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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/14/00 13:07:14
Bips 

Speedy A Jato? Só se for Virtua(l)!

Em meio à maciça campanha publicitária para divulgação de serviços como Speedy, Virtua, AJato e outros, uma série de informações está sendo desconsiderada ou escamoteada. Por exemplo, embora tenham normalmente velocidade bem superior à obtida com um modem comum, tais serviços, conforme o contrato, às vezes só têm de garantir algo semelhante a 26,6 kbps, cerca de metade da velocidade obtida pelo modem comum de 56 kbps que hoje domina o mercado. Há também um grande número de pessoas reclamando de falhas e interupções no serviço, que podem se arrastar por vários dias num mês. 

Vamos aos fatos:

1) Há uma carência tremenda de profissionais especializados em telecomunicações no Brasil. Sem falar que as teles, ao serem privatizadas, demitiram boa parte do pessoal e com isso jogaram fora uma bagagem considerável de conhecimentos sobre o sistema. Então, quando tentamos analisar um pouco mais as reclamações, geralmente caímos na história de que o instalador, incompetente, fez burrada não só no sistema que está instalando, como no próprio computador da pessoa. Essa é uma das razões pelas quais pode ser preferível esperar um pouco, até que O USO da tecnologia seja amadurecido, as equipes de instaladores estejam devidamente treinadas para fazer corretamente as instalações e dar o suporte necessário aos usuários. As queixas não são isoladas, procedem tanto de Santos como de São Paulo e Rio de Janeiro, entre outras cidades onde tais sistemas começam a ser instalados.

2) Por mais investimentos que tenha havido em telefonia no Brasil nos dois últimos anos, eles são mais para recuperar o atraso que já existia no setor, que era grande. Daí, tenho arrepios ao ver tão grande disseminação de sistemas de banda larga, significa colocar um grande número de pessoas a consumir largura de banda da Internet, criando problemas para provedores, backbones, cabos internacionais etc. Ainda mais, se o custo é fixo, muita gente vai passar a ouvir rádio pela Internet o dia todo, como se fosse broadband (a transmissão captada pelas antenas), por exemplo. Se os serviços de Internet no Brasil estivessem tão bem assim, os usuários estariam desfrutando da plena capacidade de seus modems comuns em qualquer hora do dia - o que, sabemos, não ocorre. Em má comparação, é como se no meio de uma seca abríssemos a torneira do açude para todo mundo lavar seu carro e o passeio de casa. 

3) Os contratos dos serviços de banda larga prometem grandes larguras de banda, mas nas cláusulas em letras menores geralmente só garantem 10% disso. Ora, 10% de 256 k é bem pouco para quem tem modem 56k. A razão dessa garantia mínima é que as empresas sabem: quanto maior o número de usuários no serviço, a largura de banda vai sendo dividida entre eles e portanto diminuindo. E não há garantias de que os investimentos na ampliação do sistema acompanhem a demanda, a prova são os tais 10% citados no contrato. 

4) Não está sendo divulgado aos usuários que a banda larga é só entre eles e o provedor de acesso. Daí por diante, todos caem na vala comum dos backbones nacionais e internacionais. Que maravilha baixar os e-mails a jato e depois esperar como os demais mortais por uma simples página web vinda de outro país... 

5) Há um problema de segurança em serviços que usam cabos de TV: outra pessoa que use o mesmo cabo pode usar ferramentas de invasão de sistemas e acompanhar mais facilmente o tráfego gerado pelo sistema invadido. 

6) Quem está adquirindo sistemas de banda larga do tipo empresarial - que tem portas abertas para uso como servidor (tornando-se portanto, potencialmente, um provedor de Internet) - nem sempre está ciente dos riscos inerentes, pois o uso de um provedor confiável funciona como um firewall para o cliente, e se a pessoa ou empresa se torna provedora ela mesma, desintermediando o processo, precisará ter um cuidado extra pois ficará diretamente exposta ao ataque de invasores de sistemas. Nem todos estão cientes disso e só vão descobrir tarde demais... 

7) Muitas empresas provedoras de Internet já não estão aguentando os investimentos em infra-estrutura de telecomunicações. Inclusive as grandes. Banda larga para todos os usuários obriga as empresas a investimentos pesadíssimos, e o maior lucro fica para as teles, que de alguma forma vão acabar engolindo os provedores, seja por tirar diretamente seus clientes, seja através das tarifas que os provedores pagam a elas pela banda consumida. Vejo no horizonte o risco de um quase monopólio, de práticas de dumping etc. 

8) Sobre dumping, caberia à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) começar a agir. Novo Milênio sabe, por exemplo, de um provedor que vem sendo enrolado pela Telefônica para a instalação do sistema, já contratado há vários meses. Enquanto isso, o usuário de Internet que solicitar o serviço de modem rápido é convidado a mudar de provedor, primeiro para o Terra - que tem parceria com a Telefônica -, depois para algum outro da lista de provedores cadastrados na empresa, numa prática que configura o abuso de poder econômico, o tal dumping. A Telefônica não tem o direito de indicar que o usuário mude de provedor e se cadastre no Terra, ao mesmo tempo que adia indefinidamente a instalação do sistema em outros provedores. Se a empresa não tem capacidade para fazer todas as instalações necessárias e solicitadas, não deve oferecer o serviço, sob pena de incorrer em ilícitos como o citado.