Socorro!!!
Um administrador na selva da informática!
Gustavo Campos (*)
Colaborador
Extra! Extra!
Extra!
Um renomadíssimo jornal de
abrangência nacional noticiou a descoberta de novos seres
encontrados na selva da informática. Estes seres são derivados
da mescla de profissionais que estão tendo que se adaptar à
nova realidade informatizada e virtual da vida. Os cientistas que fizeram
tamanha descoberta concorrem ao prêmio Nobel deste ano, mas eles
querem que os seus nomes sejam mantidos em sigilo.
Especula-se que foi durante um safári
na selva da informática que as novas espécies de profissionais
foram encontradas. Entre tantas, os cientistas adiantam e nos destacam
as seguintes:
Homo
Sapiens NT: O bom profissional de Informática. Atualizado e
conhece de negócio.
Homo
Sapiens Briefing by Mail: O bom publicitário que conhece a selva
de informática.
Homo
Sapiens WWWGlobalizadus: O bom administrador que conhece a selva de
informática.
Homo
Sapiens Click of Law: O bom advogado que conhece a selva de informática.
Homo
Sapiens Vocabularius Dominadus: O Bicho-papão. O mau profissional,
de qualquer formação, que utiliza um dialeto profissional
de um segmento para tirar vantagem pessoal e explorar uma oportunidade
de momento. Atualmente, houve uma epidemia destes seres na selva da informática.
Homo
Sapiens Clientus: O bicho apavorado. Pode ser considerado a gazela
moderna. Está sempre atento a tudo, e quer sempre estar atualizado
para continuar vivendo. Mas é fraco, e é uma presa fácil
para o Homo Sapiens Vocabularius Dominadus, que por sinal é
um terrível predador.
Realmente existe uma selva diferente
para cada profissão, ou seja, cada profissional desenvolve uma linguagem
própria (um dialeto profissional) para exercer o seu trabalho. Costumo
dizer que para falar com um profissional de um outro ramo temos que trocar
o winchester.
Para publicitários, técnicos
em informática, administradores e os entendidos de qualquer
área, o assunto é sempre o mesmo: as vantagens do produto
e serviço mudam de acordo com a perspectiva do profissional envolvido,
quando se tenta vender algum produto. Se quiser fazer um teste, passe o
mesmo problema para dois profissionais com formação diferente,
e receberás duas propostas de soluções distintas.
Podemos argumentar que existem várias soluções para
o mesmo problema, mas se somarmos esforços, garanto que teremos
uma solução mais completa, não é mesmo?
Linguagens - Mas, o problema
de unirmos esforços está na linguagem praticada. Cada país
tem uma linguagem e cada profissão também tem o seu dialeto.
Especificamente, a informática, nos últimos 05 anos é
responsável pela introdução de um dialeto universal
e que força você a entender ou abrir espaço para quem
entenda, não importa a sua formação.
Os bons profissionais (Homo Sapiens
NT) de informática, como também os de outras profissões
(Homo Sapiens Briefing by mail – para publicitários; Homo
Sapiens WWWGlobalizadus – para administradores; Homo Sapiens Click
of Law – para advogados), temem que o seu dialeto esconda profissionais
menos capacitados, como por exemplo, na selva da informática, pequenos
seres
(Homo Sapiens Vocabularius Dominadus) se escondem entre as árvores
tentando atacar os que passam pelas trilhas, amedrontando-os com um dialeto
tribal, e na defensiva, os inocentes seres (Homo Sapiens Clientus)
desprevenidos acabam cedendo a tanta pressão.
Este uso de dialetos profissionais
dificulta a separação dos bons e ruins profissionais, dos
com boas e más intenções, do joio do trigo. Por fim,
sem tentar separar os bons dos ruins, faço uma crítica suave,
ao que eu, um administrador, encontro quando me aventuro na selva da informática.
Contraponto - Voltando ao
ponto dos dialetos profissionais, considero que esta diversidade entre
diversos profissionais com formação distinta é um
aspecto positivo, mas que traz um contraponto. Profissionais com a mesma
formação tendem a sempre apresentar soluções
muito parecidas para os clientes, cada um acreditando que tem a melhor
delas, mostrando aos clientes que a solução proposta pelos
outros fornecedores é inacabada, incompleta e não atende
às necessidades colocadas pelo cliente.
Usando de uma analogia, cada profissional
apresenta um mapa diferente com um “x” apontando a mina de ouro em local
diferente. Normalmente a dúvida dos clientes é a seguinte:
qual mapa escolher e qual mina me dará mais ouro considerando o
longo prazo?
Especificamente falando de profissionais
que lidam com informática, as propostas tendem a seguir uma mesma
linha de pensamento e de uso de linguagens e recursos. Como fazer para
encontrar o “x” do mapa se ele não é o mesmo para estes profissionais
de informática? Considere bem esta pergunta sob a ótica de
um cliente/usuário que conhece, mas não vivencia, o mundo
da informática, e que necessita destas soluções para
alavancar o seu negócio. Como separar o bom do ruim? E se a solução
para os problemas fosse considerar todos os “x” de todos os mapas (de diferentes
profissionais) para buscar a melhor e mais lucrativa mina de ouro? Existiria
um profissional tão qualificado?
Assessorando as empresas em estudos
de mercado, gestão empresarial e estratégia, hoje em dia,
é inevitável falar em informática, principalmente
de Internet. Mas, mesmo não sendo técnico em informática,
posso afirmar que não são todos os negócios que precisam
de certos recursos de tecnologia, como por exemplo, Flash na abertura
de sites/portais, banners animados, janelas pipocando, entre
outros. Isto também não é uma generalização,
mas confesso que apenas tive a oportunidade de me relacionar com empresas
envolvidas em tecnologia para a Internet que têm a mesma proposta
tecnológica.
Voltando ao nosso vocabulário,
como é comum encontrarmos hoje os Homo Sapiens Vocabularius Dominadus,
ou seja, aqueles profissionais que dominam a linguagem do segmento, no
caso a informática, sabem vender (e cobrar) e, até mesmo,
apresentar diversas soluções, mas não conseguem fazer
a solução dar retorno para o cliente, nem mesmo atingir algum
dos objetivos propostos. Isto tudo me levou a questionar algumas coisas,
e fazer a pequena crítica sobre a selva da informática, que
tento entender um pouco mais a cada dia, vivendo os perigos das trilhas
da mata.
Utilizo a Internet para fins profissionais,
educacionais, atualização diária e até mesmo,
para conhecer pessoas e lazer. Para estes fins, não perco tempo
em minha conexão discada. Agüento até 15 segundos (alguns
dizem que é muito) para abrir uma página, caso não
consiga obter o que quero, descarto a página. Em função
de minha utilização e necessidades com a Internet, estudando
diversos comportamentos de usuários, desenvolvi um sistema de avaliação
de sites/portais. Para qualquer avaliação parti de alguns
pressupostos, fatos identificados e diagnósticos realizados, dependendo
do cliente e do negócio.
Por exemplo, poderíamos estar
avaliando para um cliente o site do Yahoo.com, que é de conhecimento
de todos. Entre tantas variáveis poderíamos selecionar três:
Funcionalidade:
O site é simples de navegar? Encontro o que quero?
Conteúdo:
O conteúdo existente no site abrange uma diversidade considerada
para o que se propõe? Está sempre em atualização?
Beleza:
O visual da página é agradável? Existe recursos visuais
que possibilitam uma maior identificação das áreas
envolvidas?
Para o caso do Yahoo, o conteúdo
ficou em primeiro lugar (usuários fazem buscas atrás de conteúdos),
a funcionalidade em segundo (rápido e de forma ordenada, por exemplo)
e a beleza em terceiro (design, letras, formatos e cores, símbolos,
identificação visual). Um usuário que acessa o Yahoo
geralmente busca o conteúdo, a funcionalidade da ferramenta (estar
separada em diretórios temáticos e ser de fácil entendimento,
rápida) e por fim, se o site apresenta ou não recursos de
design
e visuais.
Agora, se considerarmos o fato de
que pelo Yahoo passa mais de 30% do fluxo da Internet mundial, como dizer
que os usuários não buscam conteúdo com funcionalidade
em primeiro lugar? Esta é uma outra grande questão a ser
debatida e que me parece que está na contramão da tendência
da Internet! Recursos visuais e design propriamente dito de páginas
na Internet deveriam ser utilizados para gerar funcionalidade ao site e
não para qualquer outra razão. Por isto, não precisa
ser algo complexo. Jim Sterne em seu livro “Marketing na Web” destaca três
desafios para os webdesigners, e somente três, sendo eles:
1. Navegação: Simplicidade
e facilidade para avançar, voltar e encontrar o que procura rapidamente.
2. Interatividade: “Seu site na Web
não é algo que as pessoas lêem, é algo que elas
fazem”, destaca o autor. Portanto, provenha interatividade máxima.
3. Feedback: Diferente de
prover interatividade, é colocar recursos onde os usuários
consigam avaliar e dar o retorno para você. Através deste
retorno, você deve ir tendo uma contínua adaptação
do seu site.
Para quem trabalha com desenvolvimento,
estas dicas deveriam ser discutidas com os clientes. Estes seres indefesos
(Homo Sapiens Clientus), muitas vezes só sabem apontar para
os seus concorrentes e dizer: “Eu quero um igual!”. Vamos aprender e
colocar em nosso currículo
um pouco mais de business, vamos discutir as conseqüências
com os clientes de cada iniciativa na Web. Desta forma, é capaz
até de melhorarmos as manchetes alarmistas que lemos todos os dias,
como por exemplo, “mais uma ponto.com fecha as portas”, “Ciclano (já
que o Fulano está comprometido) demite 30% da folha”, entre outros.
Colocar o "x" - Portanto,
não devemos impor o conhecimento de um segmento de profissionais
em um outro, mas devemos somar esforços em função
de prestar um serviço de mais impacto para nossos clientes.
Isto significa que devemos buscar as soluções existentes
hoje no mercado e tentar colocar o “x” no mapa no local mais rentável
(ou de maior desempenho) para o cliente, e não o que é mais
rentável para nós.
Vamos parar de nos colocar em primeiro
lugar, e nos comprometer com o negócio dos clientes. Este impacto
deverá se transformar em um aumento de negócios, fluxo de
visitas ou qualquer outra meta pré-determinada. Devemos ter humildade
de entender o dialeto profissional e nos aventurarmos de vez em quando
na selva de outros profissionais. Fazer umas críticas ao que encontramos,
tendo a intenção de colaborar com o desenvolvimento dos bons
profissionais que descobrimos.
Os profissionais da informática
têm uma grande vitrine para mostrar o seu trabalho, que é
a Internet. Profissionais de outros setores tentam utilizar esta vitrine,
mas a grande vantagem, os pontos nobres continuam sendo dos profissionais
de informática. Mas, todos podemos melhorar o que encontramos nestas
vitrines, dentro de aspectos racionais, alguns deles descritos neste artigo.
Internet não é TV,
não é algo popular e a sua estrutura mundial ainda não
é adequada para os recursos já disponíveis. Temos
exemplos de grandes portais de comércio B2C nacionais que fizeram
um grande esforço para reduzir a sua página de abertura de
120 Kb para menos de 100 Kb (o Yahoo tem 12 KB!).
Ainda há o que melhorar, é
só mostrar para os clientes algo diferente, entender mais de negócio
e principalmente do negócio do cliente, e ter coragem de dizer para
o cliente que ele não precisa de uma abertura em Flash (que é
o tal filmezinho que ele viu no site da concorrência e que
ele pediu para secretária ver quem faria um melhor). Sendo assim,
começaremos a colocar o “x” no mapa no mesmo local, encontrando
a mais lucrativa das minas de ouro para o cliente, solucionando da melhor
forma o problema dele, e a selva da informática começaria
a ser mais freqüentada por profissionais de outros segmentos, principalmente
os administradores.
PS.: Este texto também deve
ser humildemente considerado por todos os outros profissionais, inclusive
pelos administradores. Pessoal, humildade e cabeça aberta para novas
idéias. Vamos fazer o Business to Business e deixar o Business
= Business do concorrente.
(*) Gustavo
Campos é sócio da Focal
Pesquisas, empresa especializada em pesquisa de mercado e mercadologia,
atua como consultor de empresas autônomo para grandes empresas brasileiras,
é assessor de educação e pesquisa da Fundação
dos administradores do Rio Grande do Sul (Fargs) e é palestrante
sobre temas relacionados a negócios. |