Um ano chocante
Mário Persona (*)
Colaborador
Ovos são
belos. Simples e perfeitos. Coloque-os na incubadora e descobrirá
se foram fertilizados ou não. Depois de chocados revelam o conteúdo.
O ano 2000 foi das incubadoras. Negócios tão novos quanto
o ninho que os hospedou. Por isso terminamos o ano com muitos ovos quebrados
e poucos piados. E começamos 2001 pisando em ovos. Com cautela,
para não errar nas previsões para 2001.
Quem cantou de galo em 2000 pode ter
fertilizado novos negócios, mas não foi sem trabalho árduo.
Pergunte à galinha se é fácil botar um negócio
oblongo e duro e sentar sobre ele por vinte e um dias. E não pára
aí. O negócio exige cuidado permanente. Lembra-se do pintinho
que seu filho ganhou na última exposição de animais?
Piou na lavanderia por noites eternas até morrer.
O grátis começa a perder
a graça. Avisa que era apenas uma estratégia temporária
de marketing. Algo como criar uma entidade beneficente para distribuir
canja grátis para os pobres e depois transformá-la em restaurante
de luxo. Mas transformará os pobres em clientes?
Até os sites de busca passam
a cobrar de quem quer lucrar. No Yahoo, cadastrar o site da empresa em
área nobre já custa 199 dólares. Se o conteúdo
for para adultos, sobe para 600 dólares. Será que por "adultos"
devemos entender "mais responsáveis"? Não precisa responder.
Rádio-TV - Mais gente
trabalhará conectada. Por isso rádios on-line ganharão
da TV. O vídeo ainda exige mais banda que o som, e é interruptivo
demais para uso contínuo. Ainda não inventaram a "TV ambiente".
A Internet copia o ambiente automóvel. Que a TV não conquistou,
mas onde o rádio reina absoluto.
A internetização do
trabalho aumentará. Mais gente trabalhando na rede. E comprando
sem precisar deixar o paletó na cadeira para enganar o chefe naquele
horário de almoço prolongado. A regionalização
será uma tendência natural, não por empresas 100% de
Internet, mas pela entrada nela de serviços consagrados em suas
próprias comunidades.
Hoje preciso perguntar o que vem
na pizza que encomendo por telefone. Com um telefone do tipo Linea@WebPhone
da Olivetti ficaria mais fácil. Para montar a pizza, sanduíche
ou sorvete online bastará telefonar. Os serviços virão
a reboque da popularização dos eletrodomésticos -
telefones, geladeiras, microondas - internetizados.
O mercado crescerá dividido
em nichos. Porque um planeta dividido em tribos exige que seja assim. Empresas
gigantes continuarão a movimentar commodities. Aquilo que
todo mundo precisa e o diferencial fica por conta do preço. Empresas
pequenas e ágeis conquistarão espaço onde criatividade
e rapidez forem os diferenciais.
Sem prefixo - O e-commerce
que vimos foi apenas um e-começo. Deixaremos de usar o prefixo "e-"
nos negócios. Porque todos eles farão uso da rede. Além
do institucional, partindo para o operacional. A indústria deixará
de comprar de fornecedores não integrados em sua cadeia de suprimentos
via Web.
Mais "coisas" que "pessoas" utilizarão
a Internet. Máquinas, câmeras, veículos, eletrodomésticos
e outros dispositivos automatizarão processos em rede. Para se popularizar,
a tecnologia WAP precisa permitir ao celular enxergar. O filho na escola,
o movimento da loja, as condições do trânsito. Com
endereços iguais aos números de telefone que se tecla com
o polegar.
No business-to-business a
palavra de ordem será a gestão da demand-chain. Pois
o cliente final clicará a alavanca que movimenta a máquina
produtiva. Aí também o tailor-made conquistará
cada vez mais espaço. Porque nem toda empresa compra e vende da
mesma maneira.
O e-book ainda não decolou.
Nem assumiu o papel do romance lido no sofá. Mas ameaça o
livro acadêmico convencional, vendido associado ao curso, virtual
ou convencional. "Curso-pago-livro-grátis". Fique atento para o
livro colaborativo. Interação entre professores e alunos.
Proposta do www.opentextproject.org.
As perspectivas são excelentes
para os negócios em 2001. Mesmo depois do choque causado pelo naufrágio
de muitos negócios Web em 2000. A visão do fracasso tem dois
ângulos. Para a White Star Line, seu Titanic foi um desastre,
quando se chocou com um iceberg. Para a Paramount Pictures, foi um sucesso.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates
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