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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 02/06/01 12:27:24
A Sétima Arte e o seu sexto sentido 

Luiz Renato Roble Ikk (*)
Colaborador

Uma loja encantadora, e conseqüentemente, vendedora, pode ser comparada a um bom filme, desses que Hollywood sabe criar e produzir muito bem. Da mesma forma que uma loja, um filme deve encantar o público para que venda a estória que se propõe a contar, seja ela um drama, uma comédia, uma aventura ou um suspense. Podemos encontrar subsídios reais a esta analogia assistindo o making-off do filme O Sexto Sentido, onde o escritor e diretor M. Night Shyamalan faz comentários sobre este filme de suspense, que chegou como quem não quer nada e arrasou quarteirões.
 O diretor conta que, ao criar o filme, ele e sua equipe procuraram ter muito cuidado em como iriam apresentar sua estória. Por ser envolta em mistério, não poderia ser de uma forma óbvia e muito menos, de um modo subjetivo, ao ponto do público não conseguir entender o desenrolar dos acontecimentos. Para isto, foram criadas algumas regras para que, mesmo inconscientemente, o público ligasse os pontos e chegasse ao final apto a entender aquilo se queria dizer desde o início, mas que não podia ser dito.

Códigos - Assim, foram criados alguns códigos visuais que permitissem ao espectador indiretamente visualizar e sentir o clímax do filme. Tanto as imagens externas de Philadelphia, onde se passa a estória, como os cenários internos, apresentam tons acinzentados. A presença da cor vermelha é utilizada como um ícone, um código, que induz o espectador a prever um momento de tensão, cada vez que ela aparece. 

Seja na forma de um vestido, uma porta, um trinco ou um cobertor, o vermelho é o sinal de que alguma coisa importante vai acontecer. Da mesma forma, outra convenção estabelecida com o público, é quanto à temperatura ambiente. Sempre que a situação vai esquentar, o personagem principal sente frio, e sua respiração é visualizada, como se ele estivesse em uma câmara frigorífica. Outro cuidado que a produção teve foi o de, mesmo contra a gosto, retirar do filme algumas cenas que, apesar de belas, não contribuíam para a compreensão da estória. 

Na loja - Os códigos visuais estão sempre presentes em uma loja. O que devemos saber fazer, é tomar partido deles, para que ajam a nosso favor e não contra. O interior de uma loja pode ter cores neutras para criar uma atmosfera clean, chic, limpa e organizada, mas - assim como no filme - deve apresentar pontos focais, com cores ou luzes quentes e diferenciadas, para que se estabeleça áreas onde o público não deve deixar de olhar. 

Nestes pontos devem ser colocados produtos novos, lançamentos, promoções e outras coisas que se deseja destacar. Esta área de convergência pode ser obtida com a simples pintura de uma parede ou coluna, ou simplesmente com a utilização de lâmpadas de luminosidade quente dirigidas. 

A questão da climatização do ambiente é outro fator importante para que uma loja tenha sucesso. Assim como no filme, em que ela é visualmente sugerida, pois a sala de projeção não pode se alterar de acordo com cada cena projetada na tela, a loja também deve sugerir visualmente como é a temperatura em seu interior. Devemos lembrar que o Ser Humano trabalha seus sentidos de forma inconsciente. Ao ver um ambiente que se imagina ser muito quente ou muito frio, acaba-se por sentir aversão a tal ambiente, pois instintivamente, não haverá conforto em tal lugar. 
Portanto, devemos ter cuidado para apresentar uma iluminação bem equilibrada e preferencialmente, um ambiente com uma climatização agradável. Onde o cliente não sinta, e nem imagine sentir, calor e nem frio, muito pelo contrário.

O cinema ensina também, que nem sempre podemos ou devemos mostrar tudo que gostaríamos ao público, pois desta maneira, estaremos apenas confundindo e atrapalhando a comunicação junto a ele. Portanto, devemos estar atentos para que a loja e a vitrine não apresentem informações em demasia, ou produtos fugindo pelo ladrão. Os produtos expostos devem estar realmente bem expostos, se não, é melhor mantê-los no estoque. Cartazes devem ser bem visíveis e atuais, caso contrário, é melhor não estarem pendurados na parede. 

O público procura emoção e com tanta tecnologia, imagens perfeitas, sons digitais e tridimensionais, fica cada vez mais difícil perceber o que é real ou apenas efeito especial. Assim como o cinema rouba um pouco da realidade para projetar sua magia imaginária em uma tela, devemos emprestar um pouco desta magia projetada sob encomenda e aplicá-la nas soluções de nossa vida real. 

Afinal, o público é, muitas vezes, o mesmo.

(*) Luiz Renato Roble lkk é designer, consultor de Identidade Estratégica e diretor de Criação da Datamaker. Artigo divulgado via boletim eletrônico Varejo Século 21.