Fechando!
Carlos Pimentel Mendes
Depois
da euforia despropositada dos investidores enlouquecidos, o refluxo da
maré: uma série de empresas virtuais está fechando,
dentro de um processo normal de depuração do mercado mas
que causa temor em muita gente.
Em muitos casos, os projetos de sites
Web milionários tinham simplesmente objetivo de especular: pegava-se
uma idéia qualquer, inventava-se um plano de negócios "para
inglês ver", sem qualquer análise de viabilidade econômica,
buscava-se um grupo de investidores que injetasse vultoso capital no negócio,
fazia-se o máximo de publicidade e chegava-se à Bolsa de
Valores com o ego inflado e o negócio mais inflado ainda, lançando-se
uma oferta pública de ações. Então, dinheiro
no bolso, abandonava-se o negócio e partia-se para outra, deixando-se
os investidores no prejuízo.
Em outros casos, embora não
houvesse má fé, ocorreram falhas importantes no planejamento
do negócio, principalmente por não existirem séries
estatísticas ou pesquisas confiáveis sobre o desenvolvimento
da Internet - que afinal, tem pouco mais de cinco anos de uso efetivamente
comercial.
A leviandade chegou ao ponto de contratar
enormes e milionárias equipes, cujo custo nunca poderia ser suportado
pela simples operação normal do site, em qualquer tempo.
Talvez inspirados no caso da livraria virtual Amazon.com, os empresários
de Internet por um bom tempo consideraram que lucro era palavrão
nesse setor, o negócio era investir de qualquer forma e o mais rápido
possível para ocupar espaços num setor de crescimento exponencial.
Simplesmente, não havia tempo para se fazer um planejamento estratégico,
analisando pontos fortes e fracos tanto do mercado como da própria
empresa. Para eles, a rapidez de análise do mercado e de execução
do projeto revelou-se fatal.
Estimativas sobre como seria o comportamento
dos consumidores na Internet mostraram-se erradas depois, mas principalmente
ocorreram erros primários, que causaram o fracasso de muitos projetos,
como:
falhas
na própria confecção das páginas Web, como
a descrição faltante ou incompleta dos produtos negociados;
o
excesso de pirotecnia artística que causava a demora no carregamento
das páginas (ou impedia a carga, se o usuário não
tivesse instalado previamente os aplicativos plug-in necessários);
os
problemas tecnológicos relacionados ao "carrinho de compras" (discriminação
dos produtos que o internauta consumidor está selecionando para
comprar), que muitas vezes empacavam tal como o burro da anedota ou se
desmanchavam no ar; o
receio - subestimado - quanto à segurança das transações
pela Web, agravado pela frustração dos consumidores ao perceberem
que seus dados cadastrais - que deveriam ser guardados "a sete chaves"
- estão sendo negociados abertamente, em lote, com empresas distribuidoras
de propaganda via correio eletrônico;
a
falta de uma logística ótima para as entregas, satisfazendo
os consumidores.
A terceira situação
é a dos projetos muito adiantados no seu tempo, fracassando por
falta de um mercado consumidor amadurecido, ou altamente dependentes de
investimentos para se manterem até que a demanda gerada permitisse
obter lucro (neste caso, o próprio refluxo do mercado, com muitos
investidores fugindo para aplicações mais tradicionais, frustrou
boas idéias pelo simples fato de os idealizadores não terem
fôlego suficiente para suportar o período inicial de prejuízo
operacional). Como ficou comprovado, não adianta lançar agora
um projeto ideal para 2005, se não existirem recursos financeiros
garantidos para suportar a longa travessia até esse ano.
Ainda no capítulo Investimentos,
note-se que em muitos nichos de mercado o excesso de lançamentos
de sites simplesmente saturou as possibilidades. Um exemplo é o
setor de leilões: surgiram tantos sites iguais no objetivo que o
que seria um excelente negócio - e foi, com bons lucros no início
- passou a dar prejuízo pela pulverização de investidores/anunciantes...
e de internautas visitantes!
"É
bem provável que a época em que você ganhava um monte
de dinheiro por se chamar empresa pontocom tenha acabado. Muitas
das star-ups da Internet não eram star-ups de negócios.
Eram apenas apostas da bolsa. Quando havia um Plano de Negócios,
era só para lançar um IPO ou para ser comprada. Não
para construir um negócio"
(Peter
Drucker, na revista Exame, de 15/11/2000, página 120)
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Últimas baixas - Até
um site dedicado a promover futuros casamentos fracassou, na Inglaterra,
ao mesmo tempo em que a esposa do idealizador do site se tornava ex-posa,
solicitando o divórcio. Outro site que também foi à
bancarrota tinha como proposta apresentar justamente os casos de sites
fechados na Internet!
Mas, junto com esses sites folclóricos,
chegam as notícias de outros trabalhos encerrados (ou em vias de
encerramento). Como o da loja virtual de brinquedos norte-americana eToys,
que iniciou em 5/2/2001 uma liquidação para encerramento
das atividades, ao mesmo tempo em que começava a demitir os últimos
293 empregados. O varejista virtual de produtos eletrônicos e livros
Buy.com também registra sérias dificuldades.
Embora bem conhecido pelo público,
o site Pets.com de produtos para animais faliu. O site AllAdvantage,
pioneiro na idéia de pagar para o internauta navegar (em troca de
manter no monitor uma barra de publicidade enquanto o usuário esteja
visitando os sites Web), também anunciou o encerramento das atividades.
Igualmente, a Disney anunciou a descontinuidade de seu portal de compras
Go.com.
No Brasil, a empresa de desenvolvimento
de sites WebTrade também
anuncia o encerramento das suas atividades em 1/3/2001. Detalhe: há
quem acredite ser tal anúncio apenas uma jogada de marketing, já
que os serviços podem ser terceirizados...
Até mesmo a norte-americana
Amazon.com
sofreu baixas, registrando prejuízo de US$ 90,4 milhões e
anunciando a demissão de 1.300 pessoas, 15% de seu quadro de funcionários,
no quarto trimestre fiscal de 2000.
Mais de 40 mil postos de trabalho
foram perdidos em 2000 e outros 12.828 apenas em janeiro de 2001 nos Estados
Unidos, entre as chamadas empresas ponto.com. O detalhe é que esses
trabalhadores não ficam desempregados por muito tempo: logo são
absorvidos por outras empresas de economia digital ou iniciam seu próprio
negócio na Internet.
"Não somos uma empresa
de Internet. Somos um clube e necessitamos de resultados positivos."
(Vice-presidente do
clube de futebol paulistano Corinthians, Antônio Roque Citadini,
sobre a demissão do treinador Dario Pereyra, em entrevista ao caderno
de esportes do jornal
O Estado de São Paulo,
em 5/2/2001)
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Ameaça na Nasdaq -
Depois de baixar de 5.000 pontos para cerca de 3.000, uma série
de companhias ficaram tão desvalorizadas que podem ser retiradas
do índice Nasdaq Composite, que relaciona as principais empresas
da economia digital e de alta tecnologia.
Conforme análise da The
Industry Standard, dos EUA, 257 empresas estavam neste início
de ano encontrando dificuldades crescentes para cumprir os requisitos mínimos
para figurarem no pregão da bolsa de valores Nasdaq, como a exigência
de manter cotação mínima de US$ 1 por ação:
as empresas que, por 30 dias consecutivos de negociação mantiverem
cotação inferior a um dólar são advertidas
de que estão descumprindo as regras da Nasdaq, então ocorre
um prazo de observação de 90 dias em que elas precisam fazer
com que as cotações ao menos voltem para valor muito próximo
a um dólar, segundo o porta-voz daquela bolsa, Wayne Lee.
Mesmo no Fórum Econômico
Mundial ocorrido em 2/2001 em Davos, na Suíça, o consenso
sobre o setor se mostrou difícil: para alguns, nenhuma das atuais
companhias de venda direta ao consumidor (B2) deve sobreviver, enquanto
para outros esse modelo de negócios veio para ficar. Paul Deninger,
diretor executivo da empresa de consultoria Broadview, notou que 95% das
empresas listadas no pregão da Nasdaq apresentam cotações
inferiores à inicial (registrada quando da oferta pública
inicial - IPO), nos últimos 12 meses. Apesar desses aspectos negativos,
o mesmo executivo afirmou, em entrevista
ao Financial Times de 29/1/2001, que após a rearrumação
da casa, o retorno da confiança dos investidores começará
pelos grandes e mais importantes participantes desse mercado.
Crise
X Oportunidade
"Os chineses antigos são
apontados, via de regra, como um dos povos mais sábios do mundo...
Conta-se que na escrita do povo chinês, feita através de um
símbolo para cada palavra, o símbolo de Oportunidade é
o mesmo símbolo usado para Crise. Diferenciam-se pelo contexto em
que são escritos..."
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Esperança - Desde 1/2/2001,
deixou a Web igualmente o site Mercado Empresarial, fundado nove meses
antes e com apenas três meses de operações, alegando
a falta de recursos para a continuidade das operações na
fase de implantação - que gera resultados financeiros negativos.
"Quizás podamos tener una nueva oportunidad de
servirle en tiempos mejores", completa
o texto divulgado via Internet pela empresa.
Entretanto, há indicadores
positivos no horizonte. Na própria capital paulista, a Bolsa de
Valores de São Paulo anunciou em 12/2000 a criação
da bolsa Novo Mercado, para as empresas da economia digital.
Ela segue os modelos das bolsas congêneres
alemã e francesa, em que, ao contrário do estilo tradicional
de ações ordinárias e preferenciais (em que apenas
alguns investidores - possuidores das chamadas ações ordinárias,
com direito a voto - podem opinar nos negócios da empresa), a empresa
participante do pregão deve ser administrada dentro do conceito
de governância corporativa - o que impede que os sócios
majoritários liqüidem a empresa e se retirem, desviando o dinheiro
obtido, depois de feita a capitalização via oferta pública
de ações. Outra regra do novo sistema é que os investidores
minoritários também tenham direito ao eventual prêmio
de venda do controle da empresa.
Cauteloso, o mercado analisa essa
nova forma de atuação, inclusive quanto aos aspectos legais
de concretização da idéia, já que o conceito
de governância corporativa ainda não consta dos textos legais
(a idéia se antecipa à nova Lei das Sociedades Anônimas).
A Microsiga Software pretende inaugurar o sistema, conforme divulgou na
imprensa em 7/2/2001, explicando estar na fase de esolha da empresa que
coordenará o processo de abertura de seu capital acionário.
"Enquanto
uns choram, outros vendem lenços"
Provérbio
árabe
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Crescimento - Por sua vez,
a empresa de consultoria Ernst & Young apresentou um relatório
sobre o comércio eletrônico B2C (business-to-consumer,
vendas para consumidores finais), informando que 80% dos compradores on-line
no Brasil aumentaram o volume e o valor total de suas compras nos 12 meses
anteriores; 50% compraram um produto na Web nesse período e 89%
pretendem fazer compras on-line em 2001.
Aliás, proporcionalmente,
o Brasil é o país que mais compra CDs ou gravações
pela Internet: 70% dos compradores on-line nacionais já o
fizeram, segundo o Global Online Study. E a lista de produtos comercializados
está crescendo em todo o mundo: além dos já tradicionais
livros e discos, começam a se destacar as vendas de brinquedos,
roupas e equipamentos eletrônicos.
Outro indicador otimista é
a notícia do jornal norte-americano San Jose Mercury News
de que um estudo apoiado pela empresa Cisco indica que a chamada Economia
Internet cresceu mais de 50% no ano 2000, gerando US$ 830 bilhões
em negócios e, na metade do ano, 3,1 milhões de trabalhadores
estadunidenses tinham trabalhos relacionados com a Internet, dos quais
28% em atividades técnicas e 3% em vendas/mercadologia.
O estudo indica ainda que, apesar
da crise recente no setor, a tendência é de a atividade comercial
na Internet continuar crescendo, com muitas companhias tradicionais expandindo
suas atividades no meio eletrônico:
INTERNET ECONOMY GREW BY MORE
THAN 50% IN 2000
Despite the dot-com crisis of recent
months, the "Internet economy" grew more than in 50% in 2000, according
to a study commissioned
by Cisco Systems.
At mid-year, 3.1 million U.S. workers
were employed in Internet-related jobs (of which 28% were in technical
positions and 33% in sales or marketing), and the Internet economy generated
$830 billion in revenue.
A co-author of the study explained,
"Dot-coms may continue to go out of business, but the Internet economy
will continue to grow" as traditional companies continue to expand their
online activities.
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