Saber ouvir, o segredo para a boa
negociação
Márcio Miranda (*)
Colaborador
Infelizmente,
poucos negociadores são bons ouvintes. E negociadores que não
sabem ouvir perdem inúmeras oportunidades de fazer melhores negócios.
As estatísticas mostram que o ouvinte normal só consegue
entender e se lembrar de 50% de uma conversação. Esta porcentagem
que já é bem baixa, cai ainda mais – para 25% - 48 horas
mais tarde. Isto quer dizer que o que lembramos de uma conversa é
algo impreciso e incompleto.
Muitos problemas de comunicação
em negociação podem ser atribuídos à falta
de treinamento específico para se ouvir bem. Para ouvir bem, você
tem que ser objetivo. Isto quer dizer que você tem que entender as
intenções do seu oponente, o que ficou nas entrelinhas, e
não somente aquilo que você quer ouvir. A cada nova frase
dele você deve se perguntar: “Por que ele me disse aquilo? Como ele
pensou que seria minha reação? Ele estava sendo honesto?”
e daí por diante.
Os melhores negociadores invariavelmente
são os melhores ouvintes. Por que existe esta correlação?
Quando eles estão negociando, prestam muita atenção
à entonação, ritmo, altura e demais detalhes da voz.
Negociadores experientes também observam atentamente os sinais não
verbais, e analisam se os mesmos são condizentes com o que está
sendo falado.
Três pecados capitais
- A maioria dos negociadores comete três erros comuns, que prejudicam
o entendimento da mensagem de seus interlocutores.
Primeiro,
alguns acreditam que negociar é simplesmente um ato de persuadir,
e para estes persuadir significa falar mais do que o oponente. Eles acham
que falar é um postura ativa e ouvir é algo passivo. Eles
se esquecem que é muito difícil persuadir outras pessoas
quando você não sabe o que realmente as motiva.
O
segundo erro grave é se preparar demais para aquilo que você
quer falar e ficar pensando nisso enquanto o seu oponente está falando.
Perdemos informações valiosas e parecemos desligados do que
está acontecendo na mesa de negociações. Não
se preocupe tanto com o que falar – vai chegar a sua vez. Preocupe-se mais
com o que está sendo dito no momento e quais informações
estão sendo liberadas.
O
terceiro problema está nos filtros e preconceitos que todos nós
temos e que não nos permitem ouvir aquilo que não queremos
ouvir. Esquisito? Não, veja só este exemplo. Durante nosso
tempo de ginásio, já tivemos professores que tinham um determinado
cacoete verbal, do tipo “né”, “entendeu” e outros similares. Quantas
vezes já fizemos apostas com a turma do fundo da sala, para ver
quantos “né” seriam ditos naquela aula? Será que prestamos
atenção na aula ou filtramos tudo, ouvindo somente o “né”?
O mesmo raciocínio vale para sotaques de diferentes origens, pessoas
que usam um vocabulário diferente do nosso etc.
Dicas para você ouvir melhor:
Esteja
motivado para ouvir. Sabendo que ouvindo melhor você terá
melhores resultados na negociação, a recompensa é
óbvia e deve motivá-lo sem dificuldades.
Se
precisar falar, faça perguntas. Seu objetivo é conseguir
informações mais detalhadas e até mesmo confirmar
os fatos que você já conhece. Uma velha estratégia
dos negociadores experientes é perguntar algo que eles já
conhecem a resposta. Desta maneira eles podem descobrir se o outro lado
está sendo sincero ou mentindo.
Fique
ligado na comunicação não verbal. Observe se o que
está sendo dito é compatível com a mensagem que o
corpo de seu oponente está enviando. Se você não acredita
muito nisso, faça um teste. Pegue uma pessoa que não saiba
mentir e peça para ela mentir para alguém. Observe como a
mentira não pega, não existe nenhuma credibilidade naquilo
que está sendo dito. As palavras dizem uma coisa, mas as feições
e a inflexão de voz dizem outra. Para exercitar esta habilidade,
assista a uma novela com o som desligado, tentando entender o que está
acontecendo só pelas reações dos personagens.
Deixe
o outro lado contar a sua história primeiro. Depois de ouvir com
atenção, faça sua apresentação sem liberar
informações desnecessárias, concentrando-se somente
no que é relevante para aquele caso.
Não
interrompa o seu oponente quando ele estiver falando. Esta recomendação
parece muito básica, mas reflita e veja se de vez em quando você
não está fazendo isso. Além de ser falta de educação,
você estará interrompendo um precioso fluxo de informação.
Mesmo que o que está sendo dito não seja verdadeiro, fique
quieto, deixe-o terminar e depois faça os comentários que
julgar pertinentes.
(*) Márcio
Miranda é o presidente da Associação Brasileira de
Negociadores, comentarista do programa Pequenas Empresas Grandes Negócios,
da Rede Globo de Televisão, e autor de diversos livros e vídeos
sobre o tema. Seu livro Negociando Para Ganhar já está
na quarta edição. Maiores informações, artigos
e dicas sobre negociação podem ser obtidos na página
Workshop. |