Web-bacilos vivos
Mário Persona (*)
Colaborador
Bactérias.
Cem trilhões delas. É o que habita em seu intestino. Lactobacilos,
Bifidobactérias, Streptococos, Escherichia coli e até Salmonellas,
se você comeu a maionese no casamento. Uma imensa fauna que curiosamente
leva o nome de flora. Com uma capacidade incrível de se multiplicar
e espalhar. Sem precisar jogar no ventilador.
Algumas ajudam, outras atrapalham, mas
sem elas a vida seria uma prisão de ventre. É que essa comunidade
ajuda na supply chain que o mantém vivo, produzindo, transformando
e transportando nutrientes. Que são absorvidos just-in-time
pelas vilosidades que recobrem as paredes de seu intestino. Uma área
com duzentos metros quadrados, quase uma quadra de tênis. O esporte
preferido dos brasileiros.
A Internet tem muito do que você
encontra em seu intestino. Refiro-me ao conceito de proliferação
bacteriana, caso esteja com outra coisa na cabeça. Cada habitante
dessa flora internetal é um web-bacilo vivo, ativo, fecundo e proficiente.
Uma fantástica colônia. Saber criar as condições
para ela se desenvolver é o segredo do marketing de todos os marketings.
Colônia - Certa vez
ganhei de um amigo uma gosmenta placa de bactérias. Boiando na água
açucarada de um vidro de boca larga, a placa crescia pelas beiradas,
até a parede de vidro. Aí parava e começava a criar
uma nova placa sob a primeira, que eu colocava em um novo vidro até
minha cozinha ficar parecendo uma fábrica de compotas. O crescimento
só ocorria onde houvesse espaço para proliferar.
Eu e minha esposa apelidamos aquela
meleca de "O Monstro". Meu amigo dizia que fazia bem à saúde
beber a água, depois de transformada em um líquido frisante.
Ele dizia que tinha gosto de cerveja. Eu dizia que meu amigo tinha muita
imaginação.
Continuo criando bactérias,
mas não em vidros. Na Internet. Procuro agrupar web-bacilos vivos
em um ambiente que permita sua proliferação. Na rede, a sobrevivência
das empresas também depende da capacidade de espalhar seu gene e
implantar suas características naqueles com quem têm contato.
Criando os esporos de uma colônia maior, que se desdobre em novas
colônias.
Por ser formada por cérebros,
o alimento que faz crescer a colônia de web-bacilos vivos é
o conhecimento gerado pela própria colônia, a partir das informações
trocadas entre seus membros. Este conhecimento imprime um diferencial comum
a todos os participantes. Algo que não se consegue obter artificialmente,
mas que brota apenas onde as condições forem propícias.
Habitat - Daí a importância
de se manter o ambiente ideal para que os web-bacilos vivam felizes e sintam
o desejo de espalhar as vantagens que já têm experimentado.
Quanto mais disseminam e fortalecem sua colônia, mais disseminam
e fortalecem suas próprias empresas. A empresa agrega valor à
colônia ou comunidade que, por sua vez, agrega valor à empresa.
Uma ação colaborativa.
Todavia, um problema cultural pode
inibir esta ação colaborativa. A maioria das empresas descende
de uma economia extrativista. Predatória por natureza. São
como salmonellas, consumindo os recursos e deixando em seu rastro uma diarréia
de dejetos que contaminam e matam seu próprio meio-ambiente hospedeiro.
Algumas já descobriram que
colaborar é vital para a sobrevivência da própria economia
em que estão inseridas. Característica essencial a qualquer
empresa em rede. Colaborativa por natureza, promotora do bem comum da colônia
em que está inserida.
Como no mundo dos micro-organismos,
não é fácil barrar a trajetória de um web-bacilo
vivo em seu instintivo esforço de disseminação. Sua
sobrevivência depende de conquistar novos mercados e deixar aí
sua marca. É transpondo barreiras que ele amplia sua rede de relacionamentos,
numa verdadeira infestação bacteriana. Que me faz lembrar
o que ocorreu com um amigo que trabalhava numa multinacional de alimentos
infantis.
Após uma concorrência
para a seleção de fornecedores de macarrão para sopinhas
para bebês, o proprietário de um pastifício ligou para
meu amigo. Queria saber por que sua empresa havia sido rejeitada.
- Encontramos muitas bactérias
nas amostras de macarrão que enviou - justificou meu amigo.
- Impossível! - bradou o gajo
do outro lado da linha - Toda a farinha que utilizamos é peneirada!
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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