A Sétima Arte e o seu sexto
sentido
Luiz Renato Roble Ikk (*)
Colaborador
Uma loja
encantadora, e conseqüentemente, vendedora, pode ser comparada a um
bom filme, desses que Hollywood sabe criar e produzir muito bem. Da mesma
forma que uma loja, um filme deve encantar o público para que venda
a estória que se propõe a contar, seja ela um drama, uma
comédia, uma aventura ou um suspense. Podemos encontrar subsídios
reais a esta analogia assistindo o making-off do filme O Sexto
Sentido, onde o escritor e diretor M. Night Shyamalan faz comentários
sobre este filme de suspense, que chegou como quem não quer nada
e arrasou quarteirões.
O diretor conta que, ao criar
o filme, ele e sua equipe procuraram ter muito cuidado em como iriam apresentar
sua estória. Por ser envolta em mistério, não poderia
ser de uma forma óbvia e muito menos, de um modo subjetivo, ao ponto
do público não conseguir entender o desenrolar dos acontecimentos.
Para isto, foram criadas algumas regras para que, mesmo inconscientemente,
o público ligasse os pontos e chegasse ao final apto a entender
aquilo se queria dizer desde o início, mas que não podia
ser dito.
Códigos - Assim, foram
criados alguns códigos visuais que permitissem ao espectador indiretamente
visualizar e sentir o clímax do filme. Tanto as imagens externas
de Philadelphia, onde se passa a estória, como os cenários
internos, apresentam tons acinzentados. A presença da cor vermelha
é utilizada como um ícone, um código, que induz o
espectador a prever um momento de tensão, cada vez que ela aparece.
Seja na forma de um vestido, uma
porta, um trinco ou um cobertor, o vermelho é o sinal de que alguma
coisa importante vai acontecer. Da mesma forma, outra convenção
estabelecida com o público, é quanto à temperatura
ambiente. Sempre que a situação vai esquentar, o personagem
principal sente frio, e sua respiração é visualizada,
como se ele estivesse em uma câmara frigorífica. Outro cuidado
que a produção teve foi o de, mesmo contra a gosto, retirar
do filme algumas cenas que, apesar de belas, não contribuíam
para a compreensão da estória.
Na loja - Os códigos
visuais estão sempre presentes em uma loja. O que devemos saber
fazer, é tomar partido deles, para que ajam a nosso favor e não
contra. O interior de uma loja pode ter cores neutras para criar uma atmosfera
clean, chic, limpa e organizada, mas - assim como no filme - deve apresentar
pontos focais, com cores ou luzes quentes e diferenciadas, para que se
estabeleça áreas onde o público não deve deixar
de olhar.
Nestes pontos devem ser colocados
produtos novos, lançamentos, promoções e outras coisas
que se deseja destacar. Esta área de convergência pode ser
obtida com a simples pintura de uma parede ou coluna, ou simplesmente com
a utilização de lâmpadas de luminosidade quente dirigidas.
A questão da climatização
do ambiente é outro fator importante para que uma loja tenha sucesso.
Assim como no filme, em que ela é visualmente sugerida, pois a sala
de projeção não pode se alterar de acordo com cada
cena projetada na tela, a loja também deve sugerir visualmente como
é a temperatura em seu interior. Devemos lembrar que o Ser Humano
trabalha seus sentidos de forma inconsciente. Ao ver um ambiente que se
imagina ser muito quente ou muito frio, acaba-se por sentir aversão
a tal ambiente, pois instintivamente, não haverá conforto
em tal lugar.
Portanto, devemos ter cuidado para
apresentar uma iluminação bem equilibrada e preferencialmente,
um ambiente com uma climatização agradável. Onde o
cliente não sinta, e nem imagine sentir, calor e nem frio, muito
pelo contrário.
O cinema ensina também, que
nem sempre podemos ou devemos mostrar tudo que gostaríamos ao público,
pois desta maneira, estaremos apenas confundindo e atrapalhando a comunicação
junto a ele. Portanto, devemos estar atentos para que a loja e a vitrine
não apresentem informações em demasia, ou produtos
fugindo pelo ladrão. Os produtos expostos devem estar realmente
bem expostos, se não, é melhor mantê-los no estoque.
Cartazes devem ser bem visíveis e atuais, caso contrário,
é melhor não estarem pendurados na parede.
O público procura emoção
e com tanta tecnologia, imagens perfeitas, sons digitais e tridimensionais,
fica cada vez mais difícil perceber o que é real ou apenas
efeito especial. Assim como o cinema rouba um pouco da realidade para projetar
sua magia imaginária em uma tela, devemos emprestar um pouco desta
magia projetada sob encomenda e aplicá-la nas soluções
de nossa vida real.
Afinal, o público é,
muitas vezes, o mesmo.
(*)
Luiz
Renato Roble lkk é designer,
consultor de Identidade Estratégica e diretor de Criação
da Datamaker. Artigo divulgado via boletim eletrônico Varejo
Século 21. |