Saberes globais e saberes locais
Resenha de livro
João Ribeiro Natário
Neto (*)
Colaborador
Título
da obra: |
Saberes Globais
e Saberes
Locais: o
Olhar Transdisciplinar |
|
Organizadora
e tradutora: |
Strob, Paula
Yone |
Editora: |
Garamond |
Local/Ano
da publicação: |
Rio de Janeiro/RJ,
2000 |
Número
de páginas: |
66 |
A organizadora
apresenta o cacique índio, Marcos Terena, neste debate, com Edgar
Morin, como um patriota romântico e humanista, que condena a globalização,
a linguagem do computador e a Internet, porque com este instrumento/meio
não podemos sentir o espírito, o olhar, a impaciência
e a alegria das pessoas.
Terena fala um pouco sobre a filosofia
indígena, da sua relação com a natureza, com o conhecimento,
com a sabedoria como fonte, da magia da vida, da magia de tentar entender
o criador: o espírito da floresta.
Discorre, também, acerca do
que foi usurpado, da destruição de seu povo, do homem branco
que matou mais de quatro milhões de índios e mais de 700
povos desapareceram. Hoje, só existem 200 povos indígenas
no Brasil e 180 línguas faladas.
Estilo Morin - Edgar é
apresentado, coerentemente, no melhor estilo Morin, defensor da mudança,
da reforma de pensamento que necessita, de uma reforma de ensino; defensor
das minorias.
Aborda a complexidade da organização
grupal dos animais, critica a Unesco
e os pensadores
lineares, que acreditam que pensam a alfabetização como um
dever civilizacional de extrair cultura da superstição e
da ignorância.
Salienta que cada civilização
possui um pensamento racional, empírico, técnico e, também,
um saber simbólico, mitológico e mágico, com a sabedoria
e as superstições.
Observa os princípios desenvolvidos
pela ciência (separação homem-natureza) até
o final da primeira metade do século, e enfatiza que devemos complexificar
o modo de conhecimento. O desenvolvimento da especialização
produziu, hoje, uma Medicina que vê um corpo e os seus órgãos
separadamente. Somos todos índios, e, ao mesmo tempo, estrangeiros.
Para Morin, o homem é um artrópode,
um mamífero que tem cérebro, um vertebrado pluricelular que
tem vida na Terra e que, como filhos e filhas da Terra, integram uma relação
cósmica, como acreditaram e acreditam as culturas de muitas outras
civilizações. Portanto, é necessário estudar
um conhecimento complexo que admita o homem como um ser natural que chegou
de uma evolução biológica natural.
O livro - O texto está
distribuído da seguinte forma: sumário, logo após
apresentação e introdução, a seguir abertura
e o debate, com perguntas e respostas. O debate é chamado por Marcos
Terena de conferência, ele fala sobre sua cultura, a linguagem oral,
a Funai, a difícil vida na aldeia, deseja a globalização
do conhecimento, o respeito e o reconhecimento aos saberes dos povos indígenas.
Durante o debate, Morin aborda questões
importantes e atuais como a biotecnologia, transgênicos, clonagem,
a biologia mercadológica, "a vaca louca" etc. -
enfoca o contexto e a contextualização. E, como não
poderia deixar de ser, cita diversos livros de sua autoria. Faz menção
à Igreja Católica, a reforma de Lutero, a teoria de Platão,
a Karl Marx, Freud e tantos outros.
O livro de forma geral apresenta-se
abrangente, instigante, às vezes complexo, às vezes linear,
nem sempre possui um desfecho ou esclarecimento a contento, porém
cumpre o papel de apresentar pistas e indicar livros para a busca de análises
mais profundas e complexas.
É uma leitura leve, fácil,
interessante e atual, que pode ser útil a todo o cidadão
preocupado com a conjuntura, com o futuro, com a ecologia, com a justiça
social e a relação do homem com o todo, com a natureza.
(*) João
Ribeiro Natário Neto é jornalista e publicitário em
Santos/SP, mestrando em Gestão de Negócios, MBA em Administração
com Pesquisa em Comércio Exterior, contador, relações-públicas,
assessor em Câmbio e Comércio exterior, e ex-gerente geral
de Câmbio em uma das principais instituições financeiras
do Brasil. |