Bips: tendências do comércio
eletrônico
Carlos Pimentel Mendes
É
difícil apontar caminhos em um meio tão novo como a Internet,
que se renova a cada dia. O que hoje pela manhã parece ser uma verdade
definitiva, à noite já parece o maior absurdo. Todos, grandes
e pequenos, estão tateando, e os resultados são os mais diversos
possíveis. Assim, o que se pode tentar é apontar tendências
que vêm se mantendo, e descobertas que os empresários vão
fazendo.
Por exemplo, em breve já não
haverá diferença entre virtual e real. Desaparecem as fronteiras
entre a empresa com negócios no mundo real e a que só existe
em função da Internet. Desaparece também dentro da
empresa a Divisão de Internet, ou de Comércio Eletrônico.
Como não existe hoje na maioria das empresas uma Divisão
de Venda por Telefone. O que conta nesse novo cenário é a
solidez, integridade e eficiência da empresa, e a imagem que ela
consegue fazer o mercado perceber dela mesma. Na prática, logo não
existirá diferença entre Lojas Norueguesas e Norueguesas.com
(nomes fictícios), será uma só empresa que tanto atende
pela Internet como pelo telefone ou no balcão. Bem, a não
ser que a maré mude...
Os internautas estão deixando
de navegar ao acaso e começando a concentrar atenções
em sites onde encontram o que buscam. Não adianta existirem 3000
mecanismos de busca, se o Google e o Yahoo dão conta do recado,
talvez nem o famoso AltaVista sobreviva na memória do internauta.
Assim, sites que conseguem se classificar entre os favoritos do internauta
têm futuro promissor. Os demais, precisarão repensar seus
negócios.
Está terminando a fase em
que o internauta aceitava ser cobaia de experiências das empresas
na Web. Erros antes desculpáveis já não são
mais aceitos, o internauta exige profissionalismo das empresas ponto-com.
Uma página que demora minutos para carregar, por mais bonita que
seja, pode até atrair a atenção de um designer, mas
não funcionará junto ao grande público que quer acesso
instantâneo à informação (tolerância média
de 30 segundos de espera e caindo...). O chamado carrinho de compras enguiçar
no meio do caminho é intolerável. Falta de transparência
na política da empresa (não citar custos de fretes e prazos
de entrega), ruim. Descumprir o que for prometido - e principalmente não
dar um super-tratamento ao internauta assim prejudicado - é fatal.
A propósito, antigo ditado
no mundo dos negócios lembrava que um cliente satisfeito comenta
o fato com dois ou três amigos, mas o insatisfeito espalha sua insatisfação
para 17. Esse número meio cabalístico é fantasticamente
multiplicado na Internet, onde o cliente insatisfeito pode até criar
uma página Web de protesto contra a empresa, formar um grupo de
debates que reúne centenas de outros clientes insatisfeitos e promover
um verdadeiro boicote à empresa. Cuidar da imagem junto ao mercado,
portanto, é cada vez mais importante.
Relacionamentos são cada vez
mais importantes: compartilhar informações com os fornecedores,
parceiros e clientes, de preferência através de processos
eletrônicos automáticos, significa redução de
custos, agilização nos negócios e principalmente fidelização
do cliente - termo cada vez mais usado entre os empresários, num
mundo em que trocar de fornecedor é pouco mais que chamar uma nova
página Web na tela. Daí a ênfase em termos como negócios
entre empresas (business-to-business) e comércio colaborativo (c-commerce).
Centros de compras virtuais
- Pergunta um internauta sobre os chamados shoppings virtuais. São
sucesso ou fracasso? Na verdade, trata-se de uma química complicada,
uma receita que se não for bem preparada desanda tão facilmente
como uma maionese.
Da mesma forma que nos centros de
compras "construídos em madeira e tijolos" existem lojas-âncora,
que recebem todas as facilidades para ali se instalarem, enquanto as demais
têm de arcar com todos os custos, nos chamados shoppings virtuais
o fenômeno se repete. Uma grande cadeia de lojas pode levar clientes
ao shopping virtual, pelo simples ato de colocar um vínculo
em sua página - mas isso não sai de graça, envolve
uma negociação difícil.
Na outra ponta, não basta
uma pequena loja criar uma página Web - isso é só
o começo do processo, o grande desafio é fazer essa nova
agulha se destacar no imenso palheiro da Internet. Para este pequeno lojista,
conseguir se instalar em um conhecido centro de compras virtual pode ser
a grande solução.
Teoria e prática -
Em tese, portanto, os shoppings virtuais têm tudo para dar
certo, pois - à semelhança dos centros de compras que existem
na maioria das cidades - atendem ao desejo do consumidor de encontrar "de
tudo" em um só lugar, com um mesmo padrão de qualidade e
atendimento.
Na prática, nem tanto. Primeiro,
porque os lojistas e suas empresas estão em fases bem diferentes
de experiência com a Internet. Há os que apenas ouviram falar
e os grandes empresários virtuais. Para os primeiros, um centro
de compras virtual precisa oferecer toda a infra-estrutura e até
lembrar que o lojista deve conferir seguidamente sua caixa postal eletrônica.
Para os grandes, é preciso fazer com que a estrutura do centro de
compras se torne compatível com a base de programas já instalada
nessas empresas.
Fácil? Existem, de fato, soluções
de comércio eletrônico e de segurança para todos os
casos, o problema é o custo. Uma pequena loja talvez precise de
recursos mínimos de segurança, até porque o tipo de
produto comercializado permite que faça as verificações
de crédito com calma, na forma tradicional. Outras, no entanto,
precisam de um super-sistema de vendas por via eletrônica. Logística
de entrega é outro problema, por motivos parecidos.
O empreendedor terá que decidir,
por exemplo, se o centro de compras terá uma estrutura única
de aprovação de crédito e entrega (os lojistas aceitariam/confiariam
compartilhar suas bases de dados de clientes?), ou deixar isso por conta
de cada loja e arriscar que uma loja desorganizada prejudique a imagem
de todo o centro de compras... Aliás, é pela mesma razão
que alguns empreendimentos do gênero construídos em grandes
cidades não dão certo e até fecham: a receita desandou...
Sem distância - E, por
falar em logística, já não faz diferença mais
se a empresa consultada na Web pelo internauta tem sede no quarteirão
ao lado ou em outro continente, pode até acontecer (já aconteceu)
de a empresa mais distante ser mais ágil na entrega do que a situada
na mesma rua do internauta.
Isso implica em rever todos os conceitos
de eficiência, pois virtualmente qualquer empresa do mesmo ramo de
atividades pode ser concorrente das demais no mundo todo. O detalhe é
que só isso não basta: a empresa precisa fazer com que os
clientes divulguem entre si a sua satisfação com o atendimento,
para criar um diferencial afetivo que faça o cliente potencial preferir
a empresa X à empresa/marca Y ou Z. Afinal, a distância entre
as três é de apenas um clique no mouse.
Por fim, vale recordar que embora
os empresários tenham caído na realidade de que os velhos
princípios da Economia continuam todos em vigor na chamada Nova
Economia, existem hoje inimagináveis recursos que podem ser explorados.
Já citamos a agilidade e economia que os modernos sistemas de intercâmbio
de informações propiciam. Há mais: muitas empresas
estão descobrindo que vender informação sobre um produto
pode ser mais rentável que vender o próprio produto.
Nos Estados Unidos, a Federal Express,
gigante nos serviços de entregas, está deixando de entregar
pacotes (vem terceirizando os serviços) e se concentra em agregar
valor à logística do serviço, fazendo apenas o controle
das entregas. Uma centenária empresa produtora de cofres-fortes
descobriu que seu maior patrimônio agora é o conhecimento
que tem sobre sistemas de criptografia. Nem sei se continua vendendo cofres
de aço... Ou seja, o tráfego de bits cada vez ganha mais
valor sobre o tráfego de átomos. Seu produto físico
pode até custar mais, se um perfeito sistema de informações
permite ao cliente economizar nos processos administrativos de compra e
confiar nos prazos de entrega... |