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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 02/15/01 15:12:20
Fechando! 

Carlos Pimentel Mendes

Depois da euforia despropositada dos investidores enlouquecidos, o refluxo da maré: uma série de empresas virtuais está fechando, dentro de um processo normal de depuração do mercado mas que causa temor em muita gente. 

Em muitos casos, os projetos de sites Web milionários tinham simplesmente objetivo de especular: pegava-se uma idéia qualquer, inventava-se um plano de negócios "para inglês ver", sem qualquer análise de viabilidade econômica, buscava-se um grupo de investidores que injetasse vultoso capital no negócio, fazia-se o máximo de publicidade e chegava-se à Bolsa de Valores com o ego inflado e o negócio mais inflado ainda, lançando-se uma oferta pública de ações. Então, dinheiro no bolso, abandonava-se o negócio e partia-se para outra, deixando-se os investidores no prejuízo.

Em outros casos, embora não houvesse má fé, ocorreram falhas importantes no planejamento do negócio, principalmente por não existirem séries estatísticas ou pesquisas confiáveis sobre o desenvolvimento da Internet - que afinal, tem pouco mais de cinco anos de uso efetivamente comercial. 

A leviandade chegou ao ponto de contratar enormes e milionárias equipes, cujo custo nunca poderia ser suportado pela simples operação normal do site, em qualquer tempo. Talvez inspirados no caso da livraria virtual Amazon.com, os empresários de Internet por um bom tempo consideraram que lucro era palavrão nesse setor, o negócio era investir de qualquer forma e o mais rápido possível para ocupar espaços num setor de crescimento exponencial. Simplesmente, não havia tempo para se fazer um planejamento estratégico, analisando pontos fortes e fracos tanto do mercado como da própria empresa. Para eles, a rapidez de análise do mercado e de execução do projeto revelou-se fatal.

Estimativas sobre como seria o comportamento dos consumidores na Internet mostraram-se erradas depois, mas principalmente ocorreram erros primários, que causaram o fracasso de muitos projetos, como:
falhas na própria confecção das páginas Web, como a descrição faltante ou incompleta dos produtos negociados; 
o excesso de pirotecnia artística que causava a demora no carregamento das páginas (ou impedia a carga, se o usuário não tivesse instalado previamente os aplicativos plug-in necessários); 
os problemas tecnológicos relacionados ao "carrinho de compras" (discriminação dos produtos que o internauta consumidor está selecionando para comprar), que muitas vezes empacavam tal como o burro da anedota ou se desmanchavam no ar; o receio - subestimado - quanto à segurança das transações pela Web, agravado pela frustração dos consumidores ao perceberem que seus dados cadastrais - que deveriam ser guardados "a sete chaves" - estão sendo negociados abertamente, em lote, com empresas distribuidoras de propaganda via correio eletrônico;
a falta de uma logística ótima para as entregas, satisfazendo os consumidores. 

A terceira situação é a dos projetos muito adiantados no seu tempo, fracassando por falta de um mercado consumidor amadurecido, ou altamente dependentes de investimentos para se manterem até que a demanda gerada permitisse obter lucro (neste caso, o próprio refluxo do mercado, com muitos investidores fugindo para aplicações mais tradicionais, frustrou boas idéias pelo simples fato de os idealizadores não terem fôlego suficiente para suportar o período inicial de prejuízo operacional). Como ficou comprovado, não adianta lançar agora um projeto ideal para 2005, se não existirem recursos financeiros garantidos para suportar a longa travessia até esse ano.

Ainda no capítulo Investimentos, note-se que em muitos nichos de mercado o excesso de lançamentos de sites simplesmente saturou as possibilidades. Um exemplo é o setor de leilões: surgiram tantos sites iguais no objetivo que o que seria um excelente negócio - e foi, com bons lucros no início - passou a dar prejuízo pela pulverização de investidores/anunciantes... e de internautas visitantes!

"É bem provável que a época em que você ganhava um monte  de dinheiro por se chamar empresa pontocom tenha acabado. Muitas das star-ups da Internet não eram star-ups de negócios. Eram apenas apostas da bolsa. Quando havia um Plano de Negócios, era só para lançar um IPO ou para ser comprada. Não para construir um negócio" 
(Peter Drucker, na revista Exame, de 15/11/2000, página 120)
Últimas baixas - Até um site dedicado a promover futuros casamentos fracassou, na Inglaterra, ao mesmo tempo em que a esposa do idealizador do site se tornava ex-posa, solicitando o divórcio. Outro site que também foi à bancarrota tinha como proposta apresentar justamente os casos de sites fechados na Internet! 

Mas, junto com esses sites folclóricos, chegam as notícias de outros trabalhos encerrados (ou em vias de encerramento). Como o da loja virtual de brinquedos norte-americana eToys, que iniciou em 5/2/2001 uma liquidação para encerramento das atividades, ao mesmo tempo em que começava a demitir os últimos 293 empregados. O varejista virtual de produtos eletrônicos e livros Buy.com também registra sérias dificuldades.

Embora bem conhecido pelo público, o site Pets.com de produtos para animais faliu. O site AllAdvantage, pioneiro na idéia de pagar para o internauta navegar (em troca de manter no monitor uma barra de publicidade enquanto o usuário esteja visitando os sites Web), também anunciou o encerramento das atividades. Igualmente, a Disney anunciou a descontinuidade de seu portal de compras Go.com.

No Brasil, a empresa de desenvolvimento de sites WebTrade também anuncia o encerramento das suas atividades em 1/3/2001. Detalhe: há quem acredite ser tal anúncio apenas uma jogada de marketing, já que os serviços podem ser terceirizados...

Até mesmo a norte-americana Amazon.com sofreu baixas, registrando prejuízo de US$ 90,4 milhões e anunciando a demissão de 1.300 pessoas, 15% de seu quadro de funcionários, no quarto trimestre fiscal de 2000. 

Mais de 40 mil postos de trabalho foram perdidos em 2000 e outros 12.828 apenas em janeiro de 2001 nos Estados Unidos, entre as chamadas empresas ponto.com. O detalhe é que esses trabalhadores não ficam desempregados por muito tempo: logo são absorvidos por outras empresas de economia digital ou iniciam seu próprio negócio na Internet.
 

"Não somos uma empresa de Internet. Somos um clube e necessitamos de resultados positivos."
(Vice-presidente do clube de futebol paulistano Corinthians, Antônio Roque Citadini, sobre a demissão do treinador Dario Pereyra, em entrevista ao caderno de esportes do jornal
O Estado de São Paulo, em 5/2/2001)

Ameaça na Nasdaq - Depois de baixar de 5.000 pontos para cerca de 3.000, uma série de companhias ficaram tão desvalorizadas que podem ser retiradas do índice Nasdaq Composite, que relaciona as principais empresas da economia digital e de alta tecnologia. 

Conforme análise da The Industry Standard, dos EUA, 257 empresas estavam neste início de ano encontrando dificuldades crescentes para cumprir os requisitos mínimos para figurarem no pregão da bolsa de valores Nasdaq, como a exigência de manter cotação mínima de US$ 1 por ação: as empresas que, por 30 dias consecutivos de negociação mantiverem cotação inferior a um dólar são advertidas de que estão descumprindo as regras da Nasdaq, então ocorre um prazo de observação de 90 dias em que elas precisam fazer com que as cotações ao menos voltem para valor muito próximo a um dólar, segundo o porta-voz daquela bolsa, Wayne Lee.

Mesmo no Fórum Econômico Mundial ocorrido em 2/2001 em Davos, na Suíça, o consenso sobre o setor se mostrou difícil: para alguns, nenhuma das atuais companhias de venda direta ao consumidor (B2) deve sobreviver, enquanto para outros esse modelo de negócios veio para ficar. Paul Deninger, diretor executivo da empresa de consultoria Broadview, notou que 95% das empresas listadas no pregão da Nasdaq apresentam cotações inferiores à inicial (registrada quando da oferta pública inicial - IPO), nos últimos 12 meses. Apesar desses aspectos negativos, o mesmo executivo afirmou, em entrevista ao Financial Times de 29/1/2001, que após a rearrumação da casa, o retorno da confiança dos investidores começará pelos grandes e mais importantes participantes desse mercado.

Crise X Oportunidade
"Os chineses antigos são apontados, via de regra, como um dos povos mais sábios do mundo... Conta-se que na escrita do povo chinês, feita através de um símbolo para cada palavra, o símbolo de Oportunidade é o mesmo símbolo usado para Crise. Diferenciam-se pelo contexto em que são escritos..."
Esperança - Desde 1/2/2001, deixou a Web igualmente o site Mercado Empresarial, fundado nove meses antes e com apenas três meses de operações, alegando a falta de recursos para a continuidade das operações na fase de implantação - que gera resultados financeiros negativos. "Quizás podamos tener una nueva oportunidad de
servirle en tiempos mejores", completa o texto divulgado via Internet pela empresa.

Entretanto, há indicadores positivos no horizonte. Na própria capital paulista, a Bolsa de Valores de São Paulo anunciou em 12/2000 a criação da bolsa Novo Mercado, para as empresas da economia digital. 

Ela segue os modelos das bolsas congêneres alemã e francesa, em que, ao contrário do estilo tradicional de ações ordinárias e preferenciais (em que apenas alguns investidores - possuidores das chamadas ações ordinárias, com direito a voto - podem opinar nos negócios da empresa), a empresa participante do pregão deve ser administrada dentro do conceito de governância corporativa - o que impede que os sócios majoritários liqüidem a empresa e se retirem, desviando o dinheiro obtido, depois de feita a capitalização via oferta pública de ações. Outra regra do novo sistema é que os investidores minoritários também tenham direito ao eventual prêmio de venda do controle da empresa.

Cauteloso, o mercado analisa essa nova forma de atuação, inclusive quanto aos aspectos legais de concretização da idéia, já que o conceito de governância corporativa ainda não consta dos textos legais (a idéia se antecipa à nova Lei das Sociedades Anônimas). A Microsiga Software pretende inaugurar o sistema, conforme divulgou na imprensa em 7/2/2001, explicando estar na fase de esolha da empresa que coordenará o processo de abertura de seu capital acionário.
 

"Enquanto uns choram, outros vendem lenços"
Provérbio árabe

Crescimento - Por sua vez, a empresa de consultoria Ernst & Young apresentou um relatório sobre o comércio eletrônico B2C (business-to-consumer, vendas para consumidores finais), informando que 80% dos compradores on-line no Brasil aumentaram o volume e o valor total de suas compras nos 12 meses anteriores; 50% compraram um produto na Web nesse período e 89% pretendem fazer compras on-line em 2001. 

Aliás, proporcionalmente, o Brasil é o país que mais compra CDs ou gravações pela Internet: 70% dos compradores on-line nacionais já o fizeram, segundo o Global Online Study. E a lista de produtos comercializados está crescendo em todo o mundo: além dos já tradicionais livros e discos, começam a se destacar as vendas de brinquedos, roupas e equipamentos eletrônicos.

Outro indicador otimista é a notícia do jornal norte-americano San Jose Mercury News de que um estudo apoiado pela empresa Cisco indica que a chamada Economia Internet cresceu mais de 50% no ano 2000, gerando US$ 830 bilhões em negócios e, na metade do ano, 3,1 milhões de trabalhadores estadunidenses tinham trabalhos relacionados com a Internet, dos quais 28% em atividades técnicas e 3% em vendas/mercadologia. 

O estudo indica ainda que, apesar da crise recente no setor, a tendência é de a atividade comercial na Internet continuar crescendo, com muitas companhias tradicionais expandindo suas atividades no meio eletrônico:

INTERNET ECONOMY GREW BY MORE THAN 50% IN 2000

Despite the dot-com crisis of recent months, the "Internet economy" grew more than in 50% in 2000, according to a study commissioned by Cisco Systems. 

At mid-year, 3.1 million U.S. workers were employed in Internet-related jobs (of which 28% were in technical positions and 33% in sales or marketing), and the Internet economy generated $830 billion in revenue. 

A co-author of the study explained, "Dot-coms may continue to go out of business, but the Internet economy will continue to grow" as traditional companies continue to expand their online activities.