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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/21/01 22:31:42
Socorro!!! 
Um administrador na selva da informática! 

Gustavo Campos (*)
Colaborador

Extra! Extra! Extra!

Um renomadíssimo jornal de abrangência nacional noticiou a descoberta de novos seres encontrados na selva da informática. Estes seres são derivados da mescla de profissionais que estão tendo que se adaptar à nova realidade informatizada e virtual da vida. Os cientistas que fizeram tamanha descoberta concorrem ao prêmio Nobel deste ano, mas eles querem que os seus nomes sejam mantidos em sigilo. 

Especula-se que foi durante um safári na selva da informática que as novas espécies de profissionais foram encontradas. Entre tantas, os cientistas adiantam e nos destacam as seguintes:

Homo Sapiens NT: O bom profissional de Informática. Atualizado e conhece de negócio.

Homo Sapiens Briefing by Mail: O bom publicitário que conhece a selva de informática.

Homo Sapiens WWWGlobalizadus: O bom administrador que conhece a selva de informática.

Homo Sapiens Click of Law: O bom advogado que conhece a selva de informática.

Homo Sapiens Vocabularius Dominadus: O Bicho-papão. O mau profissional, de qualquer formação, que utiliza um dialeto profissional de um segmento para tirar vantagem pessoal e explorar uma oportunidade de momento. Atualmente, houve uma epidemia destes seres na selva da informática.

Homo Sapiens Clientus: O bicho apavorado. Pode ser considerado a gazela moderna. Está sempre atento a tudo, e quer sempre estar atualizado para continuar vivendo. Mas é fraco, e é uma presa fácil para o Homo Sapiens Vocabularius Dominadus, que por sinal é um terrível predador.

Realmente existe uma selva diferente para cada profissão, ou seja, cada profissional desenvolve uma linguagem própria (um dialeto profissional) para exercer o seu trabalho. Costumo dizer que para falar com um profissional de um outro ramo temos que trocar o winchester. 

Para publicitários, técnicos em informática, administradores e os entendidos de qualquer área, o assunto é sempre o mesmo: as vantagens do produto e serviço mudam de acordo com a perspectiva do profissional envolvido, quando se tenta vender algum produto. Se quiser fazer um teste, passe o mesmo problema para dois profissionais com formação diferente, e receberás duas propostas de soluções distintas. Podemos argumentar que existem várias soluções para o mesmo problema, mas se somarmos esforços, garanto que teremos uma solução mais completa, não é mesmo?

Linguagens - Mas, o problema de unirmos esforços está na linguagem praticada. Cada país tem uma linguagem e cada profissão também tem o seu dialeto. Especificamente, a informática, nos últimos 05 anos é responsável pela introdução de um dialeto universal e que força você a entender ou abrir espaço para quem entenda, não importa a sua formação. 

Os bons profissionais (Homo Sapiens NT)  de informática, como também os de outras profissões (Homo Sapiens Briefing by mail – para publicitários; Homo Sapiens WWWGlobalizadus – para administradores; Homo Sapiens Click of Law – para advogados), temem que o seu dialeto esconda profissionais menos capacitados, como por exemplo, na selva da informática, pequenos seres (Homo Sapiens Vocabularius Dominadus) se escondem entre as árvores tentando atacar os que passam pelas trilhas, amedrontando-os com um dialeto tribal, e na defensiva, os inocentes seres (Homo Sapiens Clientus) desprevenidos acabam cedendo a tanta pressão. 

Este uso de dialetos profissionais dificulta a separação dos bons e ruins profissionais, dos com boas e más intenções, do joio do trigo. Por fim, sem tentar separar os bons dos ruins, faço uma crítica suave, ao que eu, um administrador, encontro quando me aventuro na selva da informática.

Contraponto - Voltando ao ponto dos dialetos profissionais, considero que esta diversidade entre diversos profissionais com formação distinta é um aspecto positivo, mas que traz um contraponto. Profissionais com a mesma formação tendem a sempre apresentar soluções muito parecidas para os clientes, cada um acreditando que tem a melhor delas, mostrando aos clientes que a solução proposta pelos outros fornecedores é inacabada, incompleta e não atende às necessidades colocadas pelo cliente. 

Usando de uma analogia, cada profissional apresenta um mapa diferente com um “x” apontando a mina de ouro em local diferente. Normalmente a dúvida dos clientes é a seguinte: qual mapa escolher e qual mina me dará mais ouro considerando o longo prazo? 

Especificamente falando de profissionais que lidam com informática, as propostas tendem a seguir uma mesma linha de pensamento e de uso de linguagens e recursos. Como fazer para encontrar o “x” do mapa se ele não é o mesmo para estes profissionais de informática? Considere bem esta pergunta sob a ótica de um cliente/usuário que conhece, mas não vivencia, o mundo da informática, e que necessita destas soluções para alavancar o seu negócio. Como separar o bom do ruim? E se a solução para os problemas fosse considerar todos os “x” de todos os mapas (de diferentes profissionais) para buscar a melhor e mais lucrativa mina de ouro? Existiria um profissional tão qualificado?

Assessorando as empresas em estudos de mercado, gestão empresarial e estratégia, hoje em dia, é inevitável falar em informática, principalmente de Internet. Mas, mesmo não sendo técnico em informática, posso afirmar que não são todos os negócios que precisam de certos recursos de tecnologia, como por exemplo, Flash na abertura de sites/portais, banners animados, janelas pipocando, entre outros. Isto também não é uma generalização, mas confesso que apenas tive a oportunidade de me relacionar com empresas envolvidas em tecnologia para a Internet que têm a mesma proposta tecnológica. 

Voltando ao nosso vocabulário, como é comum encontrarmos hoje os Homo Sapiens Vocabularius Dominadus, ou seja, aqueles profissionais que dominam a linguagem do segmento, no caso a informática, sabem vender (e cobrar) e, até mesmo, apresentar diversas soluções, mas não conseguem fazer a solução dar retorno para o cliente, nem mesmo atingir algum dos objetivos propostos. Isto tudo me levou a questionar algumas coisas, e fazer a pequena crítica sobre a selva da informática, que tento entender um pouco mais a cada dia, vivendo os perigos das trilhas da mata.

Utilizo a Internet para fins profissionais, educacionais, atualização diária e até mesmo, para conhecer pessoas e lazer. Para estes fins, não perco tempo em minha conexão discada. Agüento até 15 segundos (alguns dizem que é muito) para abrir uma página, caso não consiga obter o que quero, descarto a página. Em função de minha utilização e necessidades com a Internet, estudando diversos comportamentos de usuários, desenvolvi um sistema de avaliação de sites/portais. Para qualquer avaliação parti de alguns pressupostos, fatos identificados e diagnósticos realizados, dependendo do cliente e do negócio. 

Por exemplo, poderíamos estar avaliando para um cliente o site do Yahoo.com, que é de conhecimento de todos. Entre tantas variáveis poderíamos selecionar três:

Funcionalidade: O site é simples de navegar? Encontro o que quero?

Conteúdo: O conteúdo existente no site abrange uma diversidade considerada para o que se propõe? Está sempre em atualização? 

Beleza: O visual da página é agradável? Existe recursos visuais que possibilitam uma maior identificação das áreas envolvidas? 

Para o caso do Yahoo, o conteúdo ficou em primeiro lugar (usuários fazem buscas atrás de conteúdos), a funcionalidade em segundo (rápido e de forma ordenada, por exemplo) e a beleza em terceiro (design, letras, formatos e cores, símbolos, identificação visual). Um usuário que acessa o Yahoo geralmente busca o conteúdo, a funcionalidade da ferramenta (estar separada em diretórios temáticos e ser de fácil entendimento, rápida) e por fim, se o site apresenta ou não recursos de design e visuais. 

Agora, se considerarmos o fato de que pelo Yahoo passa mais de 30% do fluxo da Internet mundial, como dizer que os usuários não buscam conteúdo com funcionalidade em primeiro lugar? Esta é uma outra grande questão a ser debatida e que me parece que está na contramão da tendência da Internet! Recursos visuais e design propriamente dito de páginas na Internet deveriam ser utilizados para gerar funcionalidade ao site e não para qualquer outra razão. Por isto, não precisa ser algo complexo. Jim Sterne em seu livro “Marketing na Web” destaca três desafios para os webdesigners, e somente três, sendo eles:

1. Navegação: Simplicidade e facilidade para avançar, voltar e encontrar o que procura rapidamente.

2. Interatividade: “Seu site na Web não é algo que as pessoas lêem, é algo que elas fazem”, destaca o autor. Portanto, provenha interatividade máxima.

3. Feedback: Diferente de prover interatividade, é colocar recursos onde os usuários consigam avaliar e dar o retorno para você. Através deste retorno, você deve ir tendo uma contínua adaptação do seu site.

Para quem trabalha com desenvolvimento, estas dicas deveriam ser discutidas com os clientes. Estes seres indefesos (Homo Sapiens Clientus), muitas vezes só sabem apontar para os seus concorrentes e dizer: “Eu quero um igual!”. Vamos aprender e
colocar em nosso currículo um pouco mais de business, vamos discutir as conseqüências com os clientes de cada iniciativa na Web. Desta forma, é capaz até de melhorarmos as manchetes alarmistas que lemos todos os dias, como por exemplo, “mais uma ponto.com fecha as portas”, “Ciclano (já que o Fulano está comprometido) demite 30% da folha”, entre outros.

Colocar o "x" - Portanto, não devemos impor o conhecimento de um segmento de profissionais em um outro, mas devemos somar esforços em função de prestar um serviço de mais impacto para nossos clientes. Isto significa que devemos buscar as soluções existentes hoje no mercado e tentar colocar o “x” no mapa no local mais rentável (ou de maior desempenho) para o cliente, e não o que é mais rentável para nós. 

Vamos parar de nos colocar em primeiro lugar, e nos comprometer com o negócio dos clientes. Este impacto deverá se transformar em um aumento de negócios, fluxo de visitas ou qualquer outra meta pré-determinada. Devemos ter humildade de entender o dialeto profissional e nos aventurarmos de vez em quando na selva de outros profissionais. Fazer umas críticas ao que encontramos, tendo a intenção de colaborar com o desenvolvimento dos bons profissionais que descobrimos. 

Os profissionais da informática têm uma grande vitrine para mostrar o seu trabalho, que é a Internet. Profissionais de outros setores tentam utilizar esta vitrine, mas a grande vantagem, os pontos nobres continuam sendo dos profissionais de informática. Mas, todos podemos melhorar o que encontramos nestas vitrines, dentro de aspectos racionais, alguns deles descritos neste artigo. 

Internet não é TV, não é algo popular e a sua estrutura mundial ainda não é adequada para os recursos já disponíveis. Temos exemplos de grandes portais de comércio B2C nacionais que fizeram um grande esforço para reduzir a sua página de abertura de 120 Kb para menos de 100 Kb (o Yahoo tem 12 KB!). 

Ainda há o que melhorar, é só mostrar para os clientes algo diferente, entender mais de negócio e principalmente do negócio do cliente, e ter coragem de dizer para o cliente que ele não precisa de uma abertura em Flash (que é o tal filmezinho que ele viu no site da concorrência e que ele pediu para secretária ver quem faria um melhor). Sendo assim, começaremos a colocar o “x” no mapa no mesmo local, encontrando a mais lucrativa das minas de ouro para o cliente, solucionando da melhor forma o problema dele, e a selva da informática começaria a ser mais freqüentada por profissionais de outros segmentos, principalmente os administradores.

PS.: Este texto também deve ser humildemente considerado por todos os outros profissionais, inclusive pelos administradores. Pessoal, humildade e cabeça aberta para novas idéias. Vamos fazer o Business to Business e deixar o Business =  Business do concorrente.

(*) Gustavo Campos é sócio da Focal Pesquisas, empresa especializada em pesquisa de mercado e mercadologia, atua como consultor de empresas autônomo para grandes empresas brasileiras, é assessor de educação e pesquisa da Fundação dos  administradores do Rio Grande do Sul (Fargs) e é palestrante sobre temas relacionados a negócios.