Muita discussão e pouca ação
nas empresas
Cynthia Rosenberg (*)
Colaboradora
"A ação,
e não apenas o conhecimento, é a vantagem competitiva da
Era da informação", diz o professor de comportamento organizacional
da Universidade de Stanford (EUA), o americano Jeffrey Pfeffer, que estudou
nos últimos quatro anos as dificuldades das empresas em colocar
em prática o conhecimento disponível no mundo corporativo.
P. A distância entre o conhecimento
e ação está se tornando maior no mundo corporativo?
R. Não sei se maior, mas certamente
mais
crítica. Até poucos anos atrás, a capacidade de agir,
de colocar informações em prática, não era
tão determinante como é hoje. Pense na Xerox. Em 1959 ela
lançou a tecnologia básica para máquina copiadora.
treze anos depois, tinha 95% do mercado, usando basicamente os mesmos processos
e a mesma informação. No mundo de hoje é dificílimo
imaginar uma empresa dominando o mercado por tanto tempo. As várias
mudanças no ambiente competitivo - mais concorrentes, mais ênfase
na velocidade, produtos com ciclo de vida menores - fazem com que seja
cada vez mais importante resolver a distância entre conhecimento
e ação.
P. Como a Internet influencia
esse cenário?
R. Entre outras formas, fazendo com
que o mercado de ações emita a mensagem errada para as empresas.
De 1999 para cá, surgiu um sem-número de companhias de tecnologia
com novas idéias, planos de negócios, promessas de fazer
e acontecer. Os investidores apostaram nelas de uma forma jamais vista.
Deu certo? nem sempre. Ao agir dessa forma, o mercado deu o recado de que
ter o conhecimento era muito mais importante do que colocá-lo em
prática.
P. O Sr. defende, em plena Era
da Informação, que o conhecimento não é uma
vantagem competitiva. Não se trata de um paradoxo?
R. Não quero dizer, com isso,
que o conhecimento não seja importante ou necessário. Ele
é, mas não o suficiente para determinar o sucesso ou a liderança
de uma empresa. Hoje, profissionais e companhias em qualquer parte do mundo
têm acesso à mesma informação. Empresas de biotecnologia
e informática, entre outras, contratam gente vinda das mesmas universidades?
Sim. Esse pessoal tem acesso às mesmas ferramentas profissionais,
como relatórios científicos, análises de negócios,
livros, publicações especializadas? Sim. As tecnologias utilizadas
são semelhantes? Sim. Dá para dizer, portanto, qual a vantagem
competitiva dessas companhias estão na informação
ou no capital intelectual que possuem? Não, não dá.
P. Onde ela está, então?
R. Em agir. Em saber usar a informação
e o capital intelectual. Na indústria farmacêutica, o lançamento
de uma nova droga dependerá muito mais dos processos e sistemas
que permitirão às pessoas trabalhar mais rapidamente. A gestão
do conhecimento coloca a informação num pedestal, fala em
adquiri-la, disseminá-la, mas raramente indica o que fazer com ela.
(*)
Cynthia Rosenberg atua na redação
da Revista Exame.
Artigo divulgado via boletim eletrônico Varejo Século 21.
Esse fórum conta com mais de 1.100 participantes e o objetivo dos
trabalhos é apresentar idéias, tendências, experiências
e opiniões que contribuam para a melhoria do comércio varejista
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