Bips
Speedy A Jato? Só se for
Virtua(l)!
Em meio
à maciça campanha publicitária para divulgação
de serviços como Speedy, Virtua, AJato e outros, uma série
de informações está sendo desconsiderada ou escamoteada.
Por exemplo, embora tenham normalmente velocidade bem superior à
obtida com um modem comum, tais serviços, conforme o contrato, às
vezes só têm de garantir algo semelhante a 26,6 kbps, cerca
de metade da velocidade obtida pelo modem comum de 56 kbps que hoje domina
o mercado. Há também um grande número de pessoas reclamando
de falhas e interupções no serviço, que podem se arrastar
por vários dias num mês.
Vamos aos fatos:
1) Há uma carência
tremenda de profissionais especializados em telecomunicações
no Brasil. Sem falar que as teles, ao serem privatizadas, demitiram boa
parte do pessoal e com isso jogaram fora uma bagagem considerável
de conhecimentos sobre o sistema. Então, quando tentamos analisar
um pouco mais as reclamações, geralmente caímos na
história de que o instalador, incompetente, fez burrada não
só no sistema que está instalando, como no próprio
computador da pessoa. Essa é uma das razões pelas quais pode
ser preferível esperar um pouco, até que O USO da tecnologia
seja amadurecido, as equipes de instaladores estejam devidamente treinadas
para fazer corretamente as instalações e dar o suporte necessário
aos usuários. As queixas não são isoladas, procedem
tanto de Santos como de São Paulo e Rio de Janeiro, entre outras
cidades onde tais sistemas começam a ser instalados.
2) Por mais investimentos
que tenha havido em telefonia no Brasil nos dois últimos anos, eles
são mais para recuperar o atraso que já existia no setor,
que era grande. Daí, tenho arrepios ao ver tão grande disseminação
de sistemas de banda larga, significa colocar um grande número de
pessoas a consumir largura de banda da Internet, criando problemas para
provedores, backbones, cabos internacionais etc. Ainda mais, se
o custo é fixo, muita gente vai passar a ouvir rádio pela
Internet o dia todo, como se fosse broadband (a transmissão
captada pelas antenas), por exemplo. Se os serviços de Internet
no Brasil estivessem tão bem assim, os usuários estariam
desfrutando da plena capacidade de seus modems comuns em qualquer hora
do dia - o que, sabemos, não ocorre. Em má comparação,
é como se no meio de uma seca abríssemos a torneira do açude
para todo mundo lavar seu carro e o passeio de casa.
3) Os contratos dos serviços
de banda larga prometem grandes larguras de banda, mas nas cláusulas
em letras menores geralmente só garantem 10% disso. Ora, 10% de
256 k é bem pouco para quem tem modem 56k. A razão dessa
garantia mínima é que as empresas sabem: quanto maior o número
de usuários no serviço, a largura de banda vai sendo dividida
entre eles e portanto diminuindo. E não há garantias de que
os investimentos na ampliação do sistema acompanhem a demanda,
a prova são os tais 10% citados no contrato.
4) Não está
sendo divulgado aos usuários que a banda larga é só
entre eles e o provedor de acesso. Daí por diante, todos caem na
vala comum dos backbones nacionais e internacionais. Que maravilha baixar
os e-mails a jato e depois esperar como os demais mortais por uma
simples página web vinda de outro país...
5) Há um problema de
segurança em serviços que usam cabos de TV: outra pessoa
que use o mesmo cabo pode usar ferramentas de invasão de sistemas
e acompanhar mais facilmente o tráfego gerado pelo sistema invadido.
6) Quem está adquirindo
sistemas de banda larga do tipo empresarial - que tem portas abertas para
uso como servidor (tornando-se portanto, potencialmente, um provedor de
Internet) - nem sempre está ciente dos riscos inerentes, pois o
uso de um provedor confiável funciona como um firewall para
o cliente, e se a pessoa ou empresa se torna provedora ela mesma, desintermediando
o processo, precisará ter um cuidado extra pois ficará diretamente
exposta ao ataque de invasores de sistemas. Nem todos estão cientes
disso e só vão descobrir tarde demais...
7) Muitas empresas provedoras
de Internet já não estão aguentando os investimentos
em infra-estrutura de telecomunicações. Inclusive as grandes.
Banda larga para todos os usuários obriga as empresas a investimentos
pesadíssimos, e o maior lucro fica para as teles, que de alguma
forma vão acabar engolindo os provedores, seja por tirar diretamente
seus clientes, seja através das tarifas que os provedores pagam
a elas pela banda consumida. Vejo no horizonte o risco de um quase monopólio,
de práticas de dumping etc.
8) Sobre dumping, caberia
à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
começar a agir. Novo Milênio sabe, por exemplo, de
um provedor que vem sendo enrolado pela Telefônica para a instalação
do sistema, já contratado há vários meses. Enquanto
isso, o usuário de Internet que solicitar o serviço de modem
rápido é convidado a mudar de provedor, primeiro para o Terra
- que tem parceria com a Telefônica -, depois para algum outro da
lista de provedores cadastrados na empresa, numa prática que configura
o abuso de poder econômico, o tal dumping. A Telefônica
não tem o direito de indicar que o usuário mude de provedor
e se cadastre no Terra, ao mesmo tempo que adia indefinidamente a instalação
do sistema em outros provedores. Se a empresa não tem capacidade
para fazer todas as instalações necessárias e solicitadas,
não deve oferecer o serviço, sob pena de incorrer em ilícitos
como o citado. |