Giselda II - O Retorno
Mário Persona (*)
Colaborador
Giselda
voltou. Há seis meses eu a mandei embora. Tudo o que fiz foi apontar
para a saída com meu indicador. E ela se foi. Sem palavras, sem
despedidas. Não sei por onde andou. Nem com quem andou, ou o que
fez enquanto esteve longe. Seis meses se passaram, e ela voltou. Parece
a mesma, exceto pelas filhas que teve. Cópias exatas. Nem sei quantas
gerou! Não esperava que voltasse. Mas deixei que entrasse. Em minha
caixa de e-mails.
Não imaginava o poder latente
que havia naquela mulher de classe-média e meia-idade. Quem quer
que tenha inventado a frase "There never was a woman like Gilda", não
conheceu Giselda. E sua capacidade de seduzir leitores, desde que a publiquei
como a crônica "Giselda Vai às
Compras", enviada para os quase cinco mil assinantes de WideBiz
Week.
Na crônica, Giselda tenta adquirir
um pote de creme facial pela Internet. Usando o micro comprado à
prestação e acomodado na penteadeira, ela luta com sites
complicados de se navegar, enquanto o bebê chora e o marido Aníbal
resmunga. Sua experiência foi acompanhada pelos milhares leitores
de quase uma centena de sites, jornais e revistas que publicaram a crônica
na semana de seu lançamento.
Circulando - Passada a temporada
oficial, Giselda entrou no circuito alternativo. Transformada em e-mail
por alguém, infiltrou-se nas redes internas de empresas, fóruns
e listas de discussão. Em cada caixa postal encontrava alguém
que a encorajava a prosseguir. Como um "spam benigno", aquele e-mail que
você envia para seus trezentos amigos. Ou inimigos, se já
tiver lido uma de minhas crônicas.
Giselda voltou para minha caixa postal,
encaminhada por uma jornalista que a encontrou no banco dos réus
de uma lista de discussões por e-mail, freqüentada por web
designers. Uma análise crítica do design de sites de Internet,
Giselda passou ali por maus e bons bocados. Espancada por uns, louvada
por outros, foi objeto de discussão e repercussão entre os
participantes daquele fórum. De onde partiu, sabe lá para
quantas outras caixas postais dessa Internet sem porteiras.
Mal Giselda chegou até mim,
e eu já recebia um e-mail de um dos participantes daquele fórum,
pedindo permissão para publicar Giselda em seu site. Mais um, dentre
dezenas de sites na Web onde Giselda conquistou um teto permanente para
ser visitada por muitos.
Contágio - Alguns chamam
isto de "marketing viral". Prefiro "marketing de contágio". Porque
contágio lembra contato, e serve para o que é benigno. Como
riso, paixão, bom-humor, boas-novas ou amor. Giselda representa
o que é contagiante, que cativa e agrega algo às pessoas.
Será que existe uma forma
de propaganda que permaneça por tanto tempo a custo zero? Que disponha
de um batalhão de simpatizantes dispostos a fazer o trabalho de
panfletagem, passando a mensagem adiante? Que não pare de circular,
como prazerosa corrente? Que continue viva e ativa, após o jornal
ter ido para o açougue, e a revista ter desaparecido da mesinha
da cabeleireira?
Giselda é puro marketing de
contágio. Fala de coisas que as pessoas gostam de falar. Desperta
paixões que as pessoas gostam de ter. Atrai, porque gente se interessa
por gente. É viva e humana como personagem de novela. Tem marido
burrão, filho que chora na pior hora, amiga xereta, e micro na penteadeira
improvisada de escritório. Porque mora em uma casa que não
é de revista.
Contador transparente - "Story
teller" é uma expressão comum em inglês. O "contador
de histórias", tradução que infelizmente soa como
mentiroso em nossa língua. Mas contar histórias envolventes
ainda é a melhor forma de marketing. E se cair na boca do povo,
aí ninguém segura. É contagiante. É marketing
de contágio.
Enquanto muitos procuram por novas
formas de marketing, a mais antiga delas - contar histórias - continua
com o vigor de sempre. Há um bom tempo minhas crônicas têm
servido de "Giseldas marketeiras". Por onde passam, levam o nome da empresa.
Mas para esse contágio funcionar, é preciso transparência.
Conquistar a confiança de quem publica e de quem lê. Deixar
claro os meios e os fins. Para jamais decepcioná-los com um final
inesperado. Péssimo hábito, por sinal, de Stephen King, escritor
de novelas de terror, quando brinca com as pessoas que o cercam: "Tenho
um coração de criança", diz ele candidamente. "Em
um vidro, sobre minha escrivaninha", completa o escritor.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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