcionado. E o "assunto" não é exposto
na porta de entrada. É diluído!
Ou seja, por mais que se queira,
nenhum assunto ou personalidade recebe esse tratamento totalitário
na Internet, por muito tempo. No máximo, uma chamada de capa que
irá permanecer algumas horas e pronto. Já tem outra notícia
para pôr no lugar.
Comum - Em um futuro próximo,
ter um website pessoal será como ter um e-mail, e ter um
e-mail
será como ter telefone. Ter computador será como ter geladeira,
e programar seu website será como ter cartão de visita.
Emitir idéias será
tão simples, que os atuais emissores serão menos importantes.
Não haverá mais a diferença dual entre ser uma pessoa
pública ou não ser. As pessoas serão mais ou menos
públicas, mas todos terão direito à sua dose mínima
de exposição.
Acostumados com a nova forma de buscar
conhecimentos e informações, não seremos tão
dependentes dos grandes portais como eles pensam. Escolheremos portais
menores e mais aconchegantes, que têm a nossa cara e falam sobre
o que desejamos ouvir.
Iremos diretamente para aquela subseção
que nos interessa, e não precisaremos mais aturar o Tiririca do
momento, fazendo gracinhas na TV. Teremos opções, muitas
opções!
Mais que isso, seremos opções
de conteúdo. Todos seremos um pouco mais vulneráveis nessa
web-nudez, pois nossos pensamentos serão divulgados por e-mail,
sempre que tocarem alguém.
Todos teremos nossos 15 pageviews
de fama ou muito mais. E não precisaremos mais engolir qualquer
coisa que nos queiram vender. O próprio conceito de "fama" será
atualizado.
O que mais vai acontecer?
Liguem os holofotes: o palco é
seu!
(*) Sergio
Buaiz é publicitário e escritor, atuando nos sites Widebiz,
Wwwork,
Vendamais,
Economiabr,
Vencer,
Surftrade,
Nettudo,
Nova-e,
Paranashop,
Clickcerto,
Fenead,
Tradefairs,
Estudando,
Esaber
e Multivirtual. |